domingo, 26 de agosto de 2007

Os Maximbombíadas

Largo da Mutamba - Luanda
Canto Primeiro (e único)

I

Os revisores e motoristas malcriados
Que da Mutamba, praça angolana,
Em autocarros sem serem lavados
Maltratam a gente lusitana
Mais do que permite a força humana.
Entre gente pacata edificaram
Uma fama de que não se livraram.

II

E também as memórias gloriosas
Dos fiscais, que foram perfurando
Os bilhetes e os passes das gentes operosoas
Que o reuino do trabalho vai buscando.
Mas quando, en sortidas valorosas,
Se vão do "pesado" mister ausentando:
- ide, todos, para a tal parte...
Dizem eles, com esgenho e arte.

III

Cessem, da Setubalense ou lusitano,
As empresas grandes que fizeram.
Cale-se do Martins d´Évora e Capristanos,
As camionagens grandes que tiveram
Que eu canto os S.M.T.C. angolano
a quem as gentes de Luanda obedeceram.
Cesse tudo o que a antiga Severa canta
Que outra desgraça mais triste se alevanta.

IV

E vós, oh S.M.T.C. pois criado
Tendes em mim um desejo ardente,
Por ver tanto maximbombo empanado
Mesmo levando, lá dentro, tanta gente
De sder responsável interrogado
Por uma certa pergunta mui premente:
- Porque é que, tanto montão de lata,
Não levou, já, o caminho da sucata?

V

Dai-me uma marreta, grossa e poderosoa,
Não uma promessa vaga e que iluda,
Mas de cabo longo e moca belicosa
E irão ver como tudo muda.
Dai-me, também uma verba honrosa
Para salvar a situação "bicuda".
Verão que porei os utentes a andar
A pé, de vagar, p'ra tomar ar.

VI

Enquanto estes canto, a vós não chego
Sublime S.M.T.C., que não me atrevo a tanto.
Lavai os autocarros em sossego
Que daibo! Custará isso assim tanto?
Matai esse vosso nobre apego
A velharias que até nos causam espanto.
Comprai maximbombos como os da Carris.
... Ainda não acabei a frase e tu já ris?!

VII

Ouvi! Não vereis em mim as manhas
Fantásticas, fingidas e mentirosas
Dos que, cá fora, contam as façanhas
Que fizeram e outras desejosas.
As virtudes vossas são tamanhas
Que excedem as sonhadas, fabulosas.
Mas tende dó e piedade do utente,
Ele é "pessoa", como toda a gente.

Poesia heróica, por andar nos ditos...
Dedicada a D. Sebastião, o tal que há-de aterrar, numa manhã de cacimbo, no aeroporto de Nova Lisboa, por causa do mau tempo em Luanda.

Fonte: Diário de Luanda de 24Jun1974 (in rubrica Mutamba 5 da tarde)
Base de Dados de Actualidades (BDA) de Rui Moio

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