sexta-feira, 30 de abril de 2010

Soneto ao mar africano

Soneto ao mar africano

via Angola: os poetas by kinaxixi on 4/20/10
Ó grande mar, que banhas estas plagas
africanas, em ti ouço recados
dum mundo a outro mundo, nos teus brados
de prantos, risos, orações e pragas!

na dramática voz das tuas vagas,
escuto os que, nos séculos passados,
choraram nesse canto dos teus fados,
cantaram nesse choro em que te alagas…

na tua voz eu ouço o branco bravo,
que semeou Portugal nestes recantos
africanos, e ainda o negro escravo

- ao mesmo tempo indómito e servil –
que regou com seu sangue e com seus prantos
a semente fecunda do Brasil!

Los poderes del silencio

via Inventario by Lauren Mendinueta on 4/30/10
SILENCIO
Así como del fondo de la música
brota una nota
que mientras vibra crece y se adelgaza
hasta que en otra música enmudece,
brota del fondo del silencio
otro silencio, aguda torre, espada,
y sube y crece y nos suspende
y mientras sube caen
recuerdos, esperanzas,
las pequeñas mentiras y las grandes,
y queremos gritar y en la garganta
se desvanece el grito:
desembocamos al silencio
en donde los silencios enmudecen.
FESTIVAL DE LA PALABRA (San Juan de Puerto Rico)
Cuartel de Ballajá
2o Piso Sala de Debates:
Jueves 6 de mayo
* 5:00 p.m. - 6:00 p.m.: Debate: "El lugar de la poesía: Los poderes del silencio", con Lauren Mendinueta, Ángel Darío Carrero y Etnairis Rivera

Entradas relacionadas

terça-feira, 27 de abril de 2010

Manga, manguinha

via Angola: os poetas by kinaxixi on 4/4/10
A manga é um símbolo de áfrica:
no seu sabor
no seu aroma
na sua cor
na sua forma

a manga tem o feitio do coração!
a áfrica também.
tem um sabor forte, quente e doce!
a áfrica também.
tem um tom rubro-moreno
como os poentes e as queimadas
da minha terra apaixonada.

por isso te gosto e te saboreio
ó manga!
coração vegetal, doce e ameno.

tu és o amor do abacate
porque ele guarda no seu meio
um coração que por ti bate;

bate, bate, que bate!
ó manga, manguinha,
amor do abacate!

Meu corpo nu...

via Escritas da Alma by Helô Strega on 4/22/10

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Meditação

via Fernanda de Castro by António Quadros Ferro on 4/12/10
Esta noite foi longa. Longa e vária
de segredo e mistério. Noite densa.
Invisível, tirânica presença
povoou a minha noite solitária.

Ah, a insónia com longas mãos de opala
e fundos olhos cegos!
E o pensamento à solta como o vento
- montes e vales, oceanos, pegos!...
e a cabeça que estala,
a cabeça que estala!

Pensar! Como se o humano entendimento
para tanto chegasse! Meditar
em sofás de ridículas saletas
no sábio movimento dos planetas.
Filosofar, oh irrisão,
enquanto mal ou bem
se faz a digestão,
sobre a morte, o devir,
o mistério do ser e do não ser,
e tudo isto a sério, sem sorrir,
como se enfim tudo estivesse dito:
o Caos, a Criação, Deus e o Infinito.
E nem sequer escondes por decoro,
triste mortal com asas de besouro,
ó depenado arcanjo,
que te crês Deus ou pelo menos anjo.

Esta noite foi longa. Longa em mim,
auroral e lunar, sem princípio nem fim.
Meditação
inútil sobre as grades da prisão.
Meditação sobre a existência,
(Existirá ou não?,
ou será tudo simples aparência,
colectiva ilusão?)

Esta noite foi longa. Longa e bela,
calma e branca vigília.
Um fio de luar entrou pela janela
e um doce cheiro a tília.
Abstracções metafísicas, problemas?
O firmamento era um brocado azul bordado a ouro,
fabuloso tesouro
de incomparáveis gemas.
Tudo era silêncio, quietação.
Compreendi então
que o essencial não era compreender
mas sentir e aceitar
a vida e a morte, o bem e o mal,
a flor, o luar
e a ignorância total.
Não mais filosofias de vaidoso esteta
e não mais este orgulho: sou poeta.
Razão
tem-na, talvez, o louco sem razão,
tem-na o monge na cela,
o cego de nascença, a pedra, o sapo,
a boneca de trapo.
O mais é tudo igual: poetas, corifeus...

Esta noite foi longa. Longa e bela.
Encontrei Deus.

Fernanda de Castro - (Exílio, Livraria Bertrand, 1952)

domingo, 18 de abril de 2010

Quando os Trabalhadores perderem a paciência...

Quando os Trabalhadores perderem a paciência...

via Antologias by Frido on 4/17/10

As pessoas comerão três vezes ao dia
E passearão de mãos dadas ao entardecer
A vida será livre e não a concorrência
Quando os trabalhadores perderem a paciência
Certas pessoas perderão seus cargos e empregos
O trabalho deixará de ser um meio de vida
As pessoas poderão fazer coisas de maior pertinência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

O mundo não terá fronteiras
Nem estados, nem militares para proteger estados
Nem estados para proteger militares prepotências
Quando os trabalhadores perderem a paciência

A pele será carícia e o corpo delícia
E os namorados farão amor não mercantil
Enquanto é a fome que vai virar indecência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Quando os trabalhadores perderem a paciência
Não terá governo nem direito sem justiça
Nem juizes, nem doutores em sapiência
Nem padres, nem excelências

Uma fruta será fruta, sem valor e sem troca
Sem que o humano se oculte na aparência
A necessidade e o desejo serão o termo de equivalência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Quando os trabalhadores perderem a paciência
Depois de dez anos sem uso, por pura obsolescência.
A filósofa-faxineira passando pelo palácio dirá:
"Declaro vaga a presidência"!
(Dr. Mauro Iasi)

sábado, 17 de abril de 2010

A Casa

via Angola: os poetas by kinaxixi on 4/15/10
a pedra, o pau, o barro,
os alicerces
da casa prometida
sabida
como certa

a pedra dura
madeira que se dobra
o barro que se molda
coragem que perfura
a timidez que sobra
paciência que se amolda

um bocado de sonho em cada mão,
um resto de azul
no resto da manhã,
e amanhã,
de manhã cedo,
sem medo,
a casa que te ofereço
cercada de amizade.

Cambúta

Cambúta

via Angola: os poetas by kinaxixi on 3/28/10
não é feia, nem é linda,
mas tem o encanto ideal,
a graça attrahente, infinda
que enlouquece a um mortal.

nada possue de galante
de divino ou seductor;
porém, um todo que encante,
como o seu, não há melhor.

é cambúta, isto é, baixinha;
não sendo horrenda, nem feia,
e posto seja negrinha
tem as formas d'uma hebreia.

seus olhos claros, brilhantes
derramam uns taes fulgores,
que dois astros fulgurantes
não lhes ganham em primores.

quando airosa a vejo andar,
o seu corpo pequenino
de plástica singular
tem um quê tão peregrino,

que a alma logo s'invade
d'uma estranha sensação
e palpita o coração
de febril ansiedade…

a antiga esthetica grega
que pelo bello morria,
se visse este raro specimen
uma estátua lh'esculpia!

Mulher Perdida

via Fernanda de Castro by António Quadros Ferro on 4/12/10
Boneca partida,
que aconteceu
à tua vida?

Ave caída,
ninguém te disse
que é bela a vida?

Quem te mandou,
asa ferida,
brincar com a vida?

E hoje, perdida,
quem te há-de achar?
A morte ou a vida?

Fernanda de Castro - (Exílio, Livraria Bertrand, 1952)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Escrever...

Há semanas descobri o blogue de poesia "Essas palavras são minha alma e coração..." É de uma jovem brasileira com apenas 19 anos e o blogue ainda agora se iniciou. Mas, vale a pena seguir... tem bonitos poemas e um cabeçalho lindo.
Adaptei as palavras do cabeçalho para português europeu do continente, com algumas adaptações pessoais e para um formato estético. E o arranjo ficou assim:

Escrever...
É a maneira que eu encontrei de nunca morrer
Estarei vivo em cada palavra
Em cada verso que escrevo.

Escrever...
É deixar um pedaço da nossa alma para trás.
Um pedaço da alma viva,
para quem ler.

Fonte: Blogue "Essas palavras são minha alma e coração..." - cabeçalho - Texto em prosa de K. Bernardes
Rui Moio - adaptou para o português europeu (continental)e deu-lhe um arranjo estético-poético.

domingo, 11 de abril de 2010

Vila Arriaga



Paredão a pique que quase toca o céu
Medonho, assustador
Os meninos e os adultos
vivem temerosos
Das zangas do paredão

A qualquer momento
Podem chover sobre a vila
Toneladas de pedras
Toda a montanha

Quando chove
A mulola ruge
Como um trovão em contínuo
Ela leva as águas envenenadas
Na guerra dos mucubais

Vila de duas ruas,
Estação do caminho de ferro
Com hotel sem hóspedes
E pensão para gente de passagem

Tem laranjeiras grandes a meio da avenida
Escola primária com nome de escritora
Que no puto dá prémio de literatura

Quinta do administrador
Com árvores grandes e antigas
E tanque para a criançada malandra se banhar

Tem colina com miradouro
Com barulhentos lagartos de duas cores
Onde só os meninos lá chegam
Por falta de caminho bom

No sopé da colina, em casa pequenina
Habita o velho primo
Colono antigo de Vila Arriaga

Aos fins de tarde
Lá vai ele, pé ante pé
Juntar-se à cavaqueira
Com o Rocha Pinto e o Duarte

O Lauro, comerciante antigo
É o mais querido de todos
Vende fuba, peixe seco, remédios…
E um pouco de tudo o resto

Tem hospital grande
Casa do médico e do enfermeiro
E até uma ambulância desconcertada
Uma vermelha Harley com side car

Vila de gente festeira
Com muita rapariga casadoira
Tem recinto para festas
Com tecto de buganvílias em flor
Lá dentro há churrasco, rifas,
pista de dança animada com a manivela
de um velho gromofone

Ao lado do pau-bandeira
E diante da administração
É ver uma molemba grande
Que atapeta de vermelho todo o chão

Passou por lá um administrador
Fausto Ramos de seu nome
É dele a traça do clube
do parque infantil com piscina
E é dele a obra da horta e do tanque para a regar

Rui Moio – 18Out2004

domingo, 4 de abril de 2010

GUINÉ (sei que só eu entendo...)

Carrego o ventre
d'essa terra de veias
onde os rios escrevem os caminhos...

Nada sei d'ela...
Nunca os meus pés pisaram o seu chão
sulcado por rodas que invento...

Era um jeep jogado ao infinito
e um fundo de poente
desatado do céu...

As palavras falavam de vida
e na necessidade de a respirarmos
em todos os seus ventos e águas.

Tentei beber-lhe a terra
e desaguar, oceânica,
entre rosmaninho inventado e estevas de primavera
onde um bote planava como uma ave d'asas.

Desatei-me ao caminho da picada
porque os rios recortavam ausências
e rasguei-me por trilhos sem foz...

OBS: Estou a falar da Guiné...

MariaJoséPraça (N.126080 da SPA) - Julho de 1995

Related Posts with Thumbnails