segunda-feira, 30 de julho de 2007

O Campino

Campino do Ribatejo!

Figura que nasce e morre
Nos campos da beira-mar!
Tão portuguesa e tão bela
Na sua simplicidade
Que até na sua pobreza
Nunca sabe mendigar!

Entre cavalos e toiros
Na lezíria assoalhada
A sua figura esbelta
Tem um encanto infinito:
Barrete verde; o colete
Encarnado sobre a neve

Da camisa de algodão;
Jaleca bem recortada,
Meia branca, os albardões,
As esporas, o calção
Azul cobalto justinho
E a cinta escarlate quente
Da cor do sangue ou do vinho.

Além, naquele valado,
As papoilas e o junquilho
Fazem trofeu, há mais luz!

Um harmónio no fadango
Vibra e salta no compasso
Magoadamente agitado!

Anda no ar o farrapo
Dolente de uma cantiga
Mordida pelo ciúme!

E o fandango vai dançado!

Ninguém se mexe. Só ele,
Bamboleado, rirail
Desempenado, perfeito,
- E as pernas? Como ele as dobra?

E aquela curva do peito?
Trás um cravo na orelha,
E dança, dança, - o harmónio
Vai-lhe graduando o alento,
A luz perturba, - mulheres
Ficaram mudas a olhá-lo!

A garotada assobia
Acentuando o mitovo
Musical, mas, a preceito;
E o Sol, apesar do dia
Nascer fosco e marralheiro,
Parece lume! - O fandango
Com a graça de um campino
É Portugal verdadeiro!

Ódio e Amor, Edições Ática, 1947

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