quinta-feira, 26 de julho de 2007

Quissange - Saudade Negra

          Não sei, por estas noites tropicais,
         o que me encanta...
         Se é o luar que canta
         ou a floresta aos ais.

         Não sei, não sei, aqui neste sertão
         de musica dolorosa
         qual é a voz que chora
         e chega ao coração...

         Qual o som que aflora
         dos lábios da noite misteriosa!

         Sei apenas, e isso é que importa,
         que a tua voz, dolente e quase morta,
         já mal a escuto, por andar ausente,
         já mal escuto a tua voz dolente...

         Dolente, a tua voz "luena",
         lá do distante Moxico,
         que disponho e crucifico
         nesta amargura morena...

         Que é o destino selvagem
         duma canção em que tange,
         por entre a floresta virgem
         o meu saudoso "Quissange".

         Quissange, fatalidade
         deste meu triste destino...
         Quissange, negra saudade
         do teu olhar diamantino.

         Quissange, lira gentia,
         cantando o sol e o luar,
         e chorando a nostalgia
         do sertão, por sobre o mar.

         Indo mares fora, mares bravos,
         em noite primaveril
         acompanhando os escravos
         que morreram no Brasil.

         Não sei, não sei,
         neste verão infinito,
         a razão de tanto grito...

         -Se és tu, oh morte, morrei!

         Mas deixa a vida que tange,
         exaltando as amarguras,
         e as mais tristes desventuras
         do meu amado Quissange!

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