Quem, do alto
de tanta sela
e montada,
tanta vez, em sobressalto,
pôs Castela
em debandada...,
— ...pode lá ver, pela frente
pode lá ter, por diante
(sem que se exalte e se zangue
o seu rompante guerreiro)
, apenas gente aparente... gente
de sangue rafeiro?!...
Na imagem de vitral
do espiritual cavaleiro —
medalhão medieval,
aos pés do qual
me consterno...
—, está ou não PORTUGAL
DE PORTUGAL?...
Está ou não PORTUGAL, inteiro,
e eterno?!...
É mister que, aferro e fogo,
quase tudo, aqui, de novo,
como novo se consagre...
De tal sorte que este povo
possa pôr cobro ao malogro
e opere, em Si, o milagre!
(— Assim nos valha
uma outra
batalha
d’Aljubarrota...)
A coroa da descrença
não há fronte que a suporte
da nascença
até à morte.
(Quanta vez o simples brado
d’uma voz d’além, remota,
tem tirado de cuidado
todo este Povo — e arredado,
do espírito mais crispado,
o espectro da derrota?!...
— Foi, ou não foi, ao mandado
de certa força ignota
que a gente formou quadrado
nos campos d’Aljubarrota?...)
Sob o alto e estuante historial
deste Mosteiro —
Mosteiro de pedra e cal,
perante o qual
me prosterno...
—, está ou não PORTUGAL
DE PORTUGAL?...
Está ou não PORTUGAL inteiro e
eterno?!...
... Mas, enquanto a esperança
não se abre ou entreabre,
dia-a-dia se agiganta
a abadia da memória
— à luz da lança
com que o Santo Condestabre
talhou Santa Maria
da Vitória!...
E ali, é que eu a mim me reúno,
debaixo daquela antiga bandeira
que me quis sagrar aluno
de D. Nuno
Álvares Pereira.
Do alto, lá do Seu posto,
atenda Ele, ao recado
que me foi lançado em rosto,
derramado o Seu desgosto
sobre a data já remota.
— Dia 14 d’Agosto:
Quadrado
d’Aljubarrota!
Quem já deu como morto
o Condestável,
esqueceu que o Seu corpo
é insepultável!...
Esqueceu que d’Ele descendo;
e que o fogo que ora acendo,
e em mais peitos vai ardendo,
só não passa a lume brando
— porque eu d’aqui me encomendo,
outra vez, ao Seu comando!
E a façanha que, de longe,
se desenha para hoje,
traça ali todo um roteiro
— que une a estamenha
do monge
à couraça do guerreiro!
Saia, de novo, a terreiro
— d’atalaia
e a dar ajuda —
todo o povo. O povo inteiro
outra vez contra o estrangeiro
nos acuda:
ponha a andar d’aqui o Andeiro
a tal arraia-miúda!
Arraial, Arraial
(de porrada)
Por PORTUGAL
— e mais nada.
Que sinal d’orfandade
sinal te amarfanha,
Orfeu ofendido?...
— ...Ou sempre é verdade
que a teia d’aranha
que ganha a cidade
te deixa transido?!...
Rodrigo Emílio - In Poemas de Braço ao Alto, 1982, págs. 543/557
Fonte. Blogue: Nonas - post de 09Abr2009
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