«Como fizeste, Pórcia, tal ferida?
Foi voluntária, ou foi por inocência?»
«Mas foi fazer Amor experiência
se podia sofrer tirar-me a vida».
«E com teu próprio sangue te convida
a não pores à vida resistência?»
«Ando-me acostumando à paciência,
por que o temor a morte não impida».
«Pois porque comes, logo, fogo ardente,
se a ferro te costumas?» «Porque ordena
Amor que morra e pene juntamente».
«E tens a dor do ferro por pequena?»
«Si; que a dor costumada não se sente.
E eu não quero a morte sem a pena».
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