terça-feira, 30 de outubro de 2012

Saudades de um valdevinos

Oh que saudade, Deus meu, que saudade
da minha juventude e dos amores que vivi,
que me abalam o coração se ainda penso em ti,
e em todas que amei. Deus meu, que saudade...

Que saudade dessa vida plena, alegre, e divertida,
dos Diabos do Rítmo, das serenatas, e churrascadas
em noites de luar... das capoeiras todas depenadas.
Ai que saudade, Deus meu, que belos tempos da vida...

Tempos, sem doenças, nem dores, que já vão longe,
entre parentes e malta amiga, louca e desavergonhada,
que nas ruas da Cidade mostrava uma alegria danada...

Tempos de férias de verão, sem Liceu nem Maconge,
só de suspiros e cantos d'amor até ao clarear da madrugada,
ao acordar na Praia com o calor do Sol e a pele queimada ...

NECO (Mangericão) - 
19.05.2009

Fonte: Blogue "Gente do meu tempo", post de 3/Abr/2010

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

He andado muchos caminos

He andado muchos caminos
he abierto muchas veredas;
he navegado en cien mares
y atracado en cien riberas.

En todas partes he visto
caravanas de tristeza,
soberbios y melancólicos
borrachos de sombra negra.

Y pedantones al paño
que miran, callan y piensan
que saben, porque no beben
el vino de las tabernas.

Mala gente que camina
y va apestando la tierra...

Y en todas partes he visto
gentes que danzan o juegan,
cuando pueden, y laboran
sus cuatro palmos de tierra.

Nunca, si llegan a un sitio
preguntan a donde llegan.
Cuando caminan, cabalgan
a lomos de mula vieja.

Y no conocen la prisa
ni aún en los días de fiesta.
Donde hay vino, beben vino,
donde no hay vino, agua fresca.

Son buenas gentes que viven,
laboran, pasan y sueñan,
y un día como tantos,
descansan bajo la tierra.

Fonte: Repórter das Coisas - post de29Fev2008

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Poema TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL

João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro
da Babiblónia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar  Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

Fonte: Antologia Manuel Bandeira, Relóbio d'Água, Março de 2006, Pág. 114

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Canção da Primavera


Primavera, Ilustração Marie Cramer.-

Mário Quintana (Para Érico Veríssimo)
-
Primavera cruza o rio
Cruza o sonho que tu sonhas.
Na cidade adormecida
Primavera vem chegando.
 -
Catavento enloqueceu,
Ficou girando, girando.
Em torno do catavento
Dancemos todos em bando.
 -
Dancemos todos, dancemos,
Amadas, Mortos, Amigos,
Dancemos todos até
-
Não mais saber-se o motivo…
Até que as paineiras tenham
Por sobre os muros florido!
-
Em: Canções, de Mario Quintana, Rio de Janeiro, Globo: 1946
Fonte: Blogue "Peregrinacultural's Weblog", post de 07Out2012

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Minha Aldeia


Vista parcial de Ouro Preto, s/d
Mário Agostinelli (Peru 1915 – Brasil, 2000).
óleo sobre tela colada em madeira, 47 x 56 cm

Minha aldeia

Minha aldeia é todo o mundo.
Todo o mundo me pertence.
Aqui me encontro e confundo
com gente de todo o mundo
que a todo o mundo pertence.
-
Bate o sol na minha aldeia
com várias inclinações.
Ângulo novo, nova ideia;
outros graus, outras razões.
Que os homens da minha aldeia
são centenas de milhões.
-
Os homens da minha aldeia
divergem por natureza.
O mesmo sonho os separa,
a mesma fria certeza
os afasta e desempara,
rumorejante seara
onde se odeia em beleza.
-
Os homens da minha aldeia
formigam raivosamente
com os pés colados ao chão.
Nessa prisão permanente
cada qual é seu irmão.
Valências de fora e dentro
ligam tudo ao mesmo centro
numa inquebrável cadeia.
Longas raízes que imergem,
todos os homens convergem
no centro da minha aldeia.
-
Em: Poesias completas (1956-1967), coleção Poetas de hoje, Lisboa, Portugália:s/d
-
Fonte: Blogue "Peregrinacultural'S Weblog, post de 18Out2012.

domingo, 14 de outubro de 2012

Quadrinha do aluno confuso


-
Pergunta a mestra ao menino,

aluno meio confuso:
- a porca… tem masculino?
- tem, ‘fessora… o pafuso! Fonte

Fonte: Blogue "Peregrinacultural's weblog", post de 03Out2012

domingo, 7 de outubro de 2012

Balada ditirâmbica do pequeno e do grande filho-da-puta


O pequeno filho-da-puta
é sempre
um pequeno filho-da-puta;
mas não há filho-da-puta,
por pequeno que seja,
que não tenha
a sua própria
grandeza,
diz o pequeno filho-da-puta.

no entanto, há
filhos-da-puta que nascem
grandes e filhos-da-puta
que nascem pequenos,
diz o pequeno filho-da-puta.
de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos,diz ainda
o pequeno filho-da-puta.

o pequeno
filho-da-puta
tem uma pequena
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o pequeno
filho-da-puta.

no entanto,
o pequeno filho-da-puta
tem orgulho
em ser
o pequeno filho-da-puta.
todos os grandes
filhos-da-puta
são reproduções em
ponto grande
do pequeno
filho-da-puta,
diz o pequeno filho-da-puta.

dentro do
pequeno filho-da-puta
estão em ideia
todos os grandes filhos-da-puta,
diz o
pequeno filho-da-puta.
tudo o que é mau
para o pequeno
é mau
para o grande filho-da-puta,
diz o pequeno filho-da-puta.

o pequeno filho-da-puta
foi concebido
pelo pequeno senhor
à sua imagem
e semelhança,
diz o pequeno filho-da-puta.

é o pequeno filho-da-puta
que dá ao grande
tudo aquilo de que
ele precisa
para ser o grande filho-da-puta,
diz o
pequeno filho-da-puta.
de resto,
o pequeno filho-da-puta vê
com bons olhos
o engrandecimento
do grande filho-da-puta:
o pequeno filho-da-puta
o pequeno senhor
Sujeito Serviçal
Simples Sobejo
ou seja,
o pequeno filho-da-puta.

II
o grande filho-da-puta
também em certos casos começa
por ser
um pequeno filho-da-puta,
e não há filho-da-puta,
por pequeno que seja,
que não possa
vir a ser
um grande filho-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.

no entanto,
há filhos-da-puta
que já nascem grandes
e filhos-da-puta
que nascem pequenos,
diz o grande filho-da-puta.

de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o grande filho-da-puta.

o grande filho-da-puta
tem uma grande
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o grande filho-da-puta.

por isso
o grande filho-da-puta
tem orgulho em ser
o grande filho-da-puta.

todos
os pequenos filhos-da-puta
são reproduções em
ponto pequeno
do grande filho-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.
dentro do
grande filho-da-puta
estão em ideia
todos os
pequenos filhos-da-puta,
diz o
grande filho-da-puta.

tudo o que é bom
para o grande
não pode
deixar de ser igualmente bom
para os pequenos filhos-da-puta,
diz
o grande filho-da-puta.

o grande filho-da-puta
foi concebido
pelo grande senhor
à sua imagem e
semelhança,
diz o grande filho-da-puta.

é o grande filho-da-puta
que dá ao pequeno
tudo aquilo de que ele
precisa para ser
o pequeno filho-da-puta,
diz o
grande filho-da-puta.
de resto,
o grande filho-da-puta
vê com bons olhos
a multiplicação
do pequeno filho-da-puta:
o grande filho-da-puta
o grande senhor
Santo e Senha
Símbolo Supremo
ou seja,
o grande filho-da-puta.

Alberto Pimenta


Alberto Pimenta no Jardim Zoológico de Lisboa em 1977, durante uma performance/happening intitulada Homo Sapiens
Fonte. Blogue "A Matéria do Tempo", post de 06Out2012

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

VIETNAMITAS UM POEMA PARA CONTAR

VIETNAMITAS UM POEMA PARA CONTAR:


Diz-se que recordar é viver
e é certo que assim é
Alegrias e tristezas, tudo porém trás,
quem viu e assitiu
a essa onda de gente a Macau aportar
Seu coração se oprimiu
na esperança de os ajudar!...
Foi assim, que certa manhã
um telefonema recebi,
era o Padre Nicósia a comunicar
que perto da Leprosaria de Ká Ho
pessoas estavam a desembarcar
Sóinho para lá segui
e ao ver aquela gente
meu coração chorou!...
Homens, mulheres e crianças
acabados de chegar
num barco que ao mar os deitou,
eram vietnamitas e à costa vieram dar.
Foi o começo de um longo exôdo.
Pela primeira vez vietnamitas
a Macau vieram parar
um grupo de vinte e três
antigas patentes militares e famílias
O Governo de Macau ajudou,
para outros países enviar,
dezenas, centenas e até milhares
das embarcações
que a Macau vieram aportar
Era tanta, tanta gente,
que não havia mais lugar
para as alojar.
Ilha Verde estava cheia
S. Rafael a abarrotar,
em Ká Ho barracas cheias
sem espaço para as albergar
A tudo isto a ONU e seu Alto Comissário
em Macau, Padre Lancelote
tudo fazim para ajudar
Outros locais se procuraram
para vietnamitas alojar,
mas eram tantos, tantos, tantos
que no mar, junto à ponte cais  da Taipa
tiveram que ficar!...
Foram anos de auxílio,
a esse povo carente
e Macau económicamente se resentiu
visto ter que igualmente sua população ajudar,
que pagando suportava esse povo carente
sendo um auxílio exemplar.
Mas, um dia chegou,
que o Governo decretou
Esse auxílio terminar,
foi então que recusou
vietnamitas a ficar.
Novas levas vinham chegando
para em Macau tentar ficar,
porém, agora era diferente
e toda essa pobre gente
para o alto mar teria que rumar.
Tivemos que começar
essa triste missão
rebocando os barcos para o alto mar
com tristeza no coração
Tristes porém partiam,
vedetas que os acompanhavam
água, gasóleo e comida lhes davam
e, devagar os rebocando
as serenas águas iam sulcando
até às próximidades de Hong Kong chegar.
Barcos pequenos e grandes,
sampanas e alcofas tudo servia
para do Vietname sair
A fim de a liberdade encontrar
pagavam a peso de ouro
para as autoridades subornar
No alto mar eram roubados
e de tudo despojados,
muitos haviam de morrer,
nas costas da Malásia metralhados
Para chegarem ao destino,
muito tiveram que penar,
foram centenas de milhares
que conseguiram sobreviver
e a Macau aportar
Terra Santa acolhedora
que sempre os soube ajudar
Tragédias muitas houvera,
e muito teria que contar!...
mas, um dia tudo mudou
Não mais Vietnamitas em Macau
Hong Kong passou a ser
o cento principal
e anos passaram em campos de refugiados
aguardando seu retorno, para o Vietname
No Museu Marítimo de Macau
frageis embarcações podemos visionar
e muitas delas tem a sua história para contar.

Fonte: Blogue "O Mar do Poeta", post de 01Out2012.

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