terça-feira, 31 de março de 2009

O verbo amar

Te amei: era de longe que te olhava
e de longe me olhavas vagamente...
Ah, quanta coisa nesse tempo a gente sente,
que a alma da gente faz escrava.

Te amava: como inquieto adolescente,
tremendo ao te enlaçar, e te enlaçava
adivinhando esse mistério ardente
do mundo, em cada beijo que te dava.

Te amo: e ao te amar assim vou conjugando
os tempos todos desse amor, enquanto
segue a vida, vivendo, e eu, vou te amando...

Te amar: é mais que em verbo é a minha lei,
e é por ti que o repito no meu canto:
te amei, te amava, te amo e te amarei!


Há esta angústia de ser humano

Há esta angústia de ser humano
quando os répteis se entrincheiram no lodaçal
e os vermes se preparam para devorar uma linda criança
em indecorosa orgia de crueldade

e há esta alegria de ser humano
quando a manhã avança suave e forte
sobre a embriaguez sonora do cântico da terra
apavorando vermes e répteis

e entre a angústia e a alegria
um trilho imenso do Níger ao Cabo
onde marimbas e braços tambores e braços vozes e braços

harmonizam o cântico inaugural da nova África.


SILENCIO Y LEJANÍA

Vino, me amó y partió; dejó a su paso
plenitudes, placeres y vacíos;
se perdió como el sol en el ocaso,
como se pierden en el mar los ríos. 

Ha de tener el sol otra alborada,
y aunque el río se va, también se queda;
pero de aquella fiera llamarada,
ni el recuerdo quizá en su mente rueda. 

Mantúvose en silencio y lejanía
como quien duerme en brazos de la muerte;
y yo permanecí esperando el día
en que de nuevo su alma se despierte. 

Y si al abrir sus ojos al pasado
se detienen en mí por un momento,
tal vez vuelva su amor arrebatado
a producir un nuevo ofrecimiento. 

Y aquí estaré, en deseos y temblores,
sin recriminaciones, ni exigencia,
para dar nueva vida a aquellas flores
que a punto estuvo de agostar la ausencia.

Fonte: Blogue: Poemas del Alma

A minha lira mulata

A minha lira mulata
tem acordes tão amantes
que eu julgo serem de prata
as suas cordas vibrantes.

porque fiz d’ela mulher
tem lábios cor de “pitanga”,
da “pitanga” de comer,
com adornos de missanga.

E os seus braços tão nervosos
são dois ramos de palmeira,
que me abraçam, duvidosos,
e me prendem de maneira,

que eu não sei qual é melhor,
se os seus beijos de “muamba”,
se o “jindungo” deste amor…
- amor mulato… pitanga!

Tomaz Vieira da Cruz (1900-1960) - Natural de Constança, no Ribatejo, viveu desde 1924 em Angola. Tem colaboração em vários jornais e revistas, de Angola e Portugal. Em 1950 funda no Sumbe (ex-Novo Redondo) o jornal “Mocidade”. É considerado um dos precursores da literatura angolana.


Uatoála

E tu, que não calculas o tormento
que sofre quem assim te vê fugir,
começas lá de longe então a rir
em quanto preza sou do desalento…

E eu, que dava a vida n’um momento
por só um beijo teu poder fruir,
quizera a tua imagem ver sumir
p’ra sempre no voraz esquecimento…

Mas quando tu me vez desanimado,
o meu olhar sem luz embaciado,
com o peito arquejante e preza a falla;

vens assentar-te logo ao pé de mim,
e um beijo, um beijo teu me dás por fim
dizendo com meiguice: - Uatoála…


segunda-feira, 30 de março de 2009

Entardecer

um barco que passa uma ave que voa
um azul que fica na retina
um rosto que sonha numa canoa

um barco que passa uma ave que voa
um desejo que fica pelo ar
azul e penetrante como o ar

passa o barco lentamente
passa a tarde passa a vida
e um vulto que ao passar canta baixinho

existe ao um ar tranquilo
sossegado como buda de marfim
quem disse que ali era a cidade!

um barco que passa uma ave que voa
um azul que fica na retina
um rosto que sonha numa canoa.


Henrique Guerra (1937)

Dei asas ao azedume

Dei asas ao azedume.
Saciei-me, a poder d'ácido!

(Permita Deus que se esfume,
do átrio deste volume,
qualquer perfume a prefácio...)

— ... Dá-me licença que fume,
Senhor Conselheiro Acácio?...
Tem lume, aí? Dá-me lume?...
(Com o seu beneplácito,

Vou pegar fogo ao negrume:
dar-lhe o fascínio d’um fascio
— como o que ardeu em Fiume,
como os que arderam no Lácio!...)

Já, contudo, subo ao cume
do desencanto mais árido.
— Por costume? — Por costume.
— Mau costume... — Questão d'hábito!

Ando a ver se arranjo lume
violento, e violáceo,
para o queimar sem queixume —
Senhor Conselheiro Acácio!

(Trespasso-o a fio de gume,
cravo em si inglório gládio;
à espera que se aprume
e se apronte em seu cenário
— entaipo-o, então, num tapume,
sem direito a epitáfio).

E bem se me dá que espume
de raiva, e esperneie ao máximo —
seu galinácio implume...
Seu palhaço de palácio!

Contra a prosápia que assume,
criei crosta de crustáceo.
Haja o que houver, fico imune:
fico impávido e plácido.

(— Desafio-o a que vislumbre
coração mais coriáceo
do que este meu, que reune
o romântico e o clássico...)

... Dá-me licença que fume,
Senhor Conselheiro Acácio?...
Tem lume, aí? Dá-me lume?...
— Sem o seu beneplácito,

vou pegar fogo ao negrume:
dar-lhe o fascínio d’um fascio
— como o que ardeu em Fiume,
como os que arderam no Lácio!...


A Fala de Nun`Álvares por Silva Tavares

via nonas de nonas em 29/03/09
A FALA DE NUNALVARES


Eu só com meus vassalos e com esta,
— dizendo isto arranca meia espada —
defenderei da força dura e infesta
a Terra nunca d`outrem subjugada.
Lusíadas – Camões.


A Alma de Nunalvares, disperta
para a Hora que passa, — lá do Além
quis falar à minh`alma sempre aberta
em prol da minha Terra e minha Mãe!...

Chegou junto de mim ao sol poente,
e ante a minha ancestral meditação,
surgiu, um símbolo d`honra transcendente,
evocando a nobreza e a tradição!...

E erguendo a fronte altiva, que alumia
inda hoje nas trevas esta Raça,
falou de decadência e nostalgia
numa voz repassada de desgraça...

— E disse: — «Uni-vos todos, Portugueses!...
Libertai da descrença, já funesta,
a Pátria que exaltei, por tantas vezes,
eu só, com meus vassalos e com esta!...

Uni-vos, como irmãos, perante a Hora,
trabalhai, progredi p`la Terra amada...
Ah! não poder ressuscitar agora!...»
E dizendo isto, arranca meia espada.

«Sêde um só corpo, e novos Prometeus
nunca vencidos... Minha glória atesta
que, por meu lado, a Pátria, junto a Deus,
defenderei da força dura e infesta!...

Uni-vos, quando não vereis um dia
p`la dissenção mesquinha e mal pensada,
perder-se, qual se perde a luz do dia,
a Terra nunca d`outrem subjugada!...
...................................................................

E aquela voz de Santo, a soluçar,
sumiu-se como o sol... Mas, de surpresa,
ergueu-se a lua e desfolhou-se em luar,
sagrando toda a Terra Portuguesa!

Silva Tavares
06.10.1922.
In Cruzada Nacional Nun`Álvares, Ano I, Novembro de 1922, pág. 20.

sábado, 28 de março de 2009

Eu amei

Eu amei
Eu amei, ai de mim, muito mais
Do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar

Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei em você a razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz

Fonte: Boogue AMORE - post de 27Mar2009

sexta-feira, 27 de março de 2009

Ai quem me dera, terminasse a espera

Ai quem me dera, terminasse a espera
E retornasse o canto simples e sem fim...
E ouvindo o canto se chorasse tanto
Que do mundo o pranto se estancasse enfim

Ai quem me dera percorrer estrelas
Ter nascido anjo e ver brotar a flor
Ai quem me dera uma manhã feliz
Ai quem me dera uma estação de amor

Ah! Se as pessoas se tornassem boas
E cantassem loas e tivessem paz
E pelas ruas se abraçassem nuas
E duas a duas fossem ser casais

Ai quem me dera ao som de madrigais
Ver todo mundo para sempre afins
E a liberdade nunca ser demais
E não haver mais solidão ruim

Ai quem me dera ouvir o nunca mais
Dizer que a vida vai ser sempre assim
E finda a espera ouvir na primavera
Alguem chamar por mim...

Fonte: Blogue AMORE - post de 26Mar2009

O COLONO

Veio trazido nos braços das miragens
de oiro sobre azul,
de oiro qu sol punha nas paisagens
do desertos do Sul...

Troxe- um sonho lindo que ficou
nas botas de suor com que regou
a terra esbraseada.

Arrastou-o a trágica ilusão
que um dia lhe pôs em cada mão
a foice e a enxada.

Veio e ficou...

Foi cavaleiro andante nas anharas
irmãs gémeas das searas
da terra que o gerou.

Pôs em cada semente que lançou
uma oração
e em cada sulco que abriu no chão
foi semeando a esmo
farrapos d'alma, pedaços de si mesmo
como quem se coloca a sí mesmo num caixão

E mesmo assim ficou...

Comeu o pão que o diabo amassou
com lágrimas e fel
e febre, e gritos
contra o calor cruel,
o sol e a sede
e a fome que passou
pelos atalhos malditos
das florestas virgens
e as vertigens
que Leste lhe soprou
na face envelhecida.

E mesmo assim, ficou...

E um dia a terra esquiva abriu-lhe os braços
e do seio ruim,
num milagre de amor,
a virgem possuída
brotou em caule, rebentou em flor
e concebeu em milheirais sem fim.

Ele ficou então p'ra toda a vida...

(Helder Duarte de Almeida - filho de Moçâmedes)
Fonte: Blogue "Gente da Minha Terra" - post de 26Mar2009

quinta-feira, 26 de março de 2009

Traze-me um pouco das sombras serenas

Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.

Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.

Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
- Vê que nem te digo - esperança!
- Vê que nem sequer sonho - amor!

Fonte: Blogue AMORE - post de 25Mar2009

quarta-feira, 25 de março de 2009

Fundación mítica de Buenos Aires

¿Y fue por este río de sueñera y de barro
que las proas vinieron a fundarme la patria?
Irían a los tumbos los barquitos pintados
entre los camalotes de la corriente zaina.

Pensando bien la cosa, supondremos que el río
era azulejo entonces como oriundo del cielo
con su estrellita roja para marcar el sitio
en que ayunó Juan Díaz y los indios comieron.

Lo cierto es que mil hombres y otros mil arribaron
por un mar que tenía cinco lunas de anchura
y aún estaba poblado de sirenas y endriagos
y de piedras imanes que enloquecen la brújula.

Prendieron unos ranchos trémulos en la costa,
durmieron extrañados. Dicen que en el Riachuelo,
pero son embelecos fraguados en la Boca.
Fue una manzana entera y en mi barrio: en Palermo.

Una manzana entera pero en mitá del campo
expuesta a las auroras y lluvias y suestadas.
La manzana pareja que persiste en mi barrio:
Guatemala, Serrano, Paraguay, Gurruchaga.

Un almacén rosado como revés de naipe
brilló y en la trastienda conversaron un truco;
el almacén rosado floreció en un compadre,
ya patrón de la esquina, ya resentido y duro.

El primer organito salvaba el horizonte
con su achacoso porte, su habanera y su gringo.
El corralón seguro ya opinaba YRIGOYEN,
algún piano mandaba tangos de Saborido.

Una cigarrería sahumó como una rosa
el desierto. La tarde se había ahondado en ayeres,
los hombres compartieron un pasado ilusorio.
Sólo faltó una cosa: la vereda de enfrente.

A mí se me hace cuento que empezó Buenos Aires:
La juzgo tan eterna como el agua y el aire.


Fonte: Poemas del Alma

terça-feira, 24 de março de 2009

Poema aos Amigos

Não posso dar-te soluções
Para todos os problemas da vida,
Nem tenho resposta
Para as tuas dúvidas o temores,
Mas posso ouvir-te
E compartilhar contigo.

Não posso mudar
O teu passado nem o teu futuro.
Mas quando necessitares de mim
Estarei junto a ti.

Não posso evitar que tropeces,
Somente posso oferecer-te a minha mão
Para que te sustentes e não caias.

As tuas alegrias
Os teus triunfos e os teus êxitos
Não são os meus,
Mas desfruto sinceramente
Quando te vejo feliz.

Não julgo as decisões
Que tomas na vida,
Limito-me a apoiar-te,
A estimular-te
E a ajudar-te sem que me peças.

Não posso traçar-te limites
Dentro dos quais deves actuar,
Mas sim, oferecer-te o espaço
Necessário para cresceres.

Não posso evitar o teu sofrimento
Quando alguma mágoa
Te parte o coração,
Mas posso chorar contigo
E recolher os pedaços
Para armá-los novamente.

Não posso decidir quem foste
Nem quem deverás ser,
Somente posso
Amar-te como és
E ser teu amigo.

Todos os dias, penso
Nos meus amigos e amigas,
Não estás acima,
Nem abaixo nem no meio,
Não encabezas
Nem concluís a lista.
Não és o número um
Nem o número final.

E tão pouco tenho
A pretensão de ser
O primeiro
O segundo
Ou o terceiro
Da tua lista.

Basta que me queiras como amigo
Obrigado por seres meu amigo.

Fonte: Blogue "O Lupango da Jinha" - post de 23Mar2009

O mágico número PI

pi
Arco cujo coseno é menos um;
dois arcos cujo seno é um;
quatro arcos cuja tangente é um;
menos i logaritmo de menos um;
área de um círculo de raio um;
perimetro de uma circunferência de diâmetro um.

Com o primo três te confundiram,
pelo famoso vinte e dois sétimos te aproximaram
E hoje, o impensável conseguiram:
milhões de dígitos teus se encontraram

Surges em muitas expressões
Já foste utilizado por biliões
Serviste de inspiração a escritores
Engenheiros,Matemáticos,Físicos...e amadores
Mas...

Muito depois de nós, continuarás por aqui.
Muito mais se saberá de ti.
Porque para sempre serás o magnífico número pi!

Fonte: http://matemaniaco.no.sapo.pt/whatever/pi.html in Blogue "Links Intenressantes - post de 24Mar2009

segunda-feira, 23 de março de 2009

Fico Sozinho com o Universo Inteiro

Fico Sozinho com o Universo Inteiro
Começa a haver meia-noite, e a haver sossego,
Por toda a parte das coisas sobrepostas,
Os andares vários da acumulação da vida...
Calaram o piano no terceiro andar...
Não oiço já passos no segundo andar...
No rés-do-chão o rádio está em silêncio...

Vai tudo dormir...

Fico sozinho com o universo inteiro.
Não quero ir à janela:
Se eu olhar, que de estrelas!
Que grandes silêncios maiores há no alto!
Que céu anticitadino! —
Antes, recluso,
Num desejo de não ser recluso,
Escuto ansiosamente os ruídos da rua...
Um automóvel — demasiado rápido! —
Os duplos passos em conversa falam-me...
O som de um portão que se fecha brusco dóí-me...

Vai tudo dormir...

Só eu velo, sonolentamente escutando,
Esperando
Qualquer coisa antes que durma...
Qualquer coisa.

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Fonte. Blogue "A defesa de Faro" -post de 07Mar2009

LA AUSENCIA DEL OLVIDO

A Lola

Iba llorando la Ausencia
con el semblante abatido
cuando se encontró en presencia
del Olvido,
que al ver su faz marchitada,
le dijo con voz turbada:
sin colores,
—«Ya no llores niña bella,
ya no llores,
que si tu contraria estrella
te oprime incansable y ruda,
yo te prometo mi ayuda
contra tu mal y contra ella».

Oyó la Ausencia llorando
la propuesta cariñosa,
y los ojos enjugando
ruborosa,
—«Admito desde el momento,
buen anciano»
—le dijo con dulce acento—
«admito lo que me ofreces
y que en vano
he buscado tantas veces,
yo que triste y sin ventura,
la copa de la amargura
he apurado hasta las heces».

Desde entonces, Lola bella,
cariñosa y anhelante
vive el Olvido con ella,
siempre amante;
y la Ausencia ya ni gime,
ni doliente
recuerda el mal que la oprime;
que un amor ha concebido
tan ardiente
por el anciano querido,
que si sus penas resiste,
suspira y llora muy triste
cuando la deja el Olvido.

Fonte: Poemas del Alma

sábado, 21 de março de 2009

A invenção do amor

A invenção do amor

via cinco dias de Paulo Jorge Vieira em 21/03/09

No "dia mundial da poesia" um extracto de um dos mais belos poemas do século XX.

Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas
janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de
aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da
nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor

Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher`
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com caracter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia
quotidiana

Daniel Filipe - (1925-1964) in A Invenção do Amor e Outros Poemas
Lisboa, Presença, 1972

Nun'Álvares Pereira

Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
faz que o ar alto perca
seu azul negro e brando.

Mas que espada é que, erguida,
faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
que o Rei Artur te deu.

'Sperança consumada,
S. Portugal em ser,
ergue a luz da tua espada
para a estrada se ver!

(Fernando Pessoa, MENSAGEM)
Fonte: Blogue "O sexo dos Anjos" - post de 25Fev2009

quinta-feira, 19 de março de 2009

É tão bom ter alguém por perto

É tão bom ter alguém por perto
Pra você se sentir completo
Ter a mão que te leva pro futuro
Vislumbrando um horizonte seguro

É tão bom viajarmos juntos
E viver aproveitando tudo
Amanhã vai ser melhor que hoje
Novos sonhos ao amanhecer

Imagino bem longe sorrisos
Cada um com seu jeito de ser
Mas ligados no mesmo destino
Com amor feito eu e você

O céu e o mar, a lua e a estrela
O branco e o preto, tudo se completa de algum jeito
Homem, mulher
A faca e o queijo, o incerto e o perfeito
Tudo se completa de algum jeito...

Fonte: Blogue "AMORE" - post de 18Mar2009

quarta-feira, 18 de março de 2009

Stefanía, 1999

Hablaba varios idiomas
polaco, español, lituano,
alemán, latín, inglés,
apenas pudimos decirnos algo
en todos estos años

hay un mesa entre nosotras
aquí sentamos todo lo que de ambas no sabemos

tengo un diccionario
hiszpansko-polski
una guía turística
de lugares que no sé pronunciar el nombre
ella está sentada
al borde de sus últimos silencios
y pienso en algo que pueda unirnos:
lo lejano que se siente
lo que no puede decirse, tal vez
o que a ninguna
nos hayan servido de nada las palabras

pero no encuentro nada para decirle
y ella guardó para sí lo impronunciable.

Ahora casi no habla
en ningún idioma
dice que todos los ha olvidado
dice que el dolor es en polaco
y todo lo demás sobrevivencias.

Fonte: Poemas del Alma

La poesía

Y FUE a esa edad... Llegó la poesía
a buscarme. No sé, no sé de dónde
salió, de invierno o río.
No sé cómo ni cuándo,
no, no eran voces, no eran
palabras, ni silencio,
pero desde una calle me llamaba,
desde las ramas de la noche,
de pronto entre los otros,
entre fuegos violentos
o regresando solo,
allí estaba sin rostro
y me tocaba.

Yo no sabía qué decir, mi boca
no sabía
nombrar,
mis ojos eran ciegos,
y algo golpeaba en mi alma,
fiebre o alas perdidas,
y me fui haciendo solo,
descifrando
aquella quemadura,
y escribí la primera línea vaga,
vaga, sin cuerpo, pura
tontería,
pura sabiduría
del que no sabe nada,
y vi de pronto
el cielo
desgranado
y abierto,
planetas,
plantaciones palpitantes,
la sombra perforada,
acribillada
por flechas, fuego y flores,
la noche arrolladora, el universo.

Y yo, mínimo ser,
ebrio del gran vacío
constelado,
a semejanza, a imagen
del misterio,
me sentí parte pura
del abismo,
rodé con las estrellas,
mi corazón se desató en el viento.

Fonte: Poemas del Alma

segunda-feira, 16 de março de 2009

Reflexões

via Do Mirante de ajoaosoares@gmail.com (A. João Soares) em 20/02/09
REFLEXÕES

Portugal é um País,
Onde qualquer badameco
Pouco mais que analfabeto
Se julga gente importante,
E ocupa os mais altos cargos
Fazendo dos outro parvos,
Ainda que mentes brilhantes.

Basta para isso que seja:
Republicano assumido,
Filiado num partido
Que se diga anti-Igreja,
E que tenha na inveja
O seu prato preferido.

P´ra o curriculo sublimar,
Deverá acrescentar:
Ser desertor militar,
Anti-guerra do Ultramar,
Dizer mal de Salazar,
- Se for mulher abortar -
E alguma vez ter sido
Pela PIDE perseguido.

Se a isto adicionar
A aptidão especial
De ex-preso do Tarrafal,
Não tem nada que enganar:
Neste País pervertido,
- Onde a virtude é pecado -
Tem futuro garantido
E será condecorado !!

Março de 2007
V.C. (O Poeta de Fornos de Algodres)

domingo, 15 de março de 2009

Tive sorte...

Tive sorte
Sorte de ter nascido onde nasci
de ter tido a família que tive
de ter crescido onde cresci
Sorte de ter os amigos que tive

Sorte de ter vivido onde vivi
de ter acreditado no que acreditei
de ter vivido na época em que vivi
Sorte de ter pensado o que pensei

Sorte de ter vivido o que vivi
de ter chorado o que chorei
de ter vivido com quem vivi
Sorte de ter amado quem tanto amei

Sorte que assim guardo para sempre
valendo mais que todo o ouro
Lembra; tudo o que acima disse,
como o meu mais valioso tesouro.

Fonte: 1 - Viagem Pela História de Angola de 09Jun2007

sábado, 14 de março de 2009

Silencios

Para Julio Pacheco Rivas

¿Dónde están las voces?
¿Qué pasó con la mirada?
del amor
¿Qué noticias tenemos?
La ciudad vive para sí misma
Plazas edificios avenidas
objetos sin uso
y sin denominación
carentes de alguien que los nombre
ejercen un señorío
parecido a la muerte
cercano a la indiferencia y al olvido
Un silencio largo
de autopista deshabitada
se suma al coro de mudeces
que aturde restaurantes y mercados
La palabra no existe
se la comió el color
el espacio la luz
el peso de la ausencia
vuelve sobre sus pasos
el tiempo
va y viene transcurre solícito
marcando horas sin destinatario
en ciudades privadas de prisas y contemplaciones

Nadie respira ninguno jadea
se perdieron los latidos
el calor del cuerpo
las apetencias de la carne
el sabor del beso y la saliva
el orgasmo de humedades compartidas
sólo nos queda un recuerdo esta muerte
que también se va diluyendo

Fonte: Poemas del Alma

sexta-feira, 13 de março de 2009

AO RIO LUACHIMO


Fecho os olhos e vejo aquela paisagem
Tão longínqua, de tardes amenas;
Meu Luachimo, ladeado de arvores serenas
Que saudade…havia magia na tua margem

Tardes inesquecíveis, tão quentes…
Sentidas como uma canção…
Eu cantei ao rio e seus afluentes
Como se fora uma oração…

Cantavam as aves como uma sinfonia,
Havia alegria, o dia ia desfalecendo
Por aquelas horas felizes, eu partia…

Tardes da minha mocidade…não esqueço
E, no seu remanso, o rio ia correndo,
Fecho os olhos em êxtase permaneço…

Fonte: Blogue "Lupango da Jinha" - post de 27Fev2009

quinta-feira, 12 de março de 2009

Porque o único sentido oculto das cousas

Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as cousas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.

Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: —
As cousas não têm significação: têm existência.
As cousas são o único sentido oculto das cousas.

Fonte: Blogue AMORE - post de 10Mar2009

quarta-feira, 11 de março de 2009

OJOS VERDES

Ojos que nunca me veis,
por recelo o por decoro,
ojos de esmeralda y oro,
fuerza es que me contempléis;
quiero que me consoléis
hermosos ojos que adoro;
¡estoy triste y os imploro
puesta en tierra la rodilla!
¡Piedad para el que se humilla,
ojos de esmeralda y oro!

Ojos en que reverbera
la estrella crepuscular,
ojos verdes como el mar,
como el mar por la ribera,
ojos de lumbre hechicera
que ignoráis lo que es llorar,
¡glorificad mi penar!
¡No me desoléis así!
¡Tened compasión de mí!
¡Ojos verdes como el mar!

Ojos cuyo amor anhelo
porque alegra cuanto alcanza,
ojos color de esperanza,
con lejanías de cielo:
ojos que a través del velo
radian bienaventuranza,
mi alma a vosotros se lanza
en alas de la embriaguez,
miradme una sola vez,
ojos color de esperanza.

Cese ya vuestro desvío,
ojos que me dais congojas;
ojos con aspecto de hojas
empapadas de rocío.
Húmedo esplendor de río
que por esquivo me enojas.
Luz que la del sol sonrojas
y cuyos toques son besos,
derrámate en mí por esos
ojos con aspecto de hojas.

Fonte: Poemas del Alma

terça-feira, 10 de março de 2009

CASTAS

Malvasia fina
Vistosa menina

Malvasia Rei
Como sabe bem

Uva Touriga
Doce rapariga

Uva Moscatel
Lábios de mel

Uva Mourisca
Mulher arisca

Tinto Cão
Dá um vinhão

Uva Trincadeira
Forte bebedeira

Uva Bastardo
Flor roxa do cardo

Uva Moreto
Cacho branco e preto

Tinta Barroca
Bêbado na toca

Uva Castelão
Aquece o coração

Tinta miúda
Que ninguém se iluda

Em pipa velha ou nova
De caixão à cova

Tinta Roriz
Ícone de um país

Uva Aragonês
Vinho português

Fonte: Blogue: "O Olhar de Xisto" - post de 08Mar2009

domingo, 8 de março de 2009

ESCUTA

Solta a tua voz, não tenhas medo
Não cultives a flor da solidão.
Tens vontade tão firme, qual rochedo
Na chama que te aquece o coração.

Tens em ti força p’ra mover montanhas
Grita aos quatro ventos, a poesia.
Em tua alma, as belezas são tamanhas
Como o sol que renasce dia a dia.

São de vidro as paredes da cadeia,
Correntes que te prendem, mera teia
Onde algemas ideias, com receio
Da incompreensão que encontras de permeio

Olha que não há eco sem barreiras.
Audácia te proteja além fronteiras.
É hora de quebrares esse mutismo.
Só em ti, no medo, está o abismo.

É mero sulco, o fosso que te isola
O herói, não se rende, nem se imola.
Faz de espelho, reflecte a lua
A esperança que te é peculiar

A luz que tens no peito e não é tua
Que outro espelho, essa luz vá encontrar
E outro, e outro, sempre, sem parar
E o mundo inteiro hás-de iluminar.

Fonte: Gente do meu Tempo

sábado, 7 de março de 2009

Antes

...Antes,

Nada havia,
Eu não sabia,
Da emoção que existia
Eu não podia,
Escrever, ou fazer poesia

Antes,

Bem antes, de você,
Meu coração, acho que não batia

Fonte: Blogue "AMORE" - post de 06Mar2009

quinta-feira, 5 de março de 2009

Rir é arriscar parecer tolo...

Rir é arriscar parecer tolo...
Chorar é arriscar parecer sentimental...
Tentar alcançar alguém, é arriscar envolvimento...
Expor sentimentos, é arriscar rejeição...
Expor seus sonhos perante a multidão, é arriscar parecer ridículo...
Amar, é arriscar não ser amado de volta...
Seguir adiante face a probabilidades irresistíveis, é arriscar ao fracasso...
E apenas uma pessoa que corre riscos, é livre...

Fonte: Blogue "AMORE" - post de 04Mar2009

Tira-me o pão, se quiseres

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.


Pablo Neruda - 1904/1973
Fonte: Blogue "AMORE" - post de 04Mar2009

SONETO PARA ESPERARTE EN UNA CAFETERÍA

Resulta que la historia estaba escrita
cuando yo quise hacerla a mi manera.
Cuando yo no quería que volviera
resulta que la historia resucita.

Resulta que en el tiempo de la cita
tendrán que hacer un banco de madera.
Al corazón le viene bien la espera,
quién sabe si además la necesita.

Azafatas de vuelo alicortado
van del café a las piñas tropicales
por aires ciudadanos y ruidosos.

Arriba el tiempo nuevo ha presentado
sus fluorescentes luces credenciales
y enrolla pergaminos luminosos.

Fonte: Poemas del Alma

AMANECER

Una vez más reaparece
el día de ayer, ya dado
por muerto y por enterrado.
Otra vez desaparece

el silencio y me amanece
otra vez a nuestro lado.
No sé si será pecado.
A mí no me lo parece.

En este día cualquiera
párate a ver cómo canta,
antes que me vaya fuera,

mi corazón en tu mano
y tu boca en mi garganta
por la mañana temprano.

Fonte: Poemas del Alma

quarta-feira, 4 de março de 2009

O amor, quando se revela

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar.


Fonte: Poemas del Alma - post de 02Mar2009

Há certas horas, que só queremos a mão no ombro, o abraço apertado ou mesmo o estar ali

Há certas horas, em que não precisamos de um Amor...
Não precisamos da paixão desmedida...
Não queremos beijo na boca...
E nem corpos a se encontrar na maciez de uma cama...

Há certas horas, que só queremos a mão no ombro, o abraço apertado ou mesmo o estar ali, quietinho, ao lado...
Sem nada dizer...

Há certas horas, quando sentimos que estamos pra chorar, que desejamos uma presença amiga, a nos ouvir paciente, a brincar com a gente, a nos fazer sorrir...

Alguém que ria de nossas piadas sem graça...
Que ache nossas tristezas as maiores do mundo...
Que nos teça elogios sem fim...
E que apesar de todas essas mentiras úteis, nos seja de uma sinceridade
inquestionável...

Que nos mande calar a boca ou nos evite um gesto impensado...
Alguém que nos possa dizer:

Acho que você está errado, mas estou do seu lado...

Ou alguém que apenas diga:

Sou seu amor! E estou Aqui!


Fonte: Poemas del Alma

terça-feira, 3 de março de 2009

Amo-te tanto meu amor... não cante

Amo-te tanto meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te enfim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade

Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Fonte: Poemas del Alma - post de 04Mar2009

Dos cuerpos

Dos cuerpos frente a frente
son a veces dos olas
y la noche es océano.

Dos cuerpos frente a frente
son a veces dos piedras
y la noche desierto.

Dos cuerpos frente a frente
son a veces raíces
en la noche enlazadas.

Dos cuerpos frente a frente
son a veces navajas
y la noche relámpago.

Dos cuerpos frente a frente
son dos astros que caen
en un cielo vacío.

Fonte: Poemas del Alma

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