sexta-feira, 20 de julho de 2007

Namoro

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado

e com letra bonita eu disse ela tinha

um sorrir luminoso tão quente e gaiato

como o sol de Novembro brincando

de artista nas acácias floridas

espalhando diamantes na fímbria do mar

e dando calor ao sumo das mangas

Sua pele macia - era sumaúma...

Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas

sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo

tão rijo e tão doce - como o maboque...

Seus seios, laranjas - laranjas do Loje

seus dentes... - marfim...

Mandei-lhe essa carta

e ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão

que o amigo Maninho tipografou:

"Por ti sofre o meu coração"

Num canto - SIM,

noutro canto - NÃO

E ela o canto do NÃO dobrou

Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete

pedindo, rogando de joelhos no chão

pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigenia,

me desse a ventura do seu namoro...

E ela disse que não.

Levei á Avo Chica, quimbanda de fama

a areia da marca que o seu pé deixou

para que fizesse um feitiço forte e seguro

que nela nascesse um amor como o meu...

E o feitiço falhou.

Esperei-a de tarde, á porta da fabrica,

ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,

paguei-lhe doces na calçada da Missão,

ficamos num banco do largo da Estátua,

afaguei-lhe as mãos...

falei-lhe de amor...

e ela disse que não.

Andei barbudo, sujo e descalço,

como um mona-ngamba.

Procuraram por mim

"-Não viu...(ai, não viu...?) não viu Benjamim?"

E perdido me deram no morro da Samba.

Para me distrair

levaram-me ao baile do Sô Januario

mas ela lá estava num canto a rir

contando o meu caso

as moças mais lindas do Bairro Operário.

Tocaram uma rumba - dancei com ela

e num passo maluco voamos na sala

qual uma estrela riscando o céu!

E a malta gritou: "Aí Benjamim !"

Olhei-a nos olhos - sorriu para mim

pedi-lhe um beijo - e ela disse que sim.

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