sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Minha Aldeia


Vista parcial de Ouro Preto, s/d
Mário Agostinelli (Peru 1915 – Brasil, 2000).
óleo sobre tela colada em madeira, 47 x 56 cm

Minha aldeia

Minha aldeia é todo o mundo.
Todo o mundo me pertence.
Aqui me encontro e confundo
com gente de todo o mundo
que a todo o mundo pertence.
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Bate o sol na minha aldeia
com várias inclinações.
Ângulo novo, nova ideia;
outros graus, outras razões.
Que os homens da minha aldeia
são centenas de milhões.
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Os homens da minha aldeia
divergem por natureza.
O mesmo sonho os separa,
a mesma fria certeza
os afasta e desempara,
rumorejante seara
onde se odeia em beleza.
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Os homens da minha aldeia
formigam raivosamente
com os pés colados ao chão.
Nessa prisão permanente
cada qual é seu irmão.
Valências de fora e dentro
ligam tudo ao mesmo centro
numa inquebrável cadeia.
Longas raízes que imergem,
todos os homens convergem
no centro da minha aldeia.
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Em: Poesias completas (1956-1967), coleção Poetas de hoje, Lisboa, Portugália:s/d
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Fonte: Blogue "Peregrinacultural'S Weblog, post de 18Out2012.

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