sexta-feira, 10 de abril de 2009

BARCO RABELO

Balouço tranquilo em tuas águas
E recordo as viagens de outros tempos
Sem alardes sem pesares sem mágoas
Com saudades sim mas sem lamentos
Para te sulcar muitas vezes fui desfeito
Contra as fragas que estreitavam tuas margens
Muitos cascos meus roçaram no fundo do teu leito
Muita gente ouvi eu rogar-te pragas
Pela triste sina que nos davas
De passar a vida inteira
Na perigosa canseira
De sulcar e de vencer
Rio abaixo rio acima
O teu caudal tenebroso
De águas bravas
Muitos sofreram muitos suaram
Tanto mosto transportado no meu bojo
Para muitos foste caverna e fojo
Quantos estiolaram
Num canto triste de taberna
Tu agora não és rio és estrada
Percorrida por barcos de recreio
Recheados de gente que te olha
Divertida embasbacada
Já sem o receio de outras eras
Os meus tempos foram outros
Terminei a minha faina habitual
Não sei se estou pior se mais feliz
Sou um símbolo do passado nacional
Dei ao mundo a conhecer o meu país
Agora sou um souvenir de Portugal


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