segunda-feira, 30 de julho de 2007

Os treze anos (Cantilena)

Já tenho treze anos,
que os fiz por Janeiro;
madrinha, casai-me
com Pedro Gaiteiro.

Já sou mulherzinha;
já trago sombreiro;
já bailo ao Domingo,
co' as mais no terreiro.

Já não sou Anita,
como era primeiro,
sou a senhora Ana,
que mora no oiteiro.

Nos serões já canto,
nas feiras já feiro,
já não me dá beijos
qualquer passageiro.

Quando levo as patas,
e as deito ao ribeiro,
olho tudo à roda
de cima do oiteiro;

E só se não vejo
ninguém pelo arneiro,
me banho co' as patas
ao pé do salgueiro.

Miro-me nas águas
rostinho trigueiro,
que mata de amores
a muito vaqueiro.

Miro-me, olhos pretos
e um riso fagueiro,
que diz a cantiga
que são cativeiro.

Em tudo, madrinha,
já por derradeiro,
me vejo mui outra
da que era primeiro.

O meu gibaão largo
de arminho e cordeiro,
já o dei à neta
do Brás cabaneiro,

Dizendo-lhe: "Toma
gibão domingueiro,
de ilhoses de prata,
de arminho e cordeiro.

"A mim já me aperta,
e a ti te é laceiro;
tu brincas co' as outras
e eu danço em terreiro."

Já sou mulherzinha;
já trago sombreiro;
já treze anos,
que os fiz em janeiro.

Já não sou Anita,
sou a Ana do oiteiro;
madrinha, casai-me
com Pedro Gaiteiro.

Não quero o sargento,
que é muito guerreiro,
de barbas mui feras,
e olhar sobranceiro.

O mineiro é velho;
não quero o mineiro;
mais valem treze anos
que todo o dinheiro.

Tão-pouco me agrado
do pobre moleiro,
que vive na azenha
como um prisioneiro.

Marido pretendo
de humor galhofeiro,
que viva por festas,
que brilhe em terreiro.

Que em ele assomando
co' o tamborileiro,
logo se alvorote
o lugar inteiro;

Que todos acorram
por vê-lo primeiro,
e todas perguntem
se inda é solteiro.

E eu sempre com ele,
romeira e romeiro,
vivendo de bodas,
bailando ao pandeiro.

Ai, vida de gostos!
ai, céu verdadeiro!
ai, páscoa florida,
que dura ano inteiro!

Da parte, madrinha,
de Deus vos requeiro:
casai-me hoje mesmo
com Pedro Gaiteiro.

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