Primeira Parte
Brasão
V
O Timbre
A Cabeça do grifo
O Infante D. Henrique
Em seu trono entre o brilho das esferas,
Com seu manto de noite e solidão,
Tem aos pés o mar novo e as mortas eras -
O único imperador que tem, deveras,
O globo mundo em sua mão.
Uma Asa do Grifo
D. João o Segundo
Braços cruzados, fita lém do mar.
Parece em promontório uma alta serra -
O limite da terra a dominar
O mar que possa haver além da terra.
Seu formidável vulto solitário
Enche de estar presente o mar e o céu,
E parece tremer o mundo vário
Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu.
A Outra Asa do Grifo
Afonso de Albuquerque
De pé, sobre os países conquistados
Desce os olhos cansados
De ver o mundo e a injustiça e a sorte.
Não pensa em vida ou morte,
Tão poderoso que não quere o quanto
Pode, que o querer tanto
Calcara mais do que o submisso mundo
Sob o seu passo fundo.
Três impérios do chão lhe a Sorte apanha.
Criou-os como quem desdenha.
(”Mensagem”, Fernando Pessoa - via http://nautilus.fis.uc.pt/personal/marques/old/pessoa/mensagem.html)
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