segunda-feira, 30 de julho de 2007

Bela Infanta

Estava a bela Infanta
No seu jardim assentada,
Com o pente de oiro fino
Seus cabelos penteava.
Deitou os olhos ao mar,
Viu vir uma enorme armada;
Capitão que nela vinha,
Muito bem que a governava.
- Dize-me, ó capitão
Dessa tua nobre armada,
Se encontraste meu marido
Na terra que Deus pisava?
"Anda tanto cavaleiro
Naquela terra sagrada...
Dize-me tu, ó senhora,
As senhas que ele levava.
- Levava cavalo branco,
Selim de prata doirada;
Na ponta da sua lnaç
A cruz de Cristo levava.
"Pelos sinais que me deste
Lá o vi numa estacada
Morrer morte de valente:
Eu sua morte vingava."
- Ai triste de mim viúva,
Ai triste de mim coitada!
De três filhinhas que tenho.
Sem nenhuma ser casada!...
"Que darias tu, senhora,
A quem no trouxera aqui?
- Dera-lhe oiro e prata fina,
Quanto riqueza há por hi.
"Não quero oiro nem prata,
Não nos quero para mi:
Que darias mais, senhora,
A quem no trouxera aqui?
- De três moinhos que tenho,
Todos três tos dera a ti;
Um mói o cravo e a canela,
Outro mói do gerzeli:
Rica farinha que fazem!
Tomara-os el-rei p'ra si.
"Os teus moinhos não quero,
Não nos quero para mi:
Que darias mais, senhora,
A quem to trouxera aqui?
- As telhas do meu telhado
Que são oiro e marfim.
"As telhas do teu telhado
Não nas quero para mi:
Que darias mais, senhora
A quem no trouxera aqui?
- De três filhas que eu tenho,
Todas três te dera a ti:
Uma para te calçar,
Outra para te vestir
A mais formosa de todas
Para contigo dormir.
"As tuas filhas, infanta,
Não são damas para mi:
Dá-me outra coisa, senhora;
Se queres que o traga aqui.
- Não tenho mais que te dar,
Nem tu mais que me pedir.
"Tudo, não, senhora minha,
Que ainda te não deste a ti.
- Cavaleiro que tal pede,
Que tão vilão é de si.
Por meus vilões arrastado
O farei andar aí
Ao rabo do meu cavalo,
À volta do meu jardim.
Vassalos, os meus vassalos,
Acudi-me agora aqui!
"Este anel de sete pedras
Que eu contigo reparti...
Que é dela a outra metade?
Pois a minha, vê-la aí!
- Tantos anos que chorei,
Tantos sustos que tremi!...
Deus te perdoe, marido,
Que me ias matando aqui.

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