domingo, 5 de agosto de 2007

A dona Francisca de Aragão, mandando-lhe esta regra que lha glosasse


MOTE


Mas porém a que cuidados?


VOLTA


Tanto maiores tormentos
foram sempre os que sofri
daquilo que cabe em mi,
que não sei que pensamentos
são os para que naci.
Quando vejo este meu peito
a perigos arriscados
inclinado, bem suspeito
que a cuidadas sou sujeito:
mas porém a que cuidados?


OUTRA AO MESMO


Que vindes em mi buscar,
cuidados, que sou cativo
e não tenho que vos dar?
Se vindes a me matar,
já há muito que não vivo;
se vindes, porque me dais
tormentos desesperados,
eu, que sempre sofri mais,
não digo que não venhais:
mas porém a quê, cuidados?


OUTRA AO MESMO


Se as penas que Amor me deu
vêm por tão suaves meios,
não há que temer receios,
que val um cuidado meu
por mil descansos alheios.
Ter nuns olhos tão fermosos
os sentidos enlevados
bem sei que, em baixos estados,
são cuidados perigosos.
Mas porém, ah! que cuidados!


Redondilhas (Parte II)


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