Pai-Natal
Gorducho como és,
Com esse ventre obeso,
Como podes passar nas chaminés
Sem ficar preso?!
E como podes inda, sem perigo,
Com essas botas grossas, quando avanças,
Não perturbar o sono das crianças
Que adormeceram a sonhar contigo?!
Como podes passar,
Com essas barbas longas e nevadas,
Sem medo de assustar
Crianças que se encontram acordadas?!
Eu sei!
Eu digo-te a razão,
Embora se me parta o coração!
É que tu, risonho Pai-Natal,
Só entras em palácios de cristal,
Por chaminés de mármore e jade
Onde o rotundo ventre
Passe, deslize e entre,
Libérrimo, em perfeito à vontade!
Como podem as botas vigorosas
Rangerem um momento,
Se alcatifas caras, preciosas,
Se espreguiçam por todo o pavimento!
Nem podes assustar
Crianças que se encontram acordadas,
Porque tens o cuidado de tirar
Essas revoltas barbas já nevadas!
E, assim, é,
Risonho Pai-Natal de riso e gestos ledos,
Vais aos palácios ricos, por teu pé,
Vazar o grande saco de brinquedos!
Antes fosses, risonho Pai-Natal,
Na noite friorenta,
De portal em portal,
De tormenta em tormenta!
E descesses aos lares pobrezinhos
Onde há doridas mães talvez chorando,
Ao seio acalentando
Os pálidos filhinhos!
Ou fosses campo em fora, em longas caminhadas,
A descobrir crianças sem abrigo,
Adormecidas, nuas, regeladas,
E ainda a sonhar contigo!
Mas não são esses, não, os teus caminhos,
Tu que vestes veludos e arminhos!
Quando Jesus nasceu,
No rigoroso frio do Inverno,
Nu e natural,
Sem outra benção que o olhar materno,
Sem mais calor que um bafo irracional.
Onde é que estavas tu, oh! Pai-Natal?!
Por onde andavas tu, oh! Pai-Natal?!
Sei bem onde é que estavas!
Sei bem por onde andavas!
Andavas, entre risos e folguedos,
Já com as barbas brancas e os bigodes,
A despejar saco de brinquedos,
-Na chaminé de Herodes!
Angelino da Silva Jardim
Moçâmedes. Natal de 1964
Fonte: blogue "Gente do meu tempo" - post de 15Nov2007
sábado, 9 de fevereiro de 2008
Pai-Natal
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