Quando o navio lançou ferro, ao largo da Ilha,
Veio a bordo toda a gente grada da terra,
Os mulatos olhavam os brancos
com saudade da cor branca que não tinham,
Os ilhéus olhavam os navegantes
com saudade do mundo que não conheciam.
Vendiam-se coisas podres no tombadilho;
Era quase esmola comprar.
O culto do patrão-mor, com seu boné de pala,
Impressionou a imaginação do pequenino viajante:
Ser patrão-mor naquela ilha oceânica,
Ter por limite o mar,
Entrada franca nos vapores,
Um boné de pala reluzente
E um bote, da terra para o navio
e do navio para terra,
E aquela casinha à beira do cais!
Primeira noção de autoridade,
Primeira ambição de mando...
A Ilha ficou para trás,
perdida no mar oceano.
Tão pequenina, a ilha, ficou perdida;
Nunca mais, nas voltas do mundo,
O navegante a reencontrou.
Mas durante os anos que decorreram,
De infância,
Muita vez recordou o patrão-mor;
E ao sonho da carreiras que lhe arquitectavam
Antepunha o seu sonho;
- Quero ser patrão-mor na Ilha Brava,
Ter um boné de pala e um bote
e uma casa á beira do cais,
Quero mandar nos navios que partem
e nos navios que chegam,
Ser senhor na Ilha e no mar.
Quero ser patrão-mor na Ilha Brava!
O sonho não teve realização.
Nunca os sonhos têm realização.
Foi muita coisa na vida,
Mas não foi patrão-mor na Ilha Brava.
Percorreu outros mares,
aportou a outras ilhas,
Mas nunca mais demandou aquela.
Teve outros gostos, outras ambições,
Mas nunca nenhuma tão pura
Como a de estar na baía pequena,
Ano atrás de ano,
A olhar o mar quase parado,
À espera do navio que lá vem de ano a ano,
À espera da vida, à espera da morte,
Sem luta, nem desejo...
Foi muita coisa na vida,
Mas nenhuma valeu o sonho infantil,
Nenhuma valeu o gosto
de ser patrão-mor na ilha Brava...
sábado, 2 de fevereiro de 2008
Patrão-Mor da Ilha Brava
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