segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Aos irmãos

via Angola: os poetas de kinaxixi em 17/09/09
homens do mesmo chão
entrelaçai as mãos
e ficai firmes
e másculos em tudo
diante de tudo

ninguém deve morrer derrotado
morrer depois de cumprir
é o que a vida e a terra exigem

tu
filho da nossa mesma mãe
sê inteiro e vertical
em qualquer tempestade!

um dia
ao voltares à telúrica maternidade
não tragas os germes da cobardia
não infectes a terra-mãe-santa
com um sangue podre de falsidade

que a tua campa
não seja uma nódoa
no corpo e na carne da nossa mãe

Tomaz Jorge (1928-2009)

Nota: Filho do poeta Tmaz Vieira da Cruz, nasceu em Luanda.
Participou no movimento literário nacionalista "Vamos descobrir Angola" com outros intelectuais como Agostinho Neto, António Jacinto e Viriato da Cruz, pelo que foi várias vezes preso.
Foi membro fundador da União de Escritores Angolanos.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Pátria

Irmão Negro!
Tu tens braços longos como a noite,
e vens na voz das casuarinas
batidas pelo vento,
beijar as bandeiras erguidas
sobre o teu sofrimento...
Tu que sais agora das cavernas
do medo e da escuridão,
para entoar ao sol escaldante
o canto da tua libertação
Que sulcas com rios de esperança
a vida morta do meu país,...
que fecundas com sangue e suor de esperança
a vida morna do meu país,...
Tu— Irmão Negro— Homem da Terra!
junta a tua voz à minha voz,
e sob a agonia quente deste céu,
vem dizer também,
que a Pátria não morreu.
Vem dizer
que para além
de tudo o que é passado e porvir,
a Pátria das palmeiras e dos dongos ficará...
p’ra sempre ficará brilhando,
sobre a campa dos Homens que se foram
e sobre o berço dos Homens que hão-de vir…

Alda Lara, In Poemas, Porto, Vertente, 1984 (4ª ed.)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O GRANDE POEMA

Este é o poema que eu escrevi
para as crianças da minha terra!...
Para as crianças negras,
e brancas,
e mestiças,
sem distinção de cor...
comungando o Amor
que as unirá...
Este é o poema que eu escrevi a sonhar,...
de olhos perdidos no mar,
que me separa delas...
O poema que escrevi a sorrir…
a gritar confianças desmedidas
nas ânsias partidas,...
quebradas,...
como velas de naufrágio!...
O poema que eu escrevi a soluçar,
sobre os livros
onde não encontrei
para os sonhos resposta um dia!...
Alda Lara - 1949

Lago [do Campo Grande - Lisboa]

Todo o meu ser
é um lago fundo e doce…

Por onde passeiam barcos
com meninos…

namorados que se beijam
em noites sem destino…

e também tu! Oh belo solitário
inesquecível…

Todo o meu ser é um lago
doce e fundo…

onde a tristeza,
é uma ansiosa e definível

Alda Lara - Campo Grande, Agosto de 1959

Sô Santo

lá vai o sô santo…

bengala na mão
grande corrente de ouro, que sai da lapela
ao bolso… que não tem um tostão.

quando o sô santo passa
gente e mais gente vem à janela:
-"bom dia, padrinho…"
-"olá…"
-"beçá cumpadre…"
-"como está?..."
-"bom-om di-ia sô santo!..."
-"olá povo!..."

mas porque é saudado em coro?
porque tem muitos afilhados?
porque tem corrente de ouro
a enfeitar sua pobreza?...
não me responde, av`naxa?

-"sô santo teve riqueza…
dono de musseques e mais musseques…
padrinho de moleques e mais loleques…
macho de amantes e mais amantes,
beça-nganas bonitas
que cantam pelas rebitas:

"muari-ngata santo
dim-dom
ual'o banda ó calaçala
dim-dom
chaluto um muzombo
dim-dom…"

sô santo…

banquetes p'ra gentes desconhecidas
noivado da filha durando semanas
kikoto e batuque pró povo cá fora
champanha, 'ngaieta tocando lá dentro…
garganta cansando:
"coma e arrebenta
e o que sobrar vai no mar…"

"hum-hum
mas deixa…
quando o sô santo morrer,
vamos chamar um kimbanda
para 'ngombo nos dizer
se a sua grande desgraça
foi desamparo de sandu
ou se é já própria da raça…"

lá vai…
descendo a calçada
a mesma calçada que outrora subia
cigarro apagado
bengala na mão…

… se ele é o símbolo da raça
ou vingança de sandu…

Fonte: via Angola: os poetas de kinaxixi em 08/09/09

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Voz quente, num poema muito português,

De Rui Moio a 3 de Setembro de 2009 às 23:17

Mil agradecimentos pela transcrição.
Ouvir a voz quente e única de José Ramos é e será sempre um encanto sempre renovado.
José Nuno Martins afirmou que no mundo só deveria haver, quando muito, 5 vozes como esta, como esta voz, a do saudoso radialista José Ramos.

Rui Moio


via Estado Sentido de Cristina Mendes Ribeiro em 10/06/09

que fui roubar a Rui Moio.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Rui Moio












De braço ao alto, quebrado
Como num salvé
Do Império antigo e longínquo
De que somos a argamassa.

Moio, Moio yobé
Foi emoção forte
Que ficou de Cangamba
E por nome,
O nome que o pai deu
Lá na Missão do fim do Mundo
Gigantesca de obra
No Império novo de que somos parte.

De uma união mista
De História, de grandeza, de heroicidade
De sacrifício nunca cobrado
De décadas e de séculos de comunhão
Foi parido no chão quente
Um escrevinhador que se alimenta de emoção.

Mentalmente elaborado na cama, na casa da Quinta Nova, na manhã de 31Ago2009.

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