sábado, 1 de dezembro de 2007

CRÓNICA

Eram barcos e barcos que largavam
Fez-se dessa matéria a nossa vida
Marujos e soldados que embarcavam
E gente que chorava à despedida

Ficámos sempre ou quase ou por um triz
Correndo atrás das sombras inseguras
Sempre a sonhar com índias e brasis
E a descobrir as próprias desventuras

Memória avermelhada dos corais
Com sangue e sofrimento amalgamado
Se rasga escuridões intemporais
Traz-nos também nas algas enredados

E ganhou-se e perdeu-se a navegar
Por má fortuna e vento repentino
E o tempo foi passando devagar
Tão devagar nas rodas do destino

Que ou nós nos encontramos ou então
Ficamos uma vez mais à deriva
Neste canto que é nosso próprio chão
Sem que o canto sequer nos sobreviva.

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