A velha ponte-cais de traves carcomidas,
O morro triste, a antiga fortaleza,..
o deserto a avançar sobre o mar
e a polvilhar a cidade pobre
da sua poeira amarela...
O deserto a sepultar a cidade pobre...
As hortas do Giraul, mancha tímida
e verde no areal.
O jardim emurchecido, queimado
e ressequido pelo sol de África,
- Parque frondoso que a memória guardou,
Imagem que a vida destruiu neste reencontro,
o jardinzinho da cidade,
Já sem o coreto para a música,
Mas com a fileira dos espectros...
A longa, a interminável fileira dos espectros...
A Miss Blond a acompanhar os meninos a passeio,
O Tigre, pachorrento e mansarrão.
Os pretos, o olhar submisso e espantado,
Com as correntes aos pés,
Na rua de casas térreas e de piso mole.
A Miss Blond deixou de acompanhar
os meninos a passeio,
O Tigre, erguido a cão nobre,
morreu de velho,
Os pretos quebraram as correntes,
Só os espectros ficaram, pávidos,
Onde os havia deixado;
Só eles povoam a lembrança,
Habitam a cidade;
Só as suas vozes ecoam no deserto,
As vozes estremecidas,
As vozes perdidas
Na casa desabitada que a poeira do deserto cobriu,
Na vida, que a poeira do tempo cobriu,
Na morte, na saudade, na morte...
Baía de Moçâmedes, 8 de Dezembro de 50.
Fonte: Poemas Imperfeitos
sábado, 26 de janeiro de 2008
Reencontro
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