quarta-feira, 29 de abril de 2009
De Santa Maria de Belém para Santa Maria da Vitória
Hino ao Beato Nuno de Sata Maria
Língua-mãe
Vai Alta no Céu
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Quem disse que eu me mudei?
domingo, 26 de abril de 2009
É proibido chorar sem aprender - Tradução para português do "QUEDA PROHIBIDO!"
Identidade
sábado, 25 de abril de 2009
Se tu me amas, ama-me baixinho
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Língua Chã
Canção de Salabu
terça-feira, 21 de abril de 2009
O meu pensar
Ela foi vestida à belle époque
À Miete Marcelino
Fomos peregrinos de tantos lugares
No temporal da revolução
A minha cidade
Prólogo - ao Velo d´Oiro
segunda-feira, 20 de abril de 2009
CUADERNO DE HACER CUENTAS
AMOR SACRÍLEGO
domingo, 19 de abril de 2009
...Liberdade, essa palavra
Exortação frente à estátua do Condestável na Batalha por Couto Viana
Para Mário Saraiva
À ilharga do túmulo real,
Aqui, onde ficou, em pedra e fé, memória
Da mais vital vitória
De Portugal.
E ergue a espada nua. (Em certo dia
Bastara meia espada
Para enfrentar a cobardia
E vencer a batalha antes de começada.)
E o peito ovante oculta, floreada,
A cruz do seu brasão:
Como a sua alma e coração (branca e encarnada),
É divina divisa devotada
Ao Mestre, ao Rei e ao Irmão.
E olha o céu, caminho seu, seguro,
Pois sabe que no céu tudo se escoa
E Deus é sempre o futuro,
O último senhor do ceptro e da coroa.
Ó português que passas, indiferente,
Frente à estátua do Santo, do Herói:
Não te dói o presente?
A tua pátria doente
Não te dói?
Não sentes o desejo, o ímpeto de orar
Àquele que nos foi o salvador;
Pedir-lhe para regressar,
Formar quadrado contra o agressor?
De ter de novo como Capitão,
Por Deus e Pátria e Rei, o Herói, o Santo?
E de poder dizer altivamente não,
Seguindo o seu pendão,
Onde arde a esperança que perdeste há tanto?
Ah, se não queres marchar, em som de guerra,
Tal como ele, por um ideal,
É que não vale a pena o sangue, a terra,
E morre Portugal.
António Manuel Couto Viana
In «Sou quem fui», Edições Ática, Lisboa, 2000, págs. 144/145.
Eu te peço perdão por te amar de repente
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos.
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem
fatalidade o olhar extático da aurora.
Fonte: Blogue AMORE - post de 17Abr2009
O trigo para mim não vale nada
O trigo para mim não vale nada.
Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste!
Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando tiveres me cativado.
O trigo que é dourado, fará com que eu me lembre de ti.
E eu amarei o barulho do vento no trigo...
Fonte: Blogue AMORE - post de 18Abr2009
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Nun`Álvares por Miguel Torga
Pátria — é um palmo de terra defendida.
A lança decidida
Risca no chão
O tamanho do nosso coração,
E todo o inimigo que vier
Tem de retroceder
Com a sombra da morte no pendão.
Eu assim fiz,
Surdo às razões da força e da fraqueza.
(A liberdade não discute os meios
De se manter.)
Mais difícil era a empresa
Que a seguir comecei:
Já sem cota de malha, combater
Por outro Reino e por outro Rei!
In Poemas Ibéricos, 1.ª ed. 1965 e Poesia Completa, Edições D. Quixote, 2000, pág. 710.
Nun`Álvares Pereira por Luís Vaz de Camões
No forte Dom aluerez; mas antes,
Posto que em seus irmãos tão claro o visse,
Reprovando as vontades incostantes,
Àquelas duvidosas gentes disse,
Com palavras mais duras que elegantes,
A mão na espada, irado e não facundo,
Ameaçando a terra, o mar e o mundo:
(Canto IV, est.ª 14)
«Como?! Da gente ilustre Portuguesa
Há-de haver quem refuse o pátrio Marte?
Como?! Desta província, que princesa
Foi das gentes na guerra em toda a parte,
Há-de sair quem negue ter defesa?
Quem negue a Fé, o amor, o esforço e arte
De Português, e por nenhum respeito,
O próprio Reino queira ver sujeito?
(Canto IV, est.ª 15)
Como?! Não sois vós inda os descendentes
Daqueles que, debaixo da bandeira
Do grande Henriques, feros e valentes,
Vencestes esta gente tão guerreira,
Quando tantas bandeiras, tantas gentes
Puseram em fugida, de maneira
Que sete ilustres Condes lhe trouxeram
Presos, afora a presa que tiveram?
(Canto IV, est.ª 16)
Com quem foram contino sopeados
Estes, de quem o estais agora vós,
Por Dinis e seu filho sublimados,
Senão cos vossos fortes pais e avós?
Pois se, com seus descuidos ou pecados,
Fernando em tal fraqueza assi vos pôs,
Torne-vos vossas forças o Rei novo,
Se é certo que co Rei se muda o povo.
(Canto IV, est.ª 17)
Rei tendes tal, que, se o valor tiverdes
Igual ao Rei que agora alevantastes,
Desbaratareis tudo o que quiserdes,
Quanto a mais quem já desbaratastes.
E, se com isto, enfim, vos não moverdes
Do penetrante medo que tomastes,
Atai as mãos a vosso vão receio,
Que, eu só, resistirei ao jugo alheio.
(Canto IV, est.ª 18)
Eu só, com meus vassalos e com esta
(E, dizendo isto, arranca meia espada),
Defenderei da força dura e infesta
A terra nunca de outrem sojugada.
Em virtude do Rei, da pátria mesta,
Da lealdade já por vós negada,
Vencerei não só estes adversários,
Mas quantos a meu Rei forem contrários.»
(Canto IV, est.ª 19)
A Gabriela Mistral
Romances de norte y sur (10)
Lágrimas ocultas
terça-feira, 14 de abril de 2009
Um poema de Reina María Rodríguez
AS BRUTAS
Quatro mulheres enforcaram-se no planalto.
Degolaram com paciência os seus animais
as suas vinte cabras
os seus dois cães de raça,
e os corpos
penderam no vazio.
Mas o vazio tinha nesse dia uma luz roxa
e havia pássaros presenciando o sangramento
daquele sangue jovem.
Eram irmãs
e os cães eram amantes
e as cabras pastavam sobre a mesma colina
cruzavam e descruzavam as suas patas dianteiras
com um lento movimento de felicidade.
Ao levantar-se, ninguém estava com ânimo para assistir à paisagem.
Ninguém ouviu o canto das cabras
ao concluir o seu caminho.
Ninguém ouviu ladrar os cães
(o seu silêncio é a morte)
e não há que virar os olhos
para os cumes nevados
com as quatro mulheres penduradas
(podem ser de argila a esta distância)
figuras de palha seca ao sol,
(espantalhos)
alguma ilusão de cinza no alto.
Atrás, segue passando o rio.
Cada vez mais claro, mais manso.
O vento balança-as a cada momento.
Ninguém se atreve contudo a descê-las.
Ninguém quer conceber o uivo sem eco
de planalto.
Mulheres sem homens (bestas) com os joelhos fracos
– não foram elas as do grito, as da queixa –
foi mais dos animais a lamentação.
Soa um corno de caça medieval.
O homem numa névoa de paixão, recordações
e amargura
(baixa)
mas chegou tarde para as resgatar.
Luciana casava-se na próxima semana.
Não pôde adiar a decisão colectiva,
o rito de morrer das suas irmãs.
Justa cerzia para um orfanato
e Quisque dava de comer aos animais.
Umas vidas simples…
Quisque, Justa, Lucía e Luciana
rebentaram o cordel que juntas as atou.
As brutas, diziam-lhes.
As sábias, murmuravam.
Contradição da representação.
Formalidades.
Quatro figuras, vinte cabras
e dois cães de raça caem como sementes no orvalho.
Uma mão, o dorso de um cão, a falange,
um pescoço cortado em cruz
o meu focinho, o teu.
O cordel que as une é o limite?
O limite esse grito que ninguém escutou?
Como tirar os olhos de uma paisagem
sem cães nem cabras?
[in Poesia Cubana Contemporânea - Dez Poetas, selecção de Pedro Marqués de Armas, tradução de Jorge Melícias, Antígona, 2009]