sábado, 26 de janeiro de 2008

Escrever é vencer a morte

Escrever é projectar-se além da Vida,
É vencer a Morte.
Um dia esta virá, de surpresa, ou tardia,
Mas uma coisa não levará, não reduzirá a cinzas,
e sobre ela a sua álgida mão não terá poder.

Ó Morte, eu sei que tu me aniquilarás,
Mas não destruirás está página
em que escrevo o teu nome,
O teu nome odiado e cruel.
Quantos seres derrubaste em volta de mim!
A todos apavoras.
mas outras vidas há que não estão à tua mercê,
e essas, que nós criámos
Com a música das nossas palavras,
Com a febre do nosso espírito,
Com a ambição do nosso sonho,
essas - sobreviver-nos-ão
e o teu amplaxo não as envolverá.

O que fica do artista, para além dele, não te pertence;
Basta que nós te pertençamos.

Fonte. Poemas Imperfeitos, páf. 140

Primeiras praias de África visionadas...

Parti da rua velha e suja,
da casa apalaçada, fria e bafienta,
Do jardim sem graça e mal cuidado
Que era o presunçoso parque da minha infância.

Parti; tudo deixei diluído
nessas primeiras memórias confusas
Dos seres que nos rodeiam,
De carinhos que nos atormentam,
de castigos que nos flagelam.

E os doces, e os beijos lambusados,
e as teimas cegas,
E as antipatias escondidas de criança,
E as primerias curiosidades,
E os olhos para tudo abertos,
sem nada compreenderem.

Tudo deixei para trás, nessa lembtrança confusa
Da primeira meninice que findava
e da vida nova que surgia.
Parti! Pelo monótono mas da monótona viagem,
Longos dias iguais, primeiras horas
dos primeiros tédios a despontar!

E o comandante que metia medo,
e o navio sempre a balouçar como um brinquedo,
E os sustos quaqndo o menino desaparecia,
e a história do tubarão e da carne tenra do menino
que caiu ao mar...

Primeira ilha descoberta,
Rumo de descobridores.
Primeira névoa,
Primeira visão larga do mundo,
Outras ilhas, outras praiais, outros mares.
Primeira praia de África a distância,
Pretos no areal.

Mas o menino ficou prisioneiro no navio,
Porque o mar encapelado podia tragar o menino.
e depois disso ele ficou sempre prisioneiro,
para que ios mares encapelados não o tragassem.
Mas não foi mais do navio que ficou prisioneiro,
Foi daquels praiais vistas a distância
quando era pequenino,
Daqueles vultos vistos a distância,
Da vida,
Do mundo,
De si próprio.

Primeiras praias de África visionadas,
Primeira sombra de palmar...

Fonte: Poemas imperfeitos

Reencontro

A velha ponte-cais de traves carcomidas,
O morro triste, a antiga fortaleza,..
o deserto a avançar sobre o mar
e a polvilhar a cidade pobre
da sua poeira amarela...
O deserto a sepultar a cidade pobre...

As hortas do Giraul, mancha tímida
e verde no areal.
O jardim emurchecido, queimado
e ressequido pelo sol de África,
- Parque frondoso que a memória guardou,
Imagem que a vida destruiu neste reencontro,
o jardinzinho da cidade,
Já sem o coreto para a música,
Mas com a fileira dos espectros...

A longa, a interminável fileira dos espectros...
A Miss Blond a acompanhar os meninos a passeio,
O Tigre, pachorrento e mansarrão.
Os pretos, o olhar submisso e espantado,
Com as correntes aos pés,
Na rua de casas térreas e de piso mole.
A Miss Blond deixou de acompanhar
os meninos a passeio,
O Tigre, erguido a cão nobre,
morreu de velho,
Os pretos quebraram as correntes,
Só os espectros ficaram, pávidos,
Onde os havia deixado;
Só eles povoam a lembrança,
Habitam a cidade;
Só as suas vozes ecoam no deserto,
As vozes estremecidas,
As vozes perdidas
Na casa desabitada que a poeira do deserto cobriu,
Na vida, que a poeira do tempo cobriu,
Na morte, na saudade, na morte...

Baía de Moçâmedes, 8 de Dezembro de 50.
Fonte: Poemas Imperfeitos

Com o tempo...

Com o tempo…

Você aprende que estar com alguém só porque esse alguém lhe oferece um bom futuro, significa que mais cedo ou mais tarde você irá querer voltar ao passado...

Com o tempo…

Você se dará conta que casar só porque “está sozinho(a)”, é uma clara advertência de que o seu matrimónio será um fracasso...

Com o tempo…

Você compreende que só quem é capaz de lhe amar com os seus defeitos, sem pretender mudar-lhe, é que pode lhe dar toda a felicidade que deseja...

Com o tempo…

Você se dará conta de que se você está ao lado de uma pessoa só para não ficar sozinho(a),com certeza uma hora você vai desejar não voltar a vê-la...

Com o tempo…

Você se dará conta de que os amigos verdadeiros valem mais do que qualquer montante de dinheiro...

Com o tempo…

Você entende que os verdadeiros amigos se contam nos dedos, e que aquele que não luta para os ter, mais cedo ou mais tarde se verá rodeado unicamente de amizades falsas...

Com o tempo…

Você aprende que as palavras ditas num momento de raiva, podemcontinuar a magoar a quem você disse, durante toda a vida...

Com o tempo…

Você aprende que desculpar todos o fazem, mas perdoar, só as almas grandes o conseguem...

Com o tempo…

Você compreende que se você feriu muito um amigo, provavelmente a amizade jamais será a mesma...

Com o tempo…

Você se dá conta de que cada experiência vivida com cada pessoa, é irrepetível...

Com o tempo…

Você se dá conta de que aquele que humilha ou despreza um ser humano, mais cedo ou mais tarde sofrerá as mesmas humilhações e desprezos, só que multiplicados...

Com o tempo…

Você aprende a construir todos os seus caminhos hoje, porque o terreno de amanhã é demasiado incerto para fazer planos...

Com o tempo…

Você compreende que apressar as coisas ou forçá-las para que aconteçam, fará com que no final não sejam como você esperava...

Com o tempo…

Você se dará conta de que, na realidade, o melhor não era o futuro, mas sim o momento que estava vivendo naquele instante...

Com o tempo…

Você aprende que tentar perdoar ou pedir perdão, dizer que ama, dizer que sente falta, dizer que precisa, dizer que quer ser amigo...
...junto de um caixão...
...deixa de fazer sentido...

Com o tempo…

Por isso, recorde sempre estas palavras:
“O homem torna-se velho muito rápido e sábio demasiado tarde”.
Exatamente quando:
“JÁ NÃO HÁ TEMPO!”

OBS: Enviado pela Rosaria por e-mail

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Oi

Oi a você...
Que está cansado.
Que trabalhou.
Que deu duro.
Que nem teve tempo,
hoje, para sonhar um
pouco.

Se tudo que queria agora
era um carinho.
Ou um copinho de café
de uma mão amiga.
Um bilhete dizendo o
quanto é especial...
Oi!

Se seus olhos estão secos
mas gostaria de chorar.
Se queria um abraço
sem segundas intenções.
Se os seus pés doem.
Se está cansado demais
para ler um livro
ou tomar um chá.
Oi

De tempos em tempos,
a vida recua, na esperança
de que tomemos posse
dela com mais ânimo.

É o clamor de um
coração paciente, que
espera nada do que
compra o dinheiro.
Espera a doce paz do
reconhecimento...

Por isso hoje vim para
dizer...Oi!

Oi você que é tão
especial...
Que tem tantos talentos.
Tanta sensibilidade.
Um sorriso bonito.
Que tem dons
maravilhosos!

Oi você que dribla e
vence todos os
problemas.
Que pensa em mudar e
melhorar alguma coisa.
Que merece carinho, que
merece atenção.

Oi você que é uma
fagulha divina.
Que é amado(a) e que
ama.Que tem mais
qualidades que defeitos.
Que tem mais acertos
que erros.
Que a cada dia desperta
mais belo(a)!

Oi amigo(a).
A vida é assim.
Às vezes o coração dói
na falta não sei de quê.
Nada tão grande.
Talvez algumas migalhas
de amor e de carinho...

Por isso hoje lhe trago a
parcela do meu afecto.
Pois você faz a diferença
em minha lista de
momentos felizes, de
pessoas bondosas, de
personalidades
maravilhosas.

Você é uma gota do meu
oceano de amor e ânimo,
do meu antídoto contra
a dor de uma vida
acelerada e por demais
exigente.

Você é dádiva que o
tempo jamais vencerá.
É bênção que não se
repetirá.
É raio exclusivo do sol
da amizade.
De tempos em tempos a
vida se espanta de ver
quanto amor encerra um
simples...
Oi!

Fonte: Enviado a 24Jan20089 pela Rosário por e-mails. Autor desconhecido

Olá para ti - adaptação ao português de Portugal do poema "Oi"

Olá para ti...
Que estás cansado.
Que trabalhaste.
Que deste duro.
Que nem tiveste tempo,
hoje,
para sonhar um pouco.

Se tudo o que tu querias agora
era um carinho.
Ou uma chávena de café
de uma mão amiga.
Um bilhete dizendo o
quanto és especial...
Olá!

Se os teus olhos estão secos
mas gostarias de chorar.
Se querias um abraço
sem segundas intenções.
Se os teus pés doem.
Se estás cansado demais
para leres um livro
ou tomares um chá.
Olá

De tempos a tempos,
a vida recua,
na esperança
de que tomemos posse dela
com mais ânimo.

É o clamor de um
coração paciente,
que nada espera do que
compra o dinheiro.
Espera a doce paz do
reconhecimento...

Por isso hoje vim para te
dizer...
Olá!

Olá para ti
que és tão especial...
Que tens tantos talentos.
Tanta sensibilidade.
Um sorriso bonito.
Que tens dons
maravilhosos!

Olá para ti
que vences todos os problemas.
Que pensas em mudar e
melhorar alguma coisa.
Que mereces carinho,
que mereces atenção.

Olá para ti
que és uma fagulha divina.
Que és amado(a) e que amas.
Que tens mais qualidades que defeitos.
Que tens mais acertos que erros.
Que a cada dia despertas
mais belo(a)!

Olá amigo(a).
A vida é assim.
Às vezes o coração dói
na falta não sei de quê.
Nada tão grande.
Talvez,
algumas migalhas
de amor e de carinho...

Por isso hoje te trago a
parcela do meu afecto.
Pois tu fazes a diferença
na minha lista de
momentos felizes,
de pessoas bondosas,
de personalidades maravilhosas.

Tu és uma gota do meu
oceano de amor e ânimo,
do meu antídoto contra
a dor de uma vida
acelerada e por demais
exigente.

Tu és a dádiva
que o tempo jamais vencerá.
És bênção que não se
repetirá.
És raio exclusivo do sol
da amizade.
De tempos a tempos a
vida se espanta de ver
quanto amor encerra um
simples...
Olá!

Fonte: Enviado a 24Jan20089 pela Rosário por e-mail. Poema de autor desconhecido
Adaptação de Rui Moio do brasileiro para o Português de Portugal

A minha pátria alçou o braço

via MANLIUS by José Carlos on 1/24/08


Início dos anos 50, com a farda da Mocidade Portuguesa em Tetuão


1976 - Couto Viana na trincheira da Rua, semanário que crismou e que ajudou a criar

“A minha pátria alçou o braço
(Pátria pacífica e pequena).
Baixou-o logo, de cansaço.
Foi pena!

(…)
Cedo se calou o ousado brado
Que unia as almas e as bandeiras
Numa velada de soldado
Junto de tendas e fogueiras.

Cedo arrasou a altiva torre
Que ergueram todos de mão dada.
(Agora sei como se morre
Por nada!)
António Manuel Couto Viana
em “Pátria Exausta”

domingo, 20 de janeiro de 2008

BILHETE

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Poema do Menino Jesus

Num meio dia de fim de primavera

Tive um sonho como uma fotografia
Vi Jesus Cristo descer à terra,
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu,
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras,
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem.

E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.

Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.

O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.

E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz.

E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz no braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras nos burros,
Rouba as frutas dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas,
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus,
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia,
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.

Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -"Se é que as criou, do que duvido" -
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
mas os seres não cantam nada,
se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres".

E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
..........................................................................

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina.

É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos a dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales,
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos,
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
.................................................................................

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu no colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
....................................................................................

Esta é a história do meu Menino Jesus,
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?

(Alberto Caeiro)
O Guardador de Rebanhos - VIII (08-03-1914)
Fonte: Blogue Random Precison - Post de

domingo, 13 de janeiro de 2008

(Che giornata - Que Dia!) Tradução de Rui Moio de italiano para português

Que dia!
Que dia!
Que dia!

Finalmente o homem certo
Encontrei

O que ele diz é estranho e extravagante
Mas ele me fascina no seu estilo exuberante.

Como é bom. Desenvolvido e despreocupado
Desenvolto, de cara alegre e coração contente.

É. O retrato da eterna juventude
Se o observo muito me acarinha!

Mas que amor! Mas que amor!
Como um raio que se desfez
O homem justo que encontrei
Não me parece que seja verdadeiro

Vou tanto precisar da sua face e dos seus cabelos
E sentir entre os dedos seus cabelos(?) Rebeldes

Que dia!
Que dia!
Que dia!

Verdadeiramente posso dizer que sou uma afortunada
Encontrei aquilo que transporto no meu coração
O calor da chama do amor.

Como é forte, corajoso e irresistível
Não tem medo de nada, ama o risco e a aventura.

Desde o instante em que o vi que disse a mim mesmo
Mas que esperas? Não o deixes escapar

Mas que amor!
Mas que amor!
Como um raio que se desfez
O homem certo que encontrei não me parece que seja verdadeiro.

Há dois olhos como os seus
Um perfil fascinante
Um olhar inteligente
Um sorriso luminoso

E para ele não conta nada
O julgamento das pessoas
Se crê que seja louco
Não o conheces completamente

E sabeis o que vos digo?
E sabeis o que vos digo?
Vocês pensam ao vosso modo
Homem meu assim penso eu.

Rui Moio
***************
http://www.youtube.com/watch?v=HqeHhwM0aJU
Che giornata
che giornata
che giornata!

Finalmente l'uomo giusto
l'ho incontrato.

C'è chi dice che sia strano e stravagante,
ma mi affascina il suo stile esuberante.

Com'è bello, disinvolto e spensierato!
Che portamento scanzonato viso allegro e cuor contento.
E' il ritratto dell'eterno giovinezza
se lo guardo mi fa tanta tenerezza!

Ma che amore! Ma che amore!
Come un fulmine ha colpito.
L'uomo giusto l'ho trovato
quasi non mi sembra vero.

Voglio tanto accarezzare la sua fronte e i suoi capelli
e sentire tra le dita i suoi riccioli ribelli.

Che giornata
che giornata
che giornata!

Posso dirmi veramente fortunata.
Ho trovato chi ha portato nel mio cuore
il calore della fiamma dell'amore.

Com'è forte, coraggioso e travolgente
non ha paura mai di niente, ama il rischio e l'avventura.
Dal momento che l'ho visto mi son detta:
"Ma che aspetti? Non lasciartelo scappare!"

Ma che amore! Ma che amore!
Come un fulmine ha colpito.
L'uomo giusto l'ho trovato
quasi non mi sembra vero.

Ha due occhi come il sole
uno prifilo fascinoso
uno sguardo intelligente
un sorriso luminoso

e per me non conta niente
il giudizio della gente
se credete che sia matto
non lo conoscete affatto

E sapete che vi dico?
(e sapete che vi dico?)
Voi pensate ai fatti vostri,
all'uomo mio ci penso io"

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

DO TEJO GRANDIOSO AO ZAIRE PODEROSO - Poema Épico - Volume I

CANTO I - "DO TEJO GRANDIOSO AO ZAIRE PODEROSO" -(65 estâncias)-

1) - Não pretendo cantar lutas gloriosas
...... Desses antigos reis e outros senhores,
...... Já gabadas em versos e altas prosas
...... Por alguns de mais rápidos louvores,
...... Mas sim aquelas duras,perigosas,
...... As mais negras, sem fim e sem favores,
...... Desses aventureiros de espantar
...... Que venceram as terras e o alto mar !

2) - Olhos ténues do céu azul e distante
...... Que sois luzes de estranhos universos,
...... Eis,bem erguida, minha lira sonante
...... Pra relatar por estes pobres versos
...... Quanto labotou o luso navegante
...... Nestes ocidentais rincões imersos,
...... Bem longe, nas lonjuras tão profanas
...... Das seculares costas africanas !

3) - Apenas pra os de triunfos merecidos
...... E que, de pó,seus feitos silenciosos
...... Estavam já cobertos ou sumidos
...... P'la pata de inimigos temerosos,
...... A eles, de tantas lutas esquecidos,
...... Louvo a Calíope, para que animosos
...... Vibrem os seus, em som alto e mais forte
...... Contrariando os caprichos d'outra sorte!

.........................................................

CANTO II - NO REINO DO CONGO - (171 estências) -

1) - Os negros barulhentos, todos ledos
...... Na festa com que os lusos recebiam,
...... Por vencerem as lendas e alguns medos
...... Das tantas terras que, vendo, possuíam,
...... Entre si, com recato e alguns segredos,
...... Mais dobrados cuidados lhes faziam,
...... Sem esconderem seus tratos e modos
...... Dum apreço e respeito dados a todos.

2) - Em tão gratas mercês deles ficavam
...... Que deixar sair ninguém desejaria,
...... Pretendendo aprender quanto ensinavam
...... Do seu muito saber, fé e valentia.
...... Por diversos locais tambores soavam
...... Convidando ao batuque a negraria,
...... Cada qual em seus trajos mui variados
...... E aos outros parecendo desusados.

3) - Corpos cobertos só das baixas partes
...... Com troncos nús e braços musculosos,
...... Outros fêmeos, gentis, de finas artes
...... Dançavam e saltavam mui graciosos,
...... Fazendo certas coisas sem desastres
...... Com pulos, gestos, gritos estrondosos;
...... O visitante espantado ficava
...... E,de certo modo, isso não admirava!

...... .................................................

CANTO III - NO REINO DE ANGOLA - (108 estâncias) -

1) - Do Congo ao Cabo o Reino estava
...... Em cada dia alargando a sua fronteira,
...... Engolindo outros sobados, andava
...... Juntando tributos d'outra maneira.
...... Desse,que antes de Ndoango se chamava,
...... A Angola dava a palavra primeira,
...... Assim sendo para sempre conhecido
...... E por aquele senhor protegido.

2) - Uns antigos os quimbundos combateram
...... E em seu lugar ficaram instalados,
...... Depois, ainda os anzicos submeteram
...... E tomaram as rédeas desses lados.
...... Um, N'gola Inene, que antes conheceram,
...... Seria dos angolanos iniciados
...... O que mais terras depois conquistara
...... Formando um Reino que em grande tornara;

3) - Um que de ferrador tinha alguns jeitos
...... E aos seus queria com muito coração
...... Teve cuidado com valiosos peitos
...... Livrando-os da mais rude privação.
...... Por todas essas coisas satisfeitos
...... O buscaram para a nova Nação,
...... Designando-o po N'GOLA, rei primeiro,
...... E mais Mussuri, nome verdadeiro,

...................................................

CANTO IV - O GOVERNO GERAL - (113 estâncias) -

1) - No ano noventa e dois, sendo Janeiro,
...... Foi nomeado pra Angola outro gestor;
...... Vinha c'o ilusões e homens,bem lampeiro,
...... Sendo um ilustre e mui rico senhor.
...... Teve boa recepção, sendo o primeiro,
...... Nem se sabendo qual o seu valor
...... Porque às gentes surgia como um estranho,
...... Vindo que era das terras doutro amanho.

2) - Mas o modo de sua governação
...... Causou protestos dalguns contrafeitos,
...... Feridos no interesse e na feição
...... E pelos quais houvera bons proveitos.
...... Surgia deles um padre, com acção
...... Alegando os haveres e direitos
...... Ganhos em anos de muitas canseiras
...... E para outros o fim das suas asneiras!

3) - Duvidando por onde a razão andava
...... E sendo tantos falsos, intriguistas,
...... Deixou tudo ficar como ali estava
...... Aguardando a sentença dos legistas.
...... Cada soba uma nova causa dava
...... Sendo apoiado com largas, santas vistas,
...... Por certos padres que ali comandaram
...... E quase por si também governaram.

................ ......................................

CANTO V - A GRANDE GINGA - (63 estâncias) -

1) - Vasconcelos, pra Angola fora eleito
...... E logo toma posse de sua herdade,
...... Só seguindo mais tarde ao duro leito
...... Quer fosse p'lo receio ou pouca vontade.
...... Evitando um perigo ou algum mau jeito
...... Com holandeses sem qualquer piedade,
...... Tivera de fazer um melhor plano
...... Dispondo armas e homens com menor dano.

2) - Os tributos ao reino destinados
...... P'los diversos caminhos se sumíam,
...... Por uns padres e chefes controlados
...... E que entre si essas coisas discutiam;
...... Despertados de sonhos, enganados,
...... Que com promessas vãs os iludiam,
...... Passaram a explorar as novas fontes
...... (Que andavam as cabeças ali as montes!)

3) - Entre eles as discórdias aumentavam
...... Repondo em lutas pérfidos rivais,
...... Pois que dos mesmos meios todos usavam
...... Esquecendo de pronto tudo o mais.
...... A paz com alguns sobas negociavam
...... Para alcançar daqueles naturais
...... Auxílios necessários nas suas guerras
...... Com as quais se ganhavam as boas terras.

..................................................

CANTO VI - O DRAMA DA ESCRAVATURA - (75 estâncias) -

1) - Muitos escravos foram retomados
...... Que eram vendidos em boa quantidade,
...... Sendo para novas terras embarcados
...... Que deles havia lá necessidade.
...... Mas os poderes régios contrariados
...... Logo os mandavam de volta à sua herdade,
...... Sendo caso de má e desleal conduta,
...... Não fosse obra feia, de filhos de puta!

2) - Não era por Dom Henrique ou sua alegria
...... Que em escuros negócios se metessem,
...... Sendo antes para Cristo e a Santa Pia
...... Todos quantos a Nova ali quizessem;
...... Amolecendo as mentes pretendia
...... Evitar que outros piores ali viessem
...... Colher frutos em tão enorme fartura,
...... Que uma vida fácil nem sempre dura!

3) - Em tendo aquele campo bem semeado
...... Seria farta e válida a colheita
...... E,próximo do tal reino ali buscado,
...... Uma outra melhor já havia de estar feita.
...... Pra tanto era o caminho procurado
...... Em naus que o Índico rápido rejeita,
...... Se outra solução não fora a escolhida
...... Que era a vela,mais fácil,sumetida.

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CANTO VII - DOS ATAQUES HOLANDESES À RECONQUISTA - (103 estâncias) -

1) - Os mares muito turvo se tornavam
...... Por algumas escuras, feias razões,
...... Doutros que o rico Reino desejavam
...... Cheios de cobiça e ódio de ladrões;
...... Para o interior as tropas não marchavam
...... Poupando as fracas forças e os canhões,
...... E,deslocando-os antes para as costas
...... Protegiam-se das naus ao largo expostas.

2) - Da outra banda dos mares oceânicos
...... Chegava triste nova de espantar,
...... Que plebes calmas já punha em pânicos
...... Das coisas que por certo se iam passar:
...... - Velas grandes, tamanhos titânicos,
...... Preparavam-se para os atacar !
...... Sendo fraca a defesa residente,
...... Temerosa se punha toda a gente,

3) - Mas, suspendendo um pouco essa eminência
...... Os reservados, cautos holandeses,
...... Sabidos da possível resistência
...... Comum em muitas lutas e revezes,
...... Prosseguiam com mais pérfida violência
...... Sobre alguns desses pobres camponeses,
...... Sondando talvez aos poucos os caminhos
...... Pra ver que haveria entre esses ninhos.

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101)- Logo alcança o fronteiriço e alto Penedo
...... Levando quanto surgia p'la frente,
...... Os forte toma e ocupa de arremedo
...... Que a coragem fazia aumentar a gente!
...... Em fuga alguns se botam bem mais cedo
...... Cuidando noutra forma diferente,
...... Com os fogos danados incendiando
...... Tudo o que por ali iam abandonando.

102)- Restava por refúgio a fortaleza
...... Que o encorajado luso ali arremete,
...... Defendendo-se então a cercada presa
...... Mas que sem forças já pouco acomete.
...... De novo Salvador com mais firmeza
...... Se prepara para honrar seu galhardete,
...... Quando nota no alto mastro a bandeira
...... Agora branca, em vez da desordeira !

103)- "Abre-se a porta" dessa "cidadela"
...... Saindo os vencidos bem envergonhados,
...... Em número maior e em vária farpela
...... Entre alas dos vencedores formados.
...... Metidos depois numa caravela
...... Dali são pra sua terra despachados,
...... Enquanto por toda a costa angolana
...... Ardia de novo a flama lusitana !

......................................

POEMA ÉPICO - Roberto Correia - Volume : I

NOTA - ESTE POEMA ÉPICO TEM DOIS VOLUMES COM UM TOTAL DE 1.368 ESTÂNCIAS : Vol.I = 698 e Vol.II = 670, A QUE CORRESPONDEM 10.944 VERSOS)

DO ZAIRE PODEROSO AO CUNENE MISTERIOSO - (Poema Épico - Volume II)

CANTO VIII - A RESTAURAÇÃO DOS REINOS - (71 estâncias) -

1) - Para esse mesmo Reino de Benguela
...... Foi então nomeado Gomes de Gouveia
...... Enquanto outros de sua douta tutela
...... Fugiram da terrível alcateia.
...... Muita gente, com boa e melhor farpela
...... Seguia a santa, de flores toda cheia,
...... Sendo o colégio antigo recompensado
...... Porque junto ao palácio era situado.

2) - Assim caminham para a fortaleza
...... Com uns santos e santas resguardados,
...... Sendo sua fé mostrada com firmeza
...... Entre tantos fiéis e alguns soldados.
...... Não causaranenhuma outra estranheza
...... O que logo surgiranoutros lados
...... Já festejando com muita alegria
...... O fim do sofrimento e vilania.

3) - Outros, enviados à Vila Vitória,
...... Informavam da nova situação,
...... Retirando da lusa e boa memória
...... Tanta desgraça e total desolação.
...... Mandara recolher, sem mais história,
...... Todos que se mantinham p'lo sertão
...... Sendo bem mais segura a capital
...... Antes que lhes surgisse novo mal.

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CANTO IX - A INFLUÊNCIA BRASILEIRA - (72 estâncias) -

1) (72)- Para Vieira chegara a ocasião
...... De assumir o comando desejado
...... Tendo tido outra boa governação
...... Em terras do Brasilcom muito agrado.
...... Aos jesuítas não alegra a nomeação
...... Pelo que logo fora excomungado;
...... Julgando-se em Angola superiores
...... Manobravam sem ter opositores.

2) (73)- Massandano recebeu benefícios
...... Passando a vila por merecimento,
...... Depois de tanto azar e sacrifícios
...... Da população em fácil crescimento.
...... Os igleses cometem artifícios
...... Numa grave traição sem fundamento,
...... Quando Chichorro,calmo,regressava
...... E em Paraíba porém preso ficava!

3) (74)- Doente e com fome finha falecido
...... Nem lhe valendo o farto e bom marisco
...... Pois,pelo mesmo,foi depois comido
...... Sendo assim muito pior que um outro risco!
...... Ao sobrado esqueleto,ali esquecido,
...... De nada servia já o poder ou o fisco
...... E,nem mesmo o salvando,o Salvador,
...... Só restando entregar a alma ao Criador!

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CANTO X - A INEVITÁVEL EVOLUÇÃO - (72 estâncias) -

1) (144)- Távora chega a Luanda com atraso,
...... Em plena juventude da sua vida,
...... Entre grande alegria,sem qualquer prazo,
...... Com espanto da gente embevecida.
...... Não perdendo mais tempo e, sem dar azo
...... A avanços de adversários nessa lida,
...... Mandara reforçar fortes, fortins,
...... E outras bases de mais seguros fins.

2) (145)- Chegam à capital embaixadores
...... Do novo rei conguês com cumprimentos
...... Ao governador jovem e uns senhores
...... Que davam apoio aos doutos elementos.
...... Solicitam vencer usurpadores
...... Estranhos, sem humanos sentimentos,
...... Que mantinham negócios dos escravos
...... Recordando outros tempos dos eslavos.

3) (146)- Dom Rafael concedera outro condado
...... Que junto ao Pinda estava protegido,
...... Muitos seguiam o destino desgraçado,
...... Não cumprindo o tratado antes havido.
...... Os jesuítas também haviam falhado
...... Com o escuro negócio, repelido,
...... Sendo expulsos p'ra tais bandas,distantes,
...... Em companhia de certos traficantes!

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CANTO XI - NOS REINOS DO SERTÃO - (59 estâncias) -

1) (216)- Silva e Sousa chegapo finalmente
...... P'ra comandar o Reino principal
...... Não tempo de aguçar o dente
...... Contra Dala e o Cassanje, seu rival,
...... Que nem aproveitou a ajuda presente
...... E o livrou de sofrer um grande mal;
...... Perdera assim aquele seu comando
...... Ficando tudo a saque d'outro mando.

2) (217)- Não consegue,porém,ali aguentar
...... Preferindo regressar à origem,
...... Sendo logo preenchido seu lugar
...... Com apoio renovado e vassalagem.
...... Em Catole, Sequeira iria acampar
...... Com um certo descuido,mas coragem;
...... Acabava com trágica surpresa
...... Perdendo terrenoe alguma firmeza.

3) (218)- Explodiam as barracas num instante
...... Repletas de armas, muitas munições,
...... Mais parecendo festa delirante
...... Apavorando suas populações.
...... E Sequeira, o "invencível" e triufante,
...... Foi abatido com setas nos pulmões
...... Sem desânimo dos seus companheiros,
...... Conseguindo vencer, foram primeiros.

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CANTO XII - A COBIÇA INTERNACIONAL - (94 estâncias) -

1) (275)- Ribafria sucedera ao nobre Almada
...... Que foi governar para outro reinado
...... E para onde não houvera mais jornada,
...... Que o governo acabara co'"el-dourado";
...... Mesmo p'ra degredado era vedada
...... Sendo Angola o destino sobejado,
...... Como acontecera antes a diversos
...... Embora fossem santos não perversos.

2) (276)- A revoltada gente da Quiçama
...... Fora vencida por sobas reunidos.
...... Ribafria nunca teve santa cama
...... Actuandocom processos mal sabidos:
...... Pouco valera alguma justa fama
...... Nem resolveu problemas conhecidos.
...... No seu regresso teve de aquecer
...... Quando seu barco estsva a fenecer.

3) (277)- Entretanto, chegara Dom Noronha,
...... Havendo situações bem complicadas,
...... Com casos muito doentes,qual peçonha,
...... Para o que devia ter as mãos pesadas.
...... Mesmo o Senado, com bastante ronha,
...... Desviava nomeações menos cotadas
...... E, por não serem da alta sociedade,
...... Apenas dos musseques da cidade!

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CANTO XIII - OS CAMINHOS DA LIBERTAÇÃO - (72 estâncias) -

1) (369)- Tomara posse Dom Sousa Coutinho
...... Reunindo os comerciantes da cidade,
...... Devendo cessar logo de caminho
...... Com os que nunca obtinham liberdade,
...... Nem havendo um imposto mais daninho
...... Prejudicando toda lusa herdade,
...... Mesmo tendo suas dívidas somadas
...... Com as diversas, tão mal disfarçadas.

2) (370)- Sendo o Terreiro Público ali criado
...... Para a recolha dos bons alimentos,
...... Assim ficando tudo armazenado
...... Para distribuir com mais fundamentos,
...... Sem que algum fosse mais beneficiado
...... Ficando outros com menos suprimentos;
...... Assim evitam feios, fracos negócios
...... Ou trocas de trabalhos pelos ócios.

3) (371)- A Geometria, porém, e a Construção,
...... Em "aulas",antes já sendo existentes,
...... Tiveram uma nova pretensão
...... Havendo muitas obras dependentes,
...... Porque nem encontravam solução
...... Para resolver casos das suas gentes
...... Em casas mais antigas,mal situadas,
...... Sem posses para serem reparadas.

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CANTO XIV - OS MISTÉRIOS DO CUNENE - (128 estâncias) -

1) (441)- Decide a JUnta fixar em Benguela
...... Os dirigentes das expedições,
...... Como se fosse uma imensa janela
...... Aberta p'ra desvendar os sertões;
...... Com Furtado e Valente em curta trela
...... Tinha em Silva e Lacerda uns bons peões,
...... Buscando o estranho final do Cunene :
...... Rio estreito,largo,rápido ou perene !?

2) (442)- Uns chegam a Angra do Negro p'lo mar
...... Encontrando emissários dum sobeta,
...... Curiosos de conhecer,"conversar",
...... Como sendo "homens" dum outro planeta!
...... Mais não pretendiam do que desvendar
...... A ligação do rio com a sua meta,
...... Julgada estar situada num maior
...... Que os levasse ao longíquo interior.

3) (443)- Caminhara Gregório para o sul,
...... Indo pelo Quilengues e mais terras
...... Para alcançar em Angra o mar azul,
...... Depois de atravessar deserto e serras;
...... Com uma caravana passa um paul,
...... Chegando a Banda(Angra) sem mais guerras
...... E conseguira algumas vassalagens
...... Desde Quinzamba ao Negro,fim das viagens.

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CANTO XV - ATÉ À DESCOBERTA DA SUA FOZ - (102 estâncias) -

1) (569)- Vidal fora o primeiro governante
...... Segundo a nova Carta Nacional,
...... Que orientaria os destinos doravante
...... Co'a justiça p'ra todos sendo igual.
...... Em Benguela ninguém seria ignorante
...... Da lei aplicada por ali em geral,
...... P'ra matarem mosquitos com metralha
...... Ou,queimando umas ervas sem ter falha!

2) (570)- Ngola Quiassama,soba numa serra,
...... Não concordando com a instalação
...... Dim Presídio dos lusos em sua terra,
...... Avança contra Ambaca,no sertão,
...... Mas,a tropa depressa mais o encerra,
...... Algemando-lhe com vontade a mão.
...... Garcia,regente na Oylla,nem sabia
...... Como dominar outra rebeldia.

3) (571)- O distrito "Bragança" surgiria
...... Na zona em que Quiassama dominava;
...... Andrade,coronel,melhor fazia
...... E a ordem ali de novo se instalava.
...... Benguela no local se manteria
...... E,Catumbela,na mesma ficava,
...... Enquanto Luanda obtinha provimentos
...... Com as diversas obras e uns eventos.

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100) (668)- Os ingleses tentaram conquistar
....... O Reino de Cabinda,sem prudência,
....... Sabendo que não estava p'ra alugar,
....... Mas ao cargo da lusa previdência.
....... Subornavam o N'hongo sem cessar,
....... Fazendo quase perder a paciência
....... A quem tinha a total obrigação
....... De manter em paz sua população.

101) (669)- Costa Leal percorrendo pelo sul,
....... Passa a Baía dos Peixes,continuando
....... Em busca do mistério,sob céu azul :
....... Se o Cunene,absorvido e sem comando
....... Há tantos anos, longe do Giraul,
....... Entrava nessa areia que o iria ocultando !?
....... Findava esse segredo centenário
....... Um caso,talvez, bem extraordinário!

102) (670)- Leal, manda estudar sua navegação,
....... Pretendida por outros governantes,
....... Pensando na possível ligação
....... Ao Cubango. desejo dos meliantes,
....... Para terem mais rápida função
....... Com os barcos de tantos traficantes,
....... Na busca dos escravos e marfim
....... Sem cuidar que esse podia ser seu Fim.

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POEMA ÉPICO - Roberto Correia - Volume : II

NOTA - ESTE POEMA ÉPICO TEM DOIS VOLUMES COM UM TOTAL DE 1.368 ESTÂNCIAS : Vol.I = 698 e Vol.II = 670, A QUE CORRESPONDEM 10.944 VERSOS)

MUCANCALA

Do oriental setentrião,
do lendário Gengis Cão,
veio em perdida emigração.

Atravessados vales, subidas serras,
escalados montes, achadas as fontes,
encontrou as prometidas terras.

Aqui um povo encontra seu destino,
sua paz, seu sorriso de menino.

Em remotos genes, a eterna Alma
que em África sempre se renova.

Fonte: Blogue "Poemangola" - post de 16Out2007

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Ao Bengo - nome de uma traineira

Bengo,
nome de uma traineira:
partimos do Lobito,
naquela manhã
de sobressaltos e guerra,
rumaste Luanda,
Las Palmas
e Lagos,
teu local da morte
e de sepultamento.
Salvaste nossas vidas...
É verdade!...
E agora?
Vejo-te
baloiçando,
velho,
alquebrado,
esperando a execução
da sentença de morte!
A tua proa
já não cruza
Lobito e Moçâmedes,
como as brancas gaivotas
que,
por ironia,
ainda voam,
procurando refúgio,
no seio dos teus
desventrados beliches.
Agora,
por capricho dos homens,
aguardas as chamas
que hão-de te devorar,
transformando-te
em cinza,
pó e nada...
É assim o teu.Destino,
de todos nós...
Adeus Bengo,
traineira da minha vida!...

Malaquias,
Algarve, ano 1976
Fonte: Romagem de saudade

Luanda

Luanda !, se agora n o te reconheço
na minha velhice, em tua mocidade,
porque sou eu, que me desconheço,
porque me perdi no tempo e na idade.

Ainda encontro, em minha própria saudade,
recordações, de que jamais esqueço !,
daquele pôr do sol, com que me aqueço !,
como o vimos na nossa mocidade.

Luanda !, onde, há muito tempo!, um tempo vivi,
mesmo quando, por esse mundo fora,
de ti me afastei e de ti me perdi,

a tua terra vermelha existe e mora
dentro da minha alma, e, dentro de ti,
quero jazer, quando me for embora ....

Luanda, 06 de Outubro de 2003

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O Seio Esquerdo

Aconteceu.
Ninguém espera
E, na primavera, Foi-se o seio esquerdo.

Foi-se o toque,
Ficou a sensação fantasma
Foi-se o alimento,
Ficou o vazio no peito.

Como ser mulher, sem o seio esquerdo?
Como ser mãe, sem a mama esquerda?
Como ser profissional, sem o outro par?
Como se olhar no espelho, nua?

O seio direito, encabulado,
Só e pendurado,
Emoldurando o luto
Do parceiro canhoto.

Está faltando o outro.
São dois,
Originalmente dois.
Há que ser dois.

Nunca mais seus dedos
Apertando a carne macia e rosada
Nunca mais sua boca
A brincar de trincar e arrepiar
Nunca mais a dança sensual
Dos pares no banho
E entre lençõis de cetim.

Há um imenso vazio
Bem maior que a mama
Que atinge camadas profundas
Da própria natureza fêmea.

Há a ausência constante
Lembrada todo o tempo
Pelo traço da cicatriz
Dessa ferida que não fecha.

Há a dor, os ductos, os lutos
Mágoa infiltrante, ingrata, infeliz
Dias vividos sem perceber
E para quê viver?

Olhos que nunca repararam
Agora recusam-se a olhar
Não tem remédio
Não tem escolha

Tem alopécia, náusea e dor
Tem quimioterapia
Tem agonia
Solidão de espinho e flor

Tão falso o enchimento
Disfarça a roupa
Como peruca da alma
Que dribla olhares piedosos
De mulher barbada de circo
Que extirpa seus próprios caroços.

Os dias arrastados, as horas contadas
Quando volta ao normal?
Quando se acorda do pesadelo?
Ou tentar esquecê-lo...

É tão desigual, tão caolha
Fica sem sentido, tão velha
Um robusto, imponente, desejável
Outro, um traço doente, indelével, lamentável.

Luta diária e desanimada
Para sobreviver – corpo sem jeito
Mulher sem peito, que cala o grito
Tempo finito, seio bonito
Que se foi.

Do livro: "Enfim, renasci!" Ed Impetus - 2000

Podia escolher a sida / um acidente de carro

Podia escolher a sida,
um acidente de carro
ou um gesto suicida
— mas escolhi o cigarro.

Felizes os seres humanos
que buscam ares respiráveis
— vivem para aí uns mil anos
e depois morrem saudáveis.

Na minha campa, sem prantos,
afixem esta inscrição:
«Aqui jaz o Bruno Santos:
dois cancros, um por pulmão.

Do bercinho ao ataúde,
só fumou e só tossiu.
Raios partam a saúde
mais a puta que a pariu».

Fonte: Blogue Manlius - Post de 08Jan2008

Nota pessoal
Inspirou-se o autor do poema Lei do Tabaco que entrou em vigor no passado dia 01Jan2008
Rui Moio

Escrava


Teu amor me fez escrava de teus desejos
Acorrentada à doce paixão de te querer
Serviçal mais prendada por teus beijos
Submisso brinquedo do teu prazer.

Teu amor marcou meu corpo a ferro e fogo
Açoitou-me em carícias torturantes
Amarrou-me e vendou-me no teu jogo
Extraiu de mim centelhas faiscantes.

Teu amor lanhou-me o peito em carne viva
Deixando o seio teso, o ventre em brasa
Extenuada, por mucamas recolhida
Fui morar na senzala de tua casa.

Teu amor, cruel feitor, prendeu-me ao tronco
Castigando-me, impiedoso, a ousadia
De tentar sobreviver sem teus encantos
De sonhar fugir dessa prisão um dia.

Teu amor, enfim, me libertou a alma
Alforriou meus sofrimentos nesse encontro
Tornou-me livre, santa, bela, calma
Fez de mim senhora, rainha de teu quilombo



Fonte: Página de Lilian Maial no geocities

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Sem Fantasia

Vem meu menino vadio, vem sem mentir pra você
Vem, mas vem sem fantasia,
Que da noite pro dia você não vai crescer
Vem, por favor não me evites,
Meu amor, meu convites
Minha dor meu apelos
Vou te envolver nos cabelos,
Vem perder-te em meus braços
Pelo amor de deus
Vem que eu te quero fraco,
Vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero todo meu
Ah! eu quero te dizer que o instante de te ver
Custou tanto penar, não vou me arrepender
Só vim te converncer
Que eu vim pra não morrer
De tanto te esperar
E quero te contar
Das chuvas que apanhei
Das noites que varei
No escuro a te buscar
E quero te mostrar
As marcas que ganhei
Nas lutas contra o rei,
Nas discussões com deus
E agora que cheguei eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa dos carinhos teus

Caçada

Não conheço seu nome ou paradeiro
Adivinho seu rastro e cheiro
Vou armado de dentes e coragem
Vou morder sua carne selvagem
Varo a noite sem cochilar, aflito
Amanheço imitando seu grito
Me aproximo rodando a sua toca
E ao me ver você me provoca
Você canta sua agonia louca
Água que borbulha na boca
Minha presa rugindo sua raça
Pernas se debatendo e o seu fervor
Hoje é o dia da graça
Hoje é o dia caça e do caçador

Eu me espicho no espaço feito um gato
Pra pegar você, bicho do mato
Saciar sua avidez mestiça
Que ao me ver se encolhe e me atiça
Que num impulso me expulsa e abraça
Nossa peles grudando de suor
Hoje é o dia da graça
Hoje é o dia caça e do caçador

De tocaia fico a espreitar a fera
Logo dou-lhe o bote certeiro
Já conheço seu dorso de gazela
Cavalo brabo montado em pelo
Dominante, não se desembaraça
Ofegante, é dona do seu senhor
Hoje é o dia da graça
Hoje é o dia caça e do caçador

A Banda

Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem
A moça triste que vivia calada, sorriu
A rosa triste que vivia fechada, se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela
A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivi escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou

E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor

A Bailarina Gorda

Como toda bailarina ela sonhava com mil saltos mortais
Os dedos do destino a desenharam gorda demais
Cada volta ou pirueta era um desastre, eram risadas gerais
E os olhos do menino que ela amava a amavam magra de mais
Cada bola de sorvete é tanta culpa, era remorso demais
E o mais lindo vestido tá guardado: gorda demais
Cada abraço, um arrepio, ai, por um fio ele me apalpa por trás
E sente a carne mole, frouxa, coxa, gorda demais
Como toda bailarina ela sonhava com mil saltos mortais

Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda

Eu sonhei que tu estavas tão linda
Numa festa de raro esplendor
Teu vestido de baile lembro ainda
Era branco todo branco meu amor
A orquestra tocou uma valsa dolente
Tomei-te aos braços fomos dançando ambos silentes
E os pares que rodeavam entre nós
Trocavam juras diziam coisas a meia voz
Violinos enchiam o ar de emoções
E de ternura uma centena e corações
Pra despertar teu ciúme
Tentei flertar alguém
Mas tu não flertastes ninguém
Olhavas só para mim
Vitórias de amor cantei
Mas foi tudo um sonho acordei

Deus lhe pague

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir

Deus lhe pague

Pelo prazer de chorar e pelo “estamos aí”
Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
Um crime pra comentar e um samba pra distrair

Deus lhe pague

Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui
O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir
Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi

Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair
Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir

Deus lhe pague

Agora Falando Sério

Agora falando sério
Eu queria não cantar
A cantiga bonita
Que se acredita
Que o mal espanta
Dou um chute no lirismo
Um pega no cachorro
E um tiro no sabiá
Dou um fora no violino
Faço a mala e corro
Pra não ver banda passar

Agora falando sério
Eu queria não mentir
Não queria enganar
Driblar, iludir
Tanto desencanto
E você que está me ouvindo
Quer saber o que está havendo
Com as flores do meu quintal?
O amor-perfeito, traindo
A sempre-viva, morrendo
E a rosa, cheirando mal

Agora falando sério
Preferia não falar
Nada que distraísse
O sono difícil
Como acalanto
Eu quero fazer silêncio
Um silêncio tão doente
Do vizinho reclamar
E chamar polícia e médico
E o síndico do meu tédio
Pedindo para eu cantar

Agora falando sério
Eu queria não cantar
Falando sério

Agora falando sério
Preferia não falar
Falando sério

A Lista

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas mentiras você condenava
Quantas você teve que cometer
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você

Eu não existo sem você

Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor, não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos me encaminham pra você

Assim como o oceano só é belo com o luar
Assim como a canção só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem só acontece se chover
Assim como o poeta só é grande se sofrer
Assim como viver sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
Eu não existo sem você

A Primeira Noite

A primeira noite de quem parte em busca do seu sonho
É a primeira sem tudo o que passou
A primeira noite na cidade distante do seu quarto
Gera insônias felizes e aflição
Não só. Por que não? Só, por que não?
A primeira noite de quem larga o conforto do previsto
É a primeira sem colo, pai e mãe
A primeira noite traz na mala o que te restou de antes
Traz aperto e euforia ao coração
Não, só, não. Por que não? Só, por que não?

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

FUSILAMIENTO

Van a fusilar
a un hombre que tiene los brazos atados.
Hay cuatro soldados
para disparar.
Son cuatro soldados
callados,
que están amarrados,
lo mismo que el hombre amarrado que van
a matar.

—¿Puedes escapar?
—¡No puedo correr!
—¡Ya van a tirar!
—¡Qué vamos a hacer!
—Quizá los rifles no estén cargados...
—¡Seis balas tienen de fiero plomo!
—¡Quizá no tiren esos soldados!
—¡Eres un tonto de tomo y lomo!

Tiraron.
(¿Cómo fue que pudieron tirar?)
Mataron.
(¿Cómo fue que pudieron matar?)
Eran cuatro soldados
callados,
y les hizo una seña, bajando su sable,
un señor oficial;
eran cuatro soldados
atados,
lo mismo que el hombre que fueron
los cuatro a matar.

"Não sei por que pensas tu" de Nicolás Guillén - Tradução de Rui Moio de espanhol para português


Não sei por que pensas tu,
soldado, que te odeio eu,
Se somos a mesma coisa
eu,
tu

Tu és pobre: o mesmo que eu;
sou de baixo; também és tu;
donde sacaste tu,
soldado, que te odeio eu?

Dói-me, às vezes, que tu
te esqueças quem sou eu;
caramba. se eu sou tu,
e, como eu, também tu és eu.

Mas não é por isso que eu
vou querer-te mal.
se somos a mesma coisa
eu,
tu
não sei por que pensas tu
soldado, que te odeio eu.

Já nos vimos, eu e tu,
juntos na mesma rua,
ombro com ombro, tu e eu,
sem ódios de eu e de tu,
mas sabendo que tu e eu,
para onde vamos, tu e eu…
não sei por que pensas tu,
soldado, que te odeio eu!

Fonte: Site "Poemas del Alma" - Tradução de espanhol para português de Rui Moio do poema "No sé por qué piensas tú" de Nicolás Guillén - 07Jan2008

NO SÉ POR QUÉ PIENSAS TÚ

No sé por qué piensas tú,
soldado, que te odio yo,
si somos la misma cosa
yo,
tú.

Tú eres pobre, lo soy yo;
soy de abajo, lo eres tú;
¿de dónde has sacado tú,
soldado, que te odio yo?

Me duele que a veces tú
te olvides de quién soy yo;
caramba, si yo soy tú,
lo mismo que tú eres yo.

Pero no por eso yo
he de malquererte, tú;
si somos la misma cosa,
yo,
tú,
no sé por qué piensas tú,
soldado, que te odio yo.

Ya nos veremos yo y tú,
juntos en la misma calle,
hombro con hombro, tú y yo,
sin odios ni yo ni tú,
pero sabiendo tú y yo,
a dónde vamos yo y tú...
¡no sé por qué piensas tú,
soldado, que te odio yo!

Fonte: Site "Poemas del Alma"

sábado, 5 de janeiro de 2008

Natal, e não Dezembro

Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

Fonte: Blogue Linha de Cabotagem - Post de 20Dez2007


Tudo

Em surdina chegaste
E em surdina te vais:

— Oh felicidade que baste,
Que nunca bastas de mais!

E eu queria que ficasses,
De tal maneira ficada,
Que nunca mais me trocasses

— Por nada!

Fonte: Jornal de Poesia

Flor

Eu te sei pura, casta e meiga!

Eu te sei toda feita de pureza,
Branca como o leite fresco
Que se põe na mesa.

Eu te sei toda feita de castidade,
Num vago receio, perfume de alecrim,
Que se percebe quando não há claridade.

Eu te sei, terna e meiga,
Como as flores silvestres, naturais,
Que nascem nas margens duma veiga.
Eu te sei — isso tudo — para mim! ...

Fonte: Jornal de Poesia

Que Hora é Esta?

É em vão que o sol doura
As asperezas da terra:
Secou na seara loura
Toda a esperança que ela encerra.

Baldadas todas as horas,
Todos os passos sem fim.
Murchou de vez o alecrim,
Secaram roxas amoras.

É quente a água das fontes,
Escalda o sangue nas veias:
São de fogo os grãos de areias
E as pragas negras dos montes.

Para quê lutar ainda
Numa luta sem sentido?
Sofre-se por se ter sofrido
Esta angústia que não finda.

Angústia que sobe à boca
Que amarga como a amargura
— Existência mal segura,
Fazenda que mal dá roupa.

Cansaram-se assim de tudo,
Todos nos pesam demais
— Os poetas são jograis
E o seu cantar quase mudo.

Fonte: Jornal de Poesia

Caminhada

Irmãos!
Não estive nas câmaras de gás,
Nem vi o arame dos campos de concentração.
Fui talvez o último que cheguei,
Mas cheguei.

Não vim para banquetes,
Pois nesta hora desfraldada
Só há choros e lutos,
E esperanças, ainda esperanças,
Numa futura caminhada.
Irmãos!
Nós somos talvez dum mundo novo
E teremos de construir o mundo novo.
Eu sou talvez o último que cheguei
Para os dias do futuro.

Fonte: Jornal de Poesia

Par ou Pernão

Lançaram-se os dados
no par ou pernão
e uns foram
outros não.

E houve saudades nos que foram
e revolta nos que não:
os que foram não voltaram
os que ficaram cá estão...

Jogaram-se vidas,
como se jogam dados:
olhos sem luz,
membros amputados
e uns foram outros não...

Vida?... Amor?...
Lançaram-se os dados: Par ou Pernão?

Fonte: Jornal de Poesia

Natal

Nasceu!
Numa garagem abandonada, coberta de chapa de zinco,
E num caixote velho de latas de óleo,
Entre desperdícios sujos e usados.

Nossa Senhora e S. José tinham vindo pela estrada
Os pés no asfalto negro, onde circulavam carros de luxo:
Pedir boléia, pediram, mas ninguém os viu ou quis ver,
Ou escutar o gesto...
Iam todos apressados para a ceia da noite,
Desbragada como um conta-quilômetros

E cheia de neblina e de promessas.
Nasceu!
Num caixote velho de latas de óleo,
Entre desperdícios sujos e usados.

O clarão dos holofotes chamou lã os vadios de todas as noites:
Os quarda-noturnos, os polícias de giro,
Os que não têm cama para dormir,
Os poetas e os fugidos à lei — todos! —
Todos os que naquela e nas outras noites
Não têm para onde ir, nem têm onde comer.
Foi, porém, o clarão dos holofotes gastos que os levou lá:
E viram, sobre os desperdícios sujos, num caixote velho,
O Redentor do mundo,
Aquecido pelos dez cavalos-vapor de um velho "Ford T"
Que, trabalhando, acordava a vida no arrabalde longínquo.

S. José e Nossa Senhora choravam:

Todos pediam no mundo a ressurreição do Cristo!
E Ele viera, Ele encarnara de novo
Através do ventre puríssimo da Virgem,
Sob a custódia lirial do descendente de David.

Os donos de carros de luxo cortavam o nevoeiro
Comprometidos pelas amantes caras que ficavam para trás;
As camionetas de transporte temeram a polícia das estradas
E os outros todos também não quiseram dar boléia
Ao Filho de Deus. (... )

Fonte: Jornal de Poesia

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

PRESENTES! - Para José Ângelo Lobo do Amaral

Perante o monumento
Aos combatentes mortos do Ultramar,
Perfilo-me um momento
E canto: “Heróis do mar…”

Cada um é um herói
Ao enfrentar a morte
Pela pátria que foi,
Leal e forte.

Morreram? Quem é grato
Ao sangue derramado
Na emboscada no mato
Plo peito de soldado?

Não fosse o monumento
(Quem soube erguê-lo à vida?),
Nomes, iam no vento
Da memória perdida.

Vamos bradar: — Presentes!
Presentes neste chão
(— Meu coração, não sentes
Alar-se o coração?).

Presentes na saudade
E presentes na História.
Aqui, a eternidade!
Aqui, a glória!

04Mar2006

NOVO POSTAL A RODRIGO EMÍLIO

Caro Rodrigo:
Se insisto na correspondência,
Arrisco-me a perder o amigo.
Peço-te paciência!

Mas quero confessar com que emoção
Folheei esse fogo, febre, fé
Que a Fátima te fez voar a inspiração,
Com sacrifício do cigarro e do café.


Diante do teu livro, ajoelhei:
Pus-me a rezá-lo como a um rosário.
E, quando terminei,
Floriam rosas pelo Santuário.

Hoje, a tua alma jaz
Aos pés de Nossa Senhora:
Recebes o seu Sol como uma paz,
Plo tempo que não tem ano nem hora.


Deixa-te estar aí, esquece os males da terra.
Tua presença, aqui, nunca é esquecida.
Os teus livros és tu que se descerra.
Lê-los, é ver-te em vida.

22Fev2006

BILHETE POSTAL PARA RODRIGO EMÍLIO

A tua presença fez-me falta,
Agora, que lancei um livro mais,
Onde se exalta
O teu nome e os teus versos imortais.

Queria-te ao meu lado,
Para ouvir-te a opinião e o conselho,
Como no ano passado,
Para saber se estou demasiadoVelho.

Lê o livro por cima dos meus ombros.
É pequeno, não cansa.
Fala de mim, da Pátria reduzida a escombros,
No fatal dia, com menor esperança.

Responde-me no vento e no canto das aves,
Teus companheiros do céu,
E diz-me se achaste, ainda, novidades
Nos meus versos. Valeu?

24Jan2006

EPÍGRAFE

Sempre que a Pátria decreta
Vem-nos de Deus o recado
- E veste-se cada poeta
De soldado.

Já de Macau me despeço para sempre e nunca mais


Já de Macau me Despeço para Sempre e Nunca Mais

Soubesse eu dar expressão
à mágoa que me domina…!

(Tenho, hoje, o coração
da côr da Tinta-da-China”…)

Traição atrás de Traição,
Está consumada, à pressão,
A geral carnificina…!

(Tenho, hoje, o coração
da côr da Tinta-da-China.)

Portugal caíu ao chão.
Cresce, em montão, a ruína…

(Tenho, hoje, o coração
da côr da Tinta-da-China.)

Já Macau baixa ao porão
De um galeão à bolina…

… E o peso da cerração
Sem tino, que tem em cima,
Tolda a visão da monção
Que o destino lhe destina.

Já Macau baixa ao porão;
e, em cega navegação,
recolhe, atrás da cortina…

(Tenho, hoje, o coração
da côr da Tinta-da-China…!)

Não há palavras à mão
de semear, metro ou rima
que dêem voz ou vazão
ao vazio da erosão
que tudo mina e fulmina!

(Tenho, hoje, o coração
da côr da Tinta-da-China…!)

O Império (Diz-se) foi chão
que deu uvas p´rá vindima
ao primeiro capitão
ou capataz da esquina…

(Tenho, hoje, o coração
da cõr da Tinta-da-China…!)

Entra em zona de Tufão
Todas a pátria ultramarina
- e é que, da costa ao sertão,
já nem rota nem rotina…!

Sofre cada possessão,
sopra um suão de chacina!
(Tenho, hoje, o coração
da côr da Tinta-da-China…!)

Porca de sorte, a que estão
Tendo o reino e os que lhe são
seiva de cada Talhão!
Porca de sorte suína!...

(Tenho, hoje, o coração
da côr da Tinta-da-China…!)

Da Eslávia ao Industão,
na Nipónia à Palestina,
do Malabar a Ceilão,
da Ameríndia até Damão,
Goa, Diu… e Hiroschima,
- só marés de perdição
e turbilhões de má sina…!

(Tenho, hoje, o coração
da côr da Tinta-da-China…!)

Póde haver lá tradução
Para a mortificação,
Face à agonia, a aflição
Que me alucina e lancina?!...

(Tenho, hoje, o coração
da côr da Tinta-da-China…!)

Anda à solta, um furação
que, de roldão, tudo mina…
(Tenho, hoje, o coração
da côr da Tinta-da-China…!)

Rodrigo Emílio, Lisboa, aos 18 de Dezembro de 1999
OBS: Cópia de Rui Moio

Fadista Velhinho

Um fadista já velhinho
Muito triste coitadinho
Contou-me quase a chorar
As saudades do passado
Em que ele cantava o fado
Que todos queriam escutar

Contou-me então como era
As noitadas que fizera
Fadistas e cavaleiros
Um alegre São Martinho
Nos retiros com bom vinho
E o calor dos fogareiros

De olhos semi-cerrados
Baixinho lembrou os fados
Sua tristeza aumentou
Mas parando de repente
Olhando-me bem de frente
Com voz mais firme afirmou

A minha grande tristeza
Não me é dada pela pobreza
Nem lembranças que contei
É o medo de morrer
Sem de novo poder ver
Portugal ter o seu rei.

Letra: João Ferreira-Rosa Música: Marcha de Alfredo Marceneiro

Fonte: Blogue A Taverna do Embuçado - Post de 02Jan2008

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

AQUELA MORTE NAQUELE DIA

AQUELA MORTE NAQUELE DIA
Para o Beckert d`Assumpção, descendente do Barão d`Assumpção, que mandou edificar o Farol da Guia, o primeiro das costas da China.

Os castelos e as quinas começam a sangrar.
Macau, em lágrimas, comove.
Vai engoli-la o céu? Vai naufragá-la o mar?
A névoa esconde a cor das bandeiras no ar.
Chove.

Paira o fantasma de uma igreja. Um sino
Põe-se, lento, a dobrar, moribundo e pesado.
Nenhum Natal acode. A estrela do destino
Não anuncia o Nascimento do Menino,
Mas o Nome de Deus crucificado.

Só cemitérios, cinzas, sombras vagas…
“Não suspireis. Não respireis.” (Alguém murmura?)
Escorrem solidão as faces e as chagas.
A nau-espectro afunda-se nas vagas.
Apagou-se o farol. É noite escura.

O poeta rasgou o alvor da epopeia.
Dela, aqui, não restará lembrança…
O heróico ritmar de uma túmida veia
Extinguiu-se na vaza da pátria agora alheia:
Já não pode rimar futuro com esperança.

Cinco séculos quase a existir Portugal,
Macau, em sangue e lágrimas, desfalece e comove.
Mão assassina assina, na pedra sepulcral,
Um nome ateu, traidor, sobre a data final:
Aos 20 de Dezembro. Ano 99!

O NAUFRÁGIO DE MACAU

Para a Teresa Bernardino

A derradeira nau,
Partindo o leme e o velame roto,
Naufragou em Macau,
Por traição do piloto.

E fora a mais leal:
Em quatro séculos hasteara à ré
O pavilhão de Portugal,
Para glória do Império e defensão da Fé.

E era santo dos santos o seu nome,
Mas erguia na gávea o demo de vigia
Que sem um renegar que o vença e dome
A faz varar na vaza desta maré vazia.

Tripulou-a Camões
Que ali lembrou, previu: — Dos Portugueses,
Com seus profanos corações,
Houve traidores algumas vezes.

Tripulou-a Pessanha,
Murmurando entre névoas de ópio e olvido,
Como quem num queixume e presente desdenha:
“Eu vi a luz em um país perdido.”

Da última da Armada
Que em novos mares buscou cada porto ignorado;
Da jamais apresada,
Tendo ao pirata vil o fuzil apontado,
Hoje como não resta nada
Mais do que o pranto da História e a raiva do meu brado:

— Quem impede o traidor de morrer enforcado?

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