Não cuides que me esqueço.
A memória, -
está na aurícula direita
do coração.
Areia áurea, erecta,
que palpita de paixão
e a boca do poeta deixou escrita
nas linhas da palma da mão.
Não: eu não me esqueço.
E se quiseres eu lembro:
Corria o mês de Dezembro,
o mês do Mestre de Avis,
e tu, sereno e feliz,
surgiste num ecran de vidro
a dizeres que era de ferro
o nosso patriotismo.
Que é feito de ti, Zé Soldado,
Soldado de Portugal?
Era noite. E o Menino Jesus
faltava lá no Minho, esse Natal.
Parecia tão triste, a tua mãe.
E o teu pai, que nem bebia vinho?
também triste, tão sozinho,
nessa noite. E o Menino Jesus
faltava lá no Minho esse Natal.
E tu surgiste, no ecran de luz,
sorridente, alegre, apaixonado,
a dizer:
- que o pecado
era não lutar por Portugal.
Mas que é feito de ti, Zé Soldado?
Que é feito de ti, afinal?
Falaste com saudade e com orgulho.
E, no carinho dos teus,
não era essa verdade um sonho:
era um poema em rascunho
escrito pelo punho de Deus.
Eram dez horas. E depois da ceia
suspensa da tua voz, da tua imagem,
lá estava toda a aldeia
a dizer à boca-cheia:
este sim, tem coragem.
Quase que já não se ouviram
as palavras que disseste no final
(Eu não me esqueço...)
Disseste:
Adeus. Até ao meu regresso.
À tua espera
está suspenso Portugal.
sábado, 1 de dezembro de 2007
POEMA PARA O ZÉ SOLDADO
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