sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Já de Macau me despeço para sempre e nunca mais


Já de Macau me Despeço para Sempre e Nunca Mais

Soubesse eu dar expressão
à mágoa que me domina…!

(Tenho, hoje, o coração
da côr da Tinta-da-China”…)

Traição atrás de Traição,
Está consumada, à pressão,
A geral carnificina…!

(Tenho, hoje, o coração
da côr da Tinta-da-China.)

Portugal caíu ao chão.
Cresce, em montão, a ruína…

(Tenho, hoje, o coração
da côr da Tinta-da-China.)

Já Macau baixa ao porão
De um galeão à bolina…

… E o peso da cerração
Sem tino, que tem em cima,
Tolda a visão da monção
Que o destino lhe destina.

Já Macau baixa ao porão;
e, em cega navegação,
recolhe, atrás da cortina…

(Tenho, hoje, o coração
da côr da Tinta-da-China…!)

Não há palavras à mão
de semear, metro ou rima
que dêem voz ou vazão
ao vazio da erosão
que tudo mina e fulmina!

(Tenho, hoje, o coração
da côr da Tinta-da-China…!)

O Império (Diz-se) foi chão
que deu uvas p´rá vindima
ao primeiro capitão
ou capataz da esquina…

(Tenho, hoje, o coração
da cõr da Tinta-da-China…!)

Entra em zona de Tufão
Todas a pátria ultramarina
- e é que, da costa ao sertão,
já nem rota nem rotina…!

Sofre cada possessão,
sopra um suão de chacina!
(Tenho, hoje, o coração
da côr da Tinta-da-China…!)

Porca de sorte, a que estão
Tendo o reino e os que lhe são
seiva de cada Talhão!
Porca de sorte suína!...

(Tenho, hoje, o coração
da côr da Tinta-da-China…!)

Da Eslávia ao Industão,
na Nipónia à Palestina,
do Malabar a Ceilão,
da Ameríndia até Damão,
Goa, Diu… e Hiroschima,
- só marés de perdição
e turbilhões de má sina…!

(Tenho, hoje, o coração
da côr da Tinta-da-China…!)

Póde haver lá tradução
Para a mortificação,
Face à agonia, a aflição
Que me alucina e lancina?!...

(Tenho, hoje, o coração
da côr da Tinta-da-China…!)

Anda à solta, um furação
que, de roldão, tudo mina…
(Tenho, hoje, o coração
da côr da Tinta-da-China…!)

Rodrigo Emílio, Lisboa, aos 18 de Dezembro de 1999
OBS: Cópia de Rui Moio

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