sábado, 21 de julho de 2007

A Benção da locomotiva

A obra está completa. A máquina flameja

Desenrrolando o fumo em ondas pelo ar.

Mas antes de partir mandem chamar a Igreja

Que é preciso que o bispo a venha baptizar.


Como ela é com certeza o fruto de Caim,

A filha da razão, da independência humana,

Batem-lhe na fornalha uns trechos de latim

E convertam-se à fé Católica Romana.


Devem nele existir diabólicos pecados,

Proque é feita de cobre e ferro, e estes metais

Saem da natureza, ímpios, excomungados,

Como saimos nós dos ventres maternais!


Vamos esconjurai-lhe o demo que ele encerra,

Extraí a heresia ao aço lampejante!

Ele acaba de vir das forjas de Inglaterra,

E há-de ser com certeza um pouco protestante.


Para que o monstro em fervido galope

Como num sonho febril, num doido turbilhão,

Além do maquinista é necessário o hissope,

E muita teologia... além de algum carvão.


Atirem-lhe umas hóstias à boca famulenta,

Preguem-lhe alguns sermões, ensinem-lçhe a rezar,

E lancem na caldeira um pouoc d’ água benta

Que com água dos céus talvez não possa

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