quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Poema em Linha Reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos, Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Eltondi la tempon - Cortar o tempo

Kies ideo estis tia eltondi la tempon en pecoj
kiujn oni nomas jaro,
Jen genia ulo, kiu faris.
Industriigis la esperon
je la limo del´ elcxerpo.
Dekdu monatoj por cxiu ajn homo
Lacigxi kaj ellasi siaj farojn.
Ensxovas jen revigla miraklo kaj cxio renovigxas ankorauxfoje
Kun alia numero kaj kredovolo
Kaj ke, el cxipunkto, cxio estu en malsimilo....

Por vi,
Mi deziras realigitan revon
La atenditan amon
La esperon en renovo

Por vi,
Mi deziras cxiujn kolorojn de la vivo
Cxiujn gajojn por ridogxojo
Cxiujn muzikojn por emocia eblo

Por vi, cxi-novjare,
Mi deziras cxiujn amikojn pli komplicaj
Kaj familioj unuigxaj
Kaj ke estu vivo plenvivigxa
Mi sxatas deziri tiom da aferoj
Tamen neniom da ili suficxus...
Do, mi deziras nur ke vi havu dezirojn,
Grandajn dezirojn kaj ke ili povu movigi vin, cxiuminute, je la destino de via felicxo!

*********************
Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui para adiante vai ser diferente...

Para você,
Desejo o sonho realizado.
O amor esperado.
A esperança renovada.

Para você,
Desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.

Para você neste novo ano,
Desejo que os amigos sejaGostaria de lhe desejar tantas coisas.
Mas nada seria suficiente...
Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes e que eles possam te mover a
cada minuto, ao rumo da sua felicidade!m mais cúmplices,
Que sua família esteja mais unida,
Que sua vida seja mais bem vivida.

Carlos Drumond de Andrade - Esperantigxis: Adonis Saliba (2008)
Fonte: Grupo do Yahoo - Esperanto_Lingvo - mensagem de 26Dez2006 de Adonis Saliba

sábado, 27 de dezembro de 2008

Minha Senhora Goa

Não te conheço o rosto. Nunca vi
a tua luz, minha senhora Goa,
mas vejo-te envolvida no sari
da tua dor, que na minha alma ecoa.

Vejo subir, crescer o Mandovi
das lágrimas, do mal que te magoa;
e a tua voz de exausto co9libri,
de rola prisioneira, ouve-a Lisboa,

esta Lisboa que de longe espera
ver-te sorrir à nova Primavera,
já no mundo espalhada em mil sementes

que um dia hão-de florir, pela vontade
desta invencível Pátria da Saudade,
que somos nós, nos cinco continentes.

Fonte: Obras Completas de Fernanda de Castro - Poesia II, pág 244

A Índia foi verdade?

Chegou da Índia o apelo da aventura,
Quando eu tinha dez anos, pouco mais,
mas como separar-me de meus pais,
tão pequena, tão frágil e insegura?

Contudo a velha mágoa ainda perdura.
Sonho com elefantes e arrozais,
com palmares, com chuvas torrenciais
e olhos verdes, de tigre, entre a verdura.

Fiquei, mas o navio foi por mim
para as terras do âmbar, do jasmim,
e eu, ficando, segui sua viagem.

Agora, a tantos anos de distância,
Já não sei se inventei a minha infância,
se a Índia foi verdade ou foi miragem?

Fonte: Obras Completas de Fernanda de Castro - Poesia II, pág 199

Marvão

São de granito as pedras de Marvão,
mas, ainda mais, são páginas de História.
Houve sangue, houve dor mas houve glória
neste castelo há séculos cristão.

Esta glória é de todos, da Nação
que a mereceu e a guarda na memória.
Foi muito caro o preço da vitória,
quantas vezes a fome em vez de pão.

Castelo de Marvão, águia-real,
asas abertas sobre Portugal
pousada no granito da montanha.

Em torno a mata, as silvas, os penedos;
em baixo o rio, a várzea, os arvoredos,
e ao longe a Estremadura, a velha Espanha.

Fonte: Obras Completas de Fernanda de Castro - Poesia II, pág 185

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Dia de Natal

Hoje é o dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros- coitadinhos- nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua
miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus
nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso
antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de
cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra- louvado seja o Senhor!- o que nunca tinha pensado
comprado.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

Fonte: Blogue: Caminhos da Memória - post de 23Dez2008

Natal

Prantam promoções à pressa
Com preços baixos de truz
E o povo de peça em peça
Dissipa o que não produz
Gente sem olho e cabeça
Como n'Un perro andaluz
Este Natal não interessa
Nem ao Menino Jesus.

Promessa atrás de promessa
Dando ares de quem seduz
Estas figuras do Eça
Só a tiro de arcabuz
E servidas na travessa
Como n'Un perro andaluz
Este Natal já não presta,
Ó meu Menino Jesus!

Isto é fugir e depressa
Destas trevas para a Luz
Onde haja a menção expressa
Ao velho sinal da Cruz
Aguardo um gesto surpresa,
Senhor, dos teus braços nus
Este Natal não interessa
Nem ao Menino Jesus.

Ainda tenho na cabeça
Os serões à meia-luz
Com anjos de guarda à mesa
E o piano onde compus
Um sonho que se arremessa
Como n'Un perro andaluz
O Natal já não interessa
Nem ao Menino Jesus.

Fonte: Blogue "Nova Frente" - post de 23Dez2008

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Natal

Quando chegava o Natal,
E essa usança continua,
Era já tradicional
Imolar-se uma perua.

Nesse dias, às avessas
Da negrança dos avós,
Atulhavam-se as travessas
De folares e filhós

Fonte: Obras completas de Fernanda de Castro - Poesia I

sábado, 20 de dezembro de 2008

La patria

No pierdas el tiempo buscando la patria.
El dinero no la requiere y su lengua es usura.

La patria es el habla que heredaste
y las pobres historias que conserva.

Tu abuela, en el zaguán, ciega ya la memoria,
meciendo los años de sufrimiento y desdichas.

Tu madre, entristeciendo de melancolía y pavor,
Limbania, vigilando en prolongados silencios
los rumbos de su hermana,
tu tío, atado a la tierra que habíale regalado,
en plena juventud,
diez memorables sonetos
y Elisa,
sazonando el espíritu del capón,
hirviendo las aguas de aromas,
viéndote crecer como un desconocido.

La patria es también el vasto imperio de tu idioma
y la música de aquellos que la pensaron con amor.

Tu patria son las verbales
y pequeñas batallas de Bolívar,
la culpa, el frío y el hambre de Vallejo,
Neruda y su infinita colección de nombres y cosas,
Los juegos memorables y eternos de tu maestro Borges
y un laberinto de sangre llamado Macondo.
Tu patria serán los libros que des a la tierra
y la felicidad que depares al lector.

No pierdas el tiempo buscando la patria,
la llevas contigo.

Con ella morirás sin haberla pisado.

La patria son un hombre, una mujer
y la lengua que hablan.


Fonte: Blogue "Poemas del Alma"

domingo, 14 de dezembro de 2008

Poema para una amiga muy bella

Bella te digo porque así se llaman
esas mujeres que han nacido
para la vida siempre: dulce y ácida.
Tú eres la colorada piel, la fruta,
la pierna, el pecho soberano que alzas,
pequeña porque así son los naranjos,
blanca y morena, 0 sea, cálida.

Amiga, ¿es la amistad la que nos manda
o acaso es el amor? Las dos preguntas
tienen en sí respuesta dada.
Si la verdad llegara a verse un día,
si nuestra fe se confirmara...,
pero no, amiga mía misteriosa,
que las palabras siempre engañan.
Que las palabras no sonríen nunca,
que eres tú la que ríes, dices, andas,
pones luego los ojos apartados,
muy expresivamente callas.

En estos tiempos sabe todo el mundo
guardar la ropa cuando está mojada,
hurtarse, dar olvido, fingir burla
del sentimiento porque es lágrima.
Por eso siempre estamos tan contentos,
tan campantes, tan fuertes -¡tiene gracia!-;
por dentro va la procesión, lo dicen
los gestos bruscos, las miradas.

Cuerpo de uva garnacha,
hembra de vino fuerte y alegría,
bella mujer de amor y madrugada.
Haces, querida amiga, maravillas
para evitar heridas, para
que no te vea tan hermosa, ¿sabes?
tan femeninamente en cuerpo y alma.

Y así está el pueblo de suspiros, sueños,
besos dados al rostro de la nada,
así estoy yo y así los que no quieren
confesarse que te aman.
Da miedo ver tan cerca la hermosura
cuando está viva y quema duele tanta
pasión, que así se llama, contenida
a penas duras, tiempo y trampas.

Muy bellamente estabas
cuando mis ojos una vez. Ahora
en el recuerdo vives clara.
Si se leyeran las cenizas luego,
que dicen, arden más que muchas brasas,
si alguien pusiera en claro nuestras vidas
fondo común de la desgracia.
Pero la muerte mete tanta prisa,
somos tan poca cosa, tan lejana
queda nuestra ciudad, sin nombre apenas
nosotros y los nuestros, nuestra casa...

Tus pies, tus manos y tu cara.
La tela del vestido, oh, dulces olas,
redondas islas cubre con sus aguas.
Seas amiga si la tarde, el tiempo,
corre a su puesta como el sol; hermana
si desvalidamente sufres; novia
si me recuerdas en la distancia.

Eres muy lista, mi pequeña,
eres la niña cariñosa y mala
que descubre de pronto a los mayores
todo lo que les pasa.
Temo que te sospeches cuánto he puesto
mis brazos hacia ti, cómo esperaba
volver a estar contigo, sin que nunca
me vieras cuando te miraba.

Los secretos no sé por qué se guardan;
y este secreto no interesa a nadie,
la vida es sólo cotidiana.
Pero yo escribo para ti estos versos
aunque no tengan importancia.
Mi bella amiga, ¡muchas gracias!

Fonte: Poemas del Alma

sábado, 13 de dezembro de 2008

Eterna sentinela

Abandonado e só,
o Imbomdeiro,
figura milenária do sertão,
tem a dolorosa expressão
de quem foi condenado
por toda a vida
a sofrer na costa de África
o seu destino maldito.

Não conhece os milagres do amor,
e junto a si jamais teve o carinho
ou a ternura saudável
da mais humilde flor.

Imbondeiro desgraçado,
filósofo triste e pensativo,
filósofo da paisagem,
mártir e santo que alguém tivesse encontrado
no inferno de Dante
e conduzisse a este sol abrasador:

- Tu és a estátua gigante
da minha dor!

Fonte. "Lupango da Jinha" - post de 02Dez2008

POEMA DO MENINO DEUS

Nasceste.
Chegaste num dia frio
De sol cadente.
Dormiras sobre estrelas
E trazias no cabelo
O ouro que tiraras delas.
Nas mãos, um tesouro:
O peso assustador,
Esmagador,
Do mundo.
Trazes nos olhos
A pureza duma açucena,
O brilhar de prantos
Que jamais choraste.
Nasceste.
Não vieste para reinar
Entre prata, ouro ou pedras.
Chegaste só
Com a neve que tombava
E a chuva que tamborilava
No telhado em ruina.
Agora, dormes num monte de feno quente
Cheirando a campo. Perto,tua mãe vela docemente,
Com o peso desse filho que é seu
E salvador do mundo.
Ninguém sabe que vieste.
Nasceste menino, Homem-Deus, para reinar.
Mas não ficaste.
Encontraste em cada esquina,
Um Judas p'ra te trair
Uma coroa d'espinhos p'ra te ferir,
E o peso de pecados a curvar-te,
A enterrar-se
Até ao fundo do teu coração.
Estás em tudo, Menino Deus...
Pena teres partido...
Não teres mantido teu reinado,
Tua humildade imensa de cordeiro
Entre os homens.
Porque entao, Menino Deus,
Esta não seria a terra
De rios entumescidos
De prantos e gemidos,
E nós não seríamos
Estes vermes rastejantes
De olhos suplicantes
Virados para Ti,
Numa ansia agónica de Te tocar
Sem termos forças
Para Te alcançar.

Fonte: E-mail enviado pela autora

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Gostaria

Queria compartilhar contigo os momentos mais simples
e sem importância.
Por exemplo:
sair contigo para passear, sentir-te apoiada em meu braço,
ver-te feliz ao meu lado
alheia a todo mundo que passasse.

Gostaria de sair contigo para ouvir música, ir ao cinema,
tomar sorvete, sentar num restaurante
diante do mar,
olhar as coisas, olhar a vida, olhar o mundo
despreocupadamente,
e conversar sobre "nós" – esse "nós" clandestino
que se divide em "tu e eu"
quando chega gente.

Encontrar alguém que perguntasse: "Então, como vão vocês?"
E me chamasse pelo nome, e te chamasse pelo nome
e juntasse assim nossos nomes, naturalmente,
na mesma preocupação.

Gostaria de poder de repente te dizer:
Vamos voltar pra casa...
( Como se felicidade pudesse ser uma coisa
a que tivéssemos direito como toda gente)
Queria partilhar contigo os momentos menores
da minha vida,
porque os grandes já são teus.

J. G. de Araújo Jorge - do livro – A Sós – 1958 )
Fonte: Site JG - J. G. de Araújo Jorge - Poesias seleccionadas

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Aula de química

Si vuelvo la cabeza,
si abro os ojos, si
echo las manos al recuerdo,
hay una mesa de madera oscura,
y encima de la mesa, los papeles inmóviles del tiempo,
y detrás,
un hombre bueno y alto.

Tuvo el cabello blanco, muy hecho al yeso, tuvo
su corazón volcado en la pizarra,
cuando explicaba casi sin mirarnos,
de buena fe, con buenos ojos siempre,
la fórmula del agua.

Entonces, sí. Por las paredes,
como un hombre invisible, entraba la alegría,
nos echaba los brazos por los hombros,
soplaba en el cuaderno, duplicaba
las malas notas, nos traía en la mano
mil pájaros de agua, y de luz, y de gozo…

Y todo era sencillo.

El mercurio subía caliente hasta el fin,
estallaba de asombro el cristal de los tubos de ensayo,
se alzaban surtidores, taladraban el techo,
era el amanecer del amor puro,
irrumpían guitarras dichosamente vivas,
olvidábamos la hora de salida, veíamos
los inundados ojos azules de las mozas
saltando distraídos por en medio del agua.

Y os juro que la vida se hallaba con nosotros.

Pero, ¿cómo decir a los más sabios,
a los cuatro primeros de la clase,
que ya no era preciso saber nada,
que la sal era sal y la rosa era rosa,
por más que ellos les dieran nombres impuros?
¿Cómo decir: moveos,
que ya habrá tiempo de aprender,
decid conmigo: Vida, tocad
el agua, abrid los brazos
como para abrazar una cintura blanca,
romped los libros muertos?

Os juro que la vida se hallaba con nosotros.

Profesor, hasta el tiempo del agua químicamente pura
te espero.
De nuevo allí verás, veremos juntos
un porvenir abierto de muchachas
con los pechos de agua y de luz y de gozo…

Fonte: Blogue "Poemas del Alma"

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Em véspera de Carnaval

Depus a máscara e vi-me ao espelho.
Era a criança de há quantos anos.
Não tinha mudado nada...
É essa a vantagem de saber tirar a máscara.
É-se sempre a criança,
O passado que foi
A criança.
Depus a máscara e tornei a pô-la.
Assim é melhor,
Assim sem a máscara.
E volto à personalidade como a um términus de linha.

Álvaro de Campos - (Fernando Pessoa) - POESIAS de Álvaro de Campos - Editorial Nova Ática
Fonte: Blogue "Lupango da Jinha" - post de 28Nov2008

Quem excederá a tua bondade

Quem excederá a tua bondade
Ao dares-me aquilo que te não pedi,
Um colar de pérolas para a minha vaidade.
Como hei-de expressar gratidão por ti?

Por este dom eu fico orgulhosa
E sou, entre todas, a mais leda.
Ó esplêndida alma generosa
Torrente de rio e frágil fio de seda.

Nota:
1. - Adalberto Alves - O meu coração é árabe - Assírio & Alvim, Lisboa 1987
2. - Maryam al-Ansari, uma mulher nascida em Silves - Maryam Al-Ansari (sécs. X-XI) - que se tornou famosa pela sua poesia e pelo ensino de literatura a outras mulheres.

Fonte: Blogue "Lupango da Jinha" - post de 28Nov2008

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

APELO AO MENINO JESUS

Menino Jesus branco, Menino Jesus branco,
Vem connosco
Comer funge com as mãos.
Vem saborear comida de negro:
Musongué, canjica, calulu,
Quifufutila, quitaba, matandi;
Vem beber bolunga, marufo,
Quimbombo e macau.

Vem, Menino Jesus branco,
Vem dançar nossas rebitas,
Massembas e quilapangas.

Vem ouvira magia das marimbas,
Das puitas e quissanges
E extasiar-te ante a grandeza dos batuques.
Se te cansares,
Também há uma esteira de matêba,
Para te deitares connosco .

Ah! Menino Jesus branco,
Este é o dia-a-dia do mundo do negro!
Um mundo em que tu, Menino Jesus branco
Estás convidado a viver
Nem que seja por um só dia!


Eduardo Brazão-Filho (poeta moçamedense) - 1972
Fonte: Blogue "Gente do meu tempo"

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

En un cementerio de lugar castellano

Corral de muertos, entre pobres tapias,
hechas también de barro,
pobre corral donde la hoz no siega,
sólo una cruz, en el desierto campo
señala tu destino.
Junto a esas tapias buscan el amparo
del hostigo del cierzo las ovejas
al pasar trashumantes en rebaño,
y en ellas rompen de la vana historia,
como las olas, los rumores vanos.
Como un islote en junio,
te ciñe el mar dorado
de las espigas que a la brisa ondean,
y canta sobre ti la alondra el canto
de la cosecha.
Cuando baja en la lluvia el cielo al campo
baja también sobre la santa hierba
donde la hoz no corta,
de tu rincón, ¡pobre corral de muertos!,
y sienten en sus huesos el reclamo
del riego de la vida.
Salvan tus cercas de mampuesto y barro
las aladas semillas,
o te las llevan con piedad los pájaros,
y crecen escondidas amapolas,
clavelinas, magarzas, brezos, cardos,
entre arrumbadas cruces,
no más que de las aves libres pasto.
Cavan tan sólo en tu maleza brava,
corral sagrado,
para de un alma que sufrió en el mundo
sembrar el grano;
luego sobre esa siembra
¡barbecho largo!
Cerca de ti el camino de los vivos,
no como tú, con tapias, no cercado,
por donde van y vienen,
ya riendo o llorando,
¡rompiendo con sus risas o sus lloros
el silencio inmortal de tu cercado!
Después que lento el sol tomó ya tierra,
y sube al cielo el páramo
a la hora del recuerdo,
al toque de oraciones y descanso,
la tosca cruz de piedra
de tus tapias de barro
queda, como un guardián que nunca duerme,
de la campiña el sueño vigilando.
No hay cruz sobre la iglesia de los vivos,
en torno de la cual duerme el poblado;
la cruz, cual perro fiel, ampara el sueño
de los muertos al cielo acorralados.
¡Y desde el cielo de la noche, Cristo,
el Pastor Soberano,
con infinitos ojos centelleantes,
recuenta las ovejas del rebaño!
¡Pobre corral de muertos entre tapias
hechas del mismo barro,
sólo una cruz distingue tu destino
en la desierta soledad del campo!

Fonte: Blogue "Poemas del Alma"

domingo, 7 de dezembro de 2008

Brota esta lágrima e cai

Brota esta lágrima e cai,
vem de mim, mas não é minha.
Percebe-se que caminha,
sem que se saiba aonde vai.

Parece angústia espremida
de meu negro coração,
--pelos meus olhos fugida
e quebrada em minha mão.

Mas é rio, mais profundo,
sem nascimento e sem fim,
que, atravessando este mundo,
passou por dentro de mim.

Fonte: Blogue "Lupango da Jinha" - post de 06Dez2008

sábado, 6 de dezembro de 2008

MORROS DE BENGUELA

Vós que vos ergueis agrestes
Sob o azul do céu nevoado,
Vós que pareceis negros gigantes
Que a Terra (santa mãe)
Não sepultou no ventre ubérrimo,
Dizei-me: Quem sois?
Sim! Contai a glória, ou martírio
(Mistério transcendente)
Dessa vossa vida surpreendente.
Sois monumentos sagrados
De feros dramas e façanhas?
Quem pisou o vosso chão?
Tu, pedra escura,
Que linguagem estranha,
Que mistério escondes?
Dalgum santo missionário
Que pisou e sagrou a tua gleba?
Dum valente, indómito colono
Que com galhardia e amor pátrio
Fecundou Angola, que era Portugal?
Falai-me, por Deus,
Da vossa vida, da vossa lenda,
Penedos escuros de estranhas vidas.
No silêncio perpétuo e eterno
Oh morros de Benguela,
Concedei-me que eu, um dia,
Feita pó, feita lodo,
Durma prostrada, em paz.
Mas depois da minha morte
Feito pedra, pedra forte,
Meu pobre coração
Permaneça eternamente
Repousando a vosso lado.

Fonte: E-mail enviado pela autora

A la estrella de la tarde

Clara estrella de la tarde
de límpido cintilar,
en el cielo y en el alma
se enciende tu luz de plata.

Cuando el trabajo termina
Tu das alivio a la vida,
Y a negra noche que asoma
Suavizas con tu blancura.

¡Brillas en el firmamento;
y el corazón iluminas!

En esta existencia mísera
todo termina de prisa;
pero tu brillar eterno
a las noches se vacía.

Sólo al mirarte, en el alma
se vierte tu luz; y dentro,
como en lago transparente,
se refleja otro Universo.

¡Brillas en el firmamento;
y el corazón iluminas!

Bella estrella de la tarde
que alegraste a los abuelos,
desde los oscuros tiempos
antorcha de blanco fuego.

Y después será lo mismo
para los hombres que vengan:
con tu luz de plata en polvo
vas a embellecer la vida.

¡Brillas en el firmamento;
y el corazón iluminas!

Fonte: Bogue "Poemas del Alma"

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

À Bandeira



Salve, bandeira sagrada,
Bandeira de Portugal!
No cimo do monte agreste,
No fundo do ameno val'
Ergue-te, bandeira, santa,
Bandeira de Portugal!

Salve, símbolo sagrado
Da Pátria que é nossa mãe,
A quem eu respeito e amo,
Como não amo ninguém!
Salve, bandeira que lembras
A Pátria que é minha mãe!

Feita do sol da glória,
Bandeira do meu país,
Tens sulcado os mares longínquos
Em tanto dia feliz,
E ganho tanta batalha,
Bandeira do meu país!

Oh! Bandeira azul e branca!
Azul, como o belo çéu,
Branca, cor dos brancos anjos...
Que grande encanto é o teu!
As cores da nossa bandeira
Vieram ambas do çéu!

Grava-te bem na minha alma,
Bandeira minha querida!
Que eu nunca em vida me esqueça
De que à Pátria devo a vida,
O sangue, a glória, tudo,
Bandeira minha querida!

Salve, bandeira formosa,
Bandeira do meu país,
Que por ele é minha vida
E que eu morria feliz,
Se na morte me abraçasses,
Bandeira do meu país!

Porque eu te amo no mundo,
Como não amo ninguém,
Salve, bandeira que lembras
A Pátria que é minha mãe!

(À Bandeira - de António de Oliveira Salazar aos vinte anos)

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

El monte y el río

EN mi patria hay un monte.
En mi patria hay un rio.

Ven conmigo.

La noche al monte sube.
El hambre baja al río.

Ven conmigo.

Quiénes son los que sufren?
No sé, pero son míos.

Ven conmigo.

No sé, pero me llaman
y me dicen "Sufrimos".

Ven conmigo.

Y me dicen: "Tu pueblo,
tu pueblo desdichado,
entre el monte y el río,

con hambre y con dolores,
no quiere luchar solo,
te está esperando, amigo".

Oh tú, la que yo amo,
pequeña, grano rojo
de trigo,
será dura la lucha,
la vida será dura,
pero vendrás conmigo.

Poemas de Pablo Neruda
Fonte: "Poemas del Alma"

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Às vezes tenho idéias felizes,

Às vezes tenho idéias felizes,
Idéias subitamente felizes, em idéias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...
Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...

Fonte: Blogue "AMORE" Post de 30Nov2008

domingo, 30 de novembro de 2008

Poema para Galileu



Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.

Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios.)
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.
Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria…
Eu sei… eu sei…
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileo Galilei!

Olha. Sabes? Lá em Florença
stá guardado um dedo da tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!

Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.
Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência das coisas que me deste.

Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar- que disparate, Galileo!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação-
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.

Pois não é evidente, Galileo?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.

Estava agora a lembrar-me, Galileo,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.

Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se tivesse tornado num perigo
para a Humanidade
e para a Civilização.
Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.

Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas- parece-me que estou a vê-las -,
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.

E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.

E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e descrevias
para eterna perdição da tua alma.

Ai Galileo!
Mal sabem os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.

Tu é que sabias, Galileo Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.

Por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto incessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa do quadrado dos tempos.

Fonte: Blogue "Poetar1's Weblog"

Sozinho



Às vezes, no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado, juntando
O antes, o agora e o depois
Por que você me deixa tão solto?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinho!

Não sou nem quero ser o seu dono
É que um carinho às vezes cai bem
Eu tenho meus desejos e planos secretos
Só abro pra você mais ninguém
Por que você me esquece e some?
E se eu me interessar por alguém?
E se ela, de repente, me ganha?

Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora
Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?

Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora
Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?

Composição: Peninha

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Meus olhos que por alguém

Meus olhos que por alguém
Deram lágrimas sem fim,
Já não choram por ninguém
Basta que chorem por mim.

Arrependidos e olhando
A vida como ela é,
Meus olhos vão conquistando
Mais fadiga e menos fé.

Sempre cheios de amargura!
Mas se as coisas são assim,
Chorar alguém – que loucura!
– Basta que eu chore por mim.

Fonte: Blogue AMORE - post de 26Nov2008

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

GRAMÁTICA DO ESPERANTO (musicado)

A Gramática em Esperanto
é fácil de se aprender,
pela simples adição à raiz
no final da palavra,
a gente já pode saber!

O Substantivo termina em O;
Adjetivo termina em A;
Advérbio Derivado acaba em E
e o Artigo é somente LA!

O Infinitivo termina por I;
Mas o Presente termina em AS.
Tempo Passado é somente IS
e o Futuro termina em OS !

Imperativo termina em U;
Condicional nós usamos US
E para terminar, vamos cantar;
Esperanto já podemos usar!

La knabo kaj la knabino kantas
en Esperanto dum la festo de Kristnasko

(O menino e a menina cantam em Esperanto
durante a festa do nascimento de Cristo)

Fonte: Recanto das Letras - post de 1Dez2005

domingo, 23 de novembro de 2008

Navio negreiro - Tragédia ao Mar

Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...

Castro Alves 1868
Fonte: "Meu Universo em Prosa e Poesia" – post de 20Nov2008

sábado, 22 de novembro de 2008

Hino à Negritude (Cântico à Africanidade Brasileira)

I
Sob o céu cor de anil das Américas
Hoje se ergue um soberbo perfil
É uma imagem de luz
Que em verdade traduz
A história do negro no Brasil
Este povo em passadas intrépidas
Entre os povos valentes se impôs
Com a fúria dos leões
Rebentando grilhões
Aos tiranos se contrapôs
Ergue a tocha no alto da glória
Quem, herói, nos combates, se fez
Pois que as páginas da História
São galardões aos negros de altivez
(bis)

II
Levantado no topo dos séculos
Mil batalhas viris sustentou
Este povo imortal
Que não encontra rival
Na trilha que o amor lh destinou
Belo e forte na tez cor de ébano
Só lutando se sente feliz
Brasileiro de escol
Luta de sol a solenidadesPara o bem de nosso país
Ergue a tocha no alto da glória
Quem, horoi, nos combates, se fez
Pois que as páginas da História
São galardões aos negros de altivez
(bis)

III
Dos Palmares os feitos históricos
São exemplos da eterna lição
Que no solo Tupi
Nos legara Zumbi
Sonhando com a libertação
Sendo filho também da Mãe-África
Arunda dos deuses da paz
No Brasil, este Axé
Que nos mantém de pé
Vem da força dos Orixás
Ergue a tocha no alto da glória
Quem, herói, nos combates, se fez
Pois que as páginas da História
São galardões aos negros de altivez
(bis)

IV
Que saibamos guardar estes símbolos
De um passado de heróico labor
todos numa só voz
Bradam nossos avós
Viver é lutar com destemor
Para frente marchemos impávidos
Que a vitória nos há de sorrir
Cidadãs, cidadãos
Somos todos irmãos
Conquistando o melhor por vir
Ergue a tocha no alto da glória
Quem, herói, nos combates, se fez
Pois que as páginas da História
São Galardões aos negros de altivez.


Autor: Eduardo de Oliveira (letra e música)
Fonte: Grupo Observatório Sociológico e-mail de 20Nov2008

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

LA FUENTE VAQUERA (BALADA)

Lejos, bastante lejos,
del pueblo mío,
encerrado en un monte
triste y sombrío,
hay un valle tan lindo
que no hay quien halle
un valle tan ameno
como aquel valle.

Entre sus arboledas,
por la espesura
solitaria y tranquila,
corre y murmura
una fuente tranquilina
y bullanguera,
a que dieron por nombre
Fuente Vaquera.

Está tan escondida
bajo el follaje,
guarda tanto sus aguas
entre el ramaje,
que cuando por el valle
va murmurando
toda clase de hierbas
va salpicando.

Unas veces sonríe
dulce y sonora,
y otras veces parece
que gime y llora,
y siempre de sus aguas
el dulce juego
arrullando, produce
grato sosiego.

Allí pasan las horas
en dulce calma,
allí meditar puede
tranquila el alma,
y todo son consuelos
para el que llora
al pie de aquella fuente
fresca y sonora.

¡Todo es allí sosiego,
calma, tristeza!
Las auras, que suspiran
en la maleza...
Los pájaros, que cantan
en la espesura...
El agua, que en el valle
corre y murmura...

Los arrullos del viento,
gratos y mansos...
Los juncos que vegetan,
en los remansos...
Los claros resplandores
del sol naciente,
que asoma entre vapores
por el Oriente...
Las tórtolas que arrullan
con armonía,
convidando a una dulce
melancolía...

¡Todo, en fin, allí aleja
presentimientos,
trayendo a la memoria
mil pensamientos,
y adormeciendo el alma
con impresiones
que convidan a dulces
meditaciones!...

Tal es Fuente Vaquera,
la hermosa fuente
que murmura en el valle
tan sonriente,
que en su margen tranquila
cantan amores
tórtolas, colorines
y ruiseñores.

Una hermosa mañana
de junio ardiente
salió el sol como nunca
de refulgente,
y pájaros y flores
con alegría
la bienvenida daban
al nuevo día.

Elevábase el astro
con gran sosiego,
esparciendo sus rayos
de luz de fuego
sobre el fresco rocío
de la mañana,
que formaba en los valles
mantos de grana.

Sacuden las ovejas
sus cencerrillos,
y en el prado retozan
los corderillos,
que del rústico valle
sobre la hierba
forman jugueteando
linda caterva.

Al cielo sube el humo
de los hogares,
los gallos ya despiertan
con sus cantares,
y sacude la hermosa
Naturaleza
el tranquilo letargo
de su pereza.

* * *

Dejé el mullido lecho
con alegría,
cuando apenas rayaba
la luz del día;
carguéme diligente
con la escopeta,
y como siempre ha sido
medio poeta,

al nacer del gran Febo
la luz primera,
ya estaba yo en la hermosa
Fuente Vaquera...
Fuente en cuyas orillas
cantan amores
tórtolas, colorines
y ruiseñores.

Ocultéme en la margen
con el follaje,
y viendo las delicias
de aquel paisaje,
esperé silencioso
bajo la fronda,
viendo correr las aguas
onda tras onda...

* * *

Siguió el sol elevándose
resplandeciente,
y era ya tan molesta
su luz ardiente,
que, a medida que el astro
más se elevaba,
todo se iba durmiendo,
todo callaba.

Se inclinan en su tallo
todas las flores,
rendidas por los rayos
abrasadores,
y las aves se esconden
en las encinas
que a la tranquila fuente
crecen vecinas.

Sólo se escucha a veces,
del fresco viento,
las ráfagas que lanza,
sonoro y lento...
El agua, que su curso
nunca suspende...
El rumor de una hoja...
que se desprende...

El pïar apagado
de alguna alondra,
que entre las verdes matas
busca una sombra...,
y los ecos lejanos
de los zumbidos
de insectos, que en los aires
vagan perdidos...

Lejos de la apacible
Fuente Vaquera,
que corre por el valle
tan placentera,
existe un solitario
y oscuro monte,
que encierra los confines
del horizonte.

Al compás de las auras,
lenta se inclina
altiva, corpulenta
y añosa encina,
y entre sus verdes ramas
aprisionado
tiene una tortolilla
su nido amado.

En él está arrullando,
dulce y sonora,
a los amantes hijos
a quien adora,
gozando en su coloquio
de las delicias
que sus hijos le endulzan
con sus caricias.

El calor la atormenta,
la sed la abrasa,
y dejando con pena
su pobre casa,
les dio con un arrullo
la despedida
a los hijos queridos
que eran su vida;

batió sus puras alas
tendió su vuelo
cruzó por los espacios
del ancho cielo,
y pensando en sus hijos,
se fue ligera
a beber a la clara
Fuente Vaquera.

¡Ay! ¡Dónde irá esa madre
tierna y sencilla!...
¡Dónde irá tan ligera
la tortolilla,
mirando a todas partes,
amedrentada,
al verse sola y lejos
de su morada!...

¿Por qué deja sus hijos
abandonados,
y ella, cruzando espacios
tan dilatados,
va surcando los aires
rápidamente
a beber en las aguas
de aquella fuente?...

¡Pobre madre, si, ansiosa,
vuelve a su nido
y sus amantes hijos
ya se han perdido!...
¡Pobres hijos, si, a causa
de abandonarlos,
no volviera su madre
nunca a arrullarlos!...

Por el verde follaje
casi cubierto,
yo, casi más que un vivo,
parezco un muerto,
y mudo y silencioso
presto mi oído
al eco que produce
cualquiera ruido.

Al columpiar las hojas
el viento blando,
pájaros me parecen
que van volando,
y con mi diestra mano
nerviosa, inquieta,
alzo la curva llave
de la escopeta.

Sobre la verde copa
de vieja encina,
que cubre aquella fuente
tan cristalina,
una tórtola hermosa
paró su vuelo,
mirando la corriente
del arroyuelo.

Lanza su blando pecho
tiernos arrullos,
que no imita la fuente
con sus murmullos,
y a los lados humilde
mira asustada,
débil, inquieta, esquiva
y amedrentada.

Tendió después su vuelo
pausadamente,
y al llegar a la orilla
de la corriente,
sobre la verde alfombra
lenta se posa,
débil y acobardada,
triste y medrosa.

Dirige luego el paso
tímidamente
hasta tocar la margen
de la corriente,
donde, el agua fingiendo
cuadros de plata,
le recoge su imagen
y la retrata.

Yo, silencioso, en tanto
que la espiaba,
mi artística escopeta
ya preparaba,
y ocasión esperando,
cual diestro espía,
afiné cuanto quise
la puntería.
Disparé... ¡Sonó el tiro
ronco, tremendo!...
El arroyuelo manso
siguió corriendo.
El viento entre las hojas
siguió sonando
con un eco apacible,
sonoro y blando...
¡Y vi la tortolilla,
que ya sufría
las tristes convulsiones
de la agonía!...

Cogí tan apreciado
tierno despojo;
su hermoso pecho estaba
de sangre rojo,
rojas las aguas puras
del arroyuelo,
que corrían llorando
con triste duelo,
y mis ardientes manos
también manchadas
de sangre, enrojecidas
y salpicadas.

Con ellas oprimía
su pecho blando:
sus latidos se iban
amortiguando,
y cerraba sus ojos
pausadamente,
su cabeza inclinando
lánguidamente...

Yo vi en sus turbios ojos
el sentimiento
y las fieras angustias
de su tormento,
porque del nido lejos
agonizaba
y a sus pobres hijuelos
solos dejaba.

Conocí en sus miradas
bien claramente
esa inquieta agonía
del inocente,
que sufre los rigores
de su destino
muriendo por las manos
de un asesino.

Aquella pobre madre
casi expirante
era la madre tierna,
la madre amante,
que a sus hijos no pudo
darles en vida
una lágrima dulce
de despedida.

Y aquella tierna madre,
cuando sufría
la convulsión postrera
de la agonía,
me dijo con sus ojos
casi nublados
que dejaba dos hijos
abandonados.

Yo comprendí lo injusto
de aquella muerte;
mas la víctima estaba
fría e inerte...
y una lágrima amarga
por mi mejilla
rodó, cuando vi muerta
la tortolilla.

Desde entonces no quiero
que un inocente
de alguna injusta muerte
se me lamente,
y diga con sus ojos
casi nublados
que deja sus hijuelos
abandonados.

Y en vez de estar cazando
la tarde entera
junto a la cristalina
Fuente Vaquera,
voy a ver cómo en ella
cantan amores
tórtolas, colorines
y ruiseñores,
y cómo de aquel monte
sobre las lomas
arrullan solitarias
blancas palomas.

Fonte: Blogue "Poemas del Alma" - post de 19Nov2008

terça-feira, 18 de novembro de 2008

CREDO IN UNUM DEUM

Senta-te aí, fecha os olhos, alerta os teus ouvidos e ora comigo esta oração: CREDO IN UNUM DEUM.
Irmana-te com os Apóstolos ouvindo e pronunciando as mesmas palavras, os mesmos sons!...Estou certo que isto te dará paz... e, se, na solidão da oração, uma lágrima te rolar pela face, verás que te fará bem!... Sentirás que DEUS está contigo.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Estou sentindo uma clareza tão grande

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
Assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.

Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
– já me aconteceu antes.

Pois sei que
– em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade –
essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.

Fonte: Blogue "AMORE" - post de 04Nov2008

Tentação

Não me tente, ó menina,
Com essa beleza divina
Que me mostra, quase nua...
Não me tente, que enlouqueço,
E dos pudores esqueço,
Ante o que me insinua...

Há tempos que a desejo,
Sonho doido com seu beijo,
Sua boca de sedução...
E agora a vejo assim,
Projetar-se sobre mim,
Com tanta provocação...

Se me tenta, desejosa,
Qual uma gata manhosa,
Com tanta desfaçatez,
Vou deitá-la sobre a relva
E qual as feras na selva,
Possuí-la de uma vez!

Fonte: Blogue "AMORE" - post de 01Nov2008 in blogue "EuAutor"

Eu aprendi

Eu aprendi:

Que não posso exigir o amor de ninguém,
posso apenas dar boas razões para que gostem de mim
e ter paciência para que a vida faça o resto;
Que não importa o quanto certas coisas
são importantes para mim, há pessoas que não dão
a mínima e jamais conseguirei convencê-las que posso
passar anos construindo uma verdade e destruí-la
em apenas alguns segundos.

Eu aprendi:

Que posso fazer algo num minuto e ter que responder
por isso o resto da minha vida;
Que por mais que cortes o pão em fatias,
esse pão continua tendo duas faces, e o mesmo vale
para tudo o que cortamos no nosso caminho.

Eu aprendi:

Que vai demorar muito para me transformar
na pessoa que quero ser, e devo ter paciência;
Que posso ir além dos limites que eu próprio coloquei;
Que eu preciso escolher entre controlar os meus pensamentos
ou de ser controlada por eles.

Eu aprendi:

Que os heróis são pessoas que fazem o que acham
que devem fazer naquele momento,
independentemente do medo que sentem;
Que perdoar exige muita prática; condenar é mais fácil !
Que há muita gente que gosta de mim,
mas que não conseguem expressar isso.

Eu aprendi:

Que nos momentos mais difíceis, a ajuda veio
justamente daquela pessoa que eu achava
que iria tentar piorar a minha vida.
Que eu posso ficar furioso, tenho o direito de me irritar,
mas não tenho o direito de ser cruel;
Que jamais posso dizer a uma criança que os seus sonhos
são impossíveis. Será uma tragédia para o mundo
se eu conseguir convencê-la disso.

Eu aprendi:

Que o meu melhor amigo vai me ferir de vez em quando,
que eu tenho que me acostumar com isso;
Que não é bastante ser perdoado pelo outros,
eu preciso perdoar-me primeiro;
Que, não importa o quanto meu coração esteja sofrendo,
o mundo não vai parar por causa disso.

Eu aprendi:

Que as circunstâncias de minha infância são responsáveis
pelo que eu sou, mas não pelas minhas escolhas
que eu fiz quando adulto
Que numa briga, eu preciso escolher de que lado estou,
mesmo quando não quero envolver-me.
Que , quando duas pessoas discutem não significa que elas
se odeiem. E quando duas pessoas não discutem
não significa que elas se amem.

Eu aprendi:

Que por mais eu queira proteger os meus filhos,
eles vão-se magoar e eu também serei magoado,
isso faz parte da vida;
Que a minha existência pode mudar para sempre
em poucas horas, por causa de gente que nunca vi antes;
Que diplomas na parede não me fazem
mais respeitável ou mais sábio.

Eu aprendi:

Que a palavra amor perde o sentido, quando usada sem critério;
Que certas pessoas vão embora de qualquer maneira;
quer você queira ou não;
Que é difícil traçar uma linha entre ser gentil,
não ferir pessoas, e saber lutar pelas coisas que acredita.

Eu aprendi:

Que sou mais forte que imaginava, e que posso ir mais longe depois de pensar que não podia mais;
E que realmente a vida tem valor e eu tenho valor diante da vida !

W.Shakespeare (Adaptado)

Fonte: "O Lupango da Jinha" - post de 14Nov2008

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Fonte: Blogue AMORE - post de 03Nov2008

Gosto de ti desesperadamente

Gosto de ti desesperadamente:
dos teus cabelos de tarde onde mergulho o rosto,
dos teus olhos de remanso onde me morro e descanso;
dos teus seios de ambrosias, brancos manjares trementes
com dois vermelhos morangos para as minhas alegrias;
de teu ventre - uma enseada - porto sem cais e sem mar -
branca areia à espera da onda que em vaivém vai se espraiar;
de teu quadris, instrumento de tantas curvas, convexo,
de tuas coxas que lembram as brancas asas do sexo;
- do teu corpo só de alvuras - das infinitas ternuras
de tuas mãos, que são ninhos de aconchegos e carinhos,
mãos angorás, que parecem que só de carícias tecem
esses desejos da gente...
Gosto de ti desesperadamente;
gosto de ti, toda, inteira nua, nua, bela, bela,
dos teus cabelos de tarde aos teus pés de Cinderela,
(há dois pássaros inquietos em teus pequeninos pés)
- gosto de ti, feiticeira,
tal como tu és...

Fonte: Blogue AMORE - post de 01Nov2008

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Pernambucanidades

Só quem é PERNAMBUCANO entende...

Botão de som é pitôco
Se é muito miúdo é pixotinho
Se for resto é cotôco
Tudo que é bom é massa
Tudo que é ruim é peba
Rir dos outros é mangar
Ficar cheio de não me toque, frescura é pantim
Já faltar aula é gazear
Colar na prova é filar
Quem é franzino (pequeno e magro) é xôxo
O bobo se chama leso
E o medroso se chama frouxo
Tá com raiva é invocado
Vai sair, diz vou chegar
'Caba' ( homem) , sem dinheiro é liso
A moça nova é boyzinha
Pernilongo é muriçoca
Chicote se chama açoite
Quem entra sem licença emburaca
Sinal de espanto é 'vôte'
Tá de fogo, tá bicado
Quando tá folgado, tá folote ou afolozado
Quem tem sorte é cagado
Pedaço de pedra é xêxo
Quem não paga é xexêro
O mesquinho ou sovina é amarrado, muquirana, mão de vaca, pirangueiro
Quem dá furo (não cumpre o prometido ou compromisso) é fulero
Gente insistente é pegajosa
Catinga de suor é inhaca
Mancha de pancada é roncha
Briga pequena é arenga
Performance ou atitude de palhaço é munganga
Corrente com pingente é trancilim
Pão bengala é tabica
Desarrumado é malamanhado
Pessoa triste é borocoxô, macambúzo
'É mesmo' é 'Iapôis'
Borracha de dinheiro é liga
Correr atrás de alguém é dar uma carrera
Fofoca é fuxico
Estouro aqui se chama pipôco
Confusão é rolo.

Você pode até tirar uma pessoa de Pernambuco, mas nunca vai conseguir tirar Pernambuco de dentro de uma pessoa!

Fonte: Blogue "365 Dias..." - post de 09 Novembro, 2008

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Por céus e mares eu andei

Por céus e mares eu andei
Vi um poeta e vi um rei
Na esperança de saber o que é o amor
Ninguém sabia me dizer
E eu já queria até morrer
Quando um velhinho com uma flor assim falou:

O amor é o carinho
É o espinho que não se vê em cada flor
É a vida quando
Chega sangrando
Aberta em pétalas de amor

Fonte: Blogue AMORE - post de 13Out2008

Tomara

Tomara
Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho
E chore, se arrependa
E pense muito
Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho

Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...

Fonte: Blogue AMORE - post de 15Out2008

Ah, não tente explicar

Ah, não tente explicar
Nem se desculpar
Nem tente esconder
Se vem do coração
Não tem jeito, não
Deixa acontecer

O amor é essa força incontida
Desarruma a cama e a vida
Nos fere, maltrata e seduz
É feito uma estrela cadente
Que risca o caminho da gente
Nos enche de força e de luz

Vai debochar da dor
Sem nenhum pudor
Nem medo qualquer
Ah, sendo por amor
Seja como for
E o que Deus quiser

Fonte: Blogue AMORE - post de 22Out2008

RECEITA PARA NÃO ENGORDAR SEM NECESSIDADE DE INGERIR ARROZ INTEGRAL E CHÁ DE JASMIM

Pratique o amor integral
uma vez por dia
desde a aurora matinal
até a hora em que o mocho espia.

Não perca um minuto só
neste regime sensacional.
Pois a vida é um sonho e, se tudo é pó,
que seja pó de amor integral.

Fonte: Blogue AMORE - post de 23Out2008

Pra se viver do amor

Pra se viver do amor
Há que esquecer o amor
Há que se amar
Sem amar
Sem prazer
E com despertador
- como um funcionário

Há que penar no amor
Pra se ganhar no amor
Há que apanhar
E sangrar
E suar
Como um trabalhador

Ai, o amor
Jamais foi um sonho
O amor é feroz
Faz em nós
Um estrago medonho

É por isso que se há de entender
Que amar não é um ócio
Se precaver
Que amar não é um vício
Amar é um sacrifício
Amar é um sacerdócio
À luz do abajur

É por isso que se há de entender
Que amar não é um ócio
Se precaver
Amar não é um vício
O amor é um nobre ofício
O amor é um bom negócio.

Fonte: Blogue AMORE - post de11Out2008

Quando ela fala, parece

Quando ela fala, parece
Que a voz da brisa se cala;
Talvez um anjo emudece
Quando ela fala.

Meu coração dolorido
As suas mágoas exala,
E volta ao gozo perdido
Quando ela fala.

Pudesse eu eternamente,
Ao lado dela, escutá-la,
Ouvir sua alma inocente
Quando ela fala.

Minha alma, já semimorta,
Conseguira ao céu alçá-la
Porque o céu abre uma porta
Quando ela fala.

Fonte: Blogue AMORE - post de 05Out2008

domingo, 9 de novembro de 2008

Eu já fui a Princesa dos Amores

Eu já fui a Princesa dos Amores,
Já vivi em palácios encantados.
Vim ao mundo entre risos e entre flores,
Afagada entre rendas e brocados.

Já fui astro de rútilos fulgores.
Já brilhei em céus puros, constelados.
Já dei luz, energias e calores
Pr'a vencer amarguras e cuidados.

Já fui cofre de santas afeições,
E já por mim estrofes e canções
na batalha da Vida ouvi cantar!

Já dei Fé, já dei Vida, Luz, Esperança...
Já fui nas tempestades a Bonança,
Já fui mais... já fui Deusa num altar!

(...)

De Metamorfoses,
Muradal, 1935

Fonte: Blogue "Os Carvalhos do Paraíso" - post de 20Out2008

O Sonho

O sonho é ver formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte
Os beijos merecidos da Verdade.

Fonte: "O Lupango da Jinha" - post de 07Nov2008

sábado, 8 de novembro de 2008

Nem sempre sou igual...

Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,

Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma...

Fonte: "O Lupango da Jinha" - post de 07Nov2008

Acaso

Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, pois cada pessoa é única
e nenhuma substitui outra.
Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, mas não vai só
nem nos deixa sós.
Leva um pouco de nós mesmos,
deixa um pouco de si mesmo.
Há os que levam muito,
mas há os que não levam nada.
Essa é a maior responsabilidade de nossa vida,
e a prova de que duas almas
não se encontram ao acaso.

Fonte: "O Lupango da Jinha" - post de 07Nov2008

À minha mãe

A casa da minha infância,
Era real, era verdade?
Tinha flores, tinha alegria,
Sem sombra de dor ou saudade.
E meu vestido branco
Como açucenas mimosas?
Onde estará?
Em farrapos pelos caminhos?
Nas silvas? Nos espinhos das rosas?
(Qu'importa agora sabê-lo?)
Foi pena, Senhor, foi pena,
Que tudo, tudo se fosse.
A ribeirinha perdida
Bem longe, lá na distância,
Onde meu corpo boiava
Como airosa caravela,
Cabelos soltos ao vento,
Olhos negros, anciosos,
Numa busca esperançosa.
(Silêncio à minha volta
Na noite agreste e fria.
Silêncio de ventos gemendo
De folhas soltas, errantes,
De doce aroma de rosas,
De árvores, de galopadas,
Em asas desdobradas
Voando sem direcção).
Tenho medo de querer,
De querer e não ser capaz.
De saltar esta barreira
Para o tempo imaginário,
Em que chorava, gritava,
Por não poder ser rapaz.
De ter que ser menina fina,
De andar amortalhada
Em laços, rendas e sedas,
Cabelos rebeldes, entrançados,
De ouvir a toda a hora:
-Tens que ser uma senhora!
Porquê, minha mãe?
Que foi feito da minha trança?
Do velho pomar
Onde corria provando de cada fruto,
Cheirando todas as flores?
Dos meus bibes de menina
Sujos, rasgados,
Nos ninhos, nos valados?
Ah! Que ânsia, que sede,
De encontrar, enfim,
O meu jardim encantado,
O jardim da minha infância
Perdido para sempre no passado,
Tão distante, mas tão perto!
(Donde vem esta canção
De m'embalar?
Como prender cada nota que escuto
E se afasta de mim,
Como onda a soluçar?
Porque razão a vida mudou?
E se mudou, se tudo passou,
Porque não poder esquecer?
Porque não secar este pranto
E não mais ouvir o canto
Que s'introduz pela alma
Como raios finos de lua,
A amargar, amargar?)
Magoa-me o som desta lembrança
Como um lamento,
Como o vento,
Como uma ária de dor
De ânsia, de amor e saudade?
Oh! Minha mãe,
Que voltas a horas mortas
No silêncio da noite escura
Com passos feitos de lua
Com mãos suaves de flor
Em vestes brancas, aladas,
Em horas de nostalgia.
Nada dizes, nada perguntas,
Mas és tu, minha mãe,
Meu passado já perdido,
Encontrado, reencontrado
(Será isto uma ilusão?
Tudo ouço, tudo escuto:
O canto frio do mar,
O ciciar da floresta,
O sono puro das flores,
O vento das colinas,
A chuva a tamborilar,
A vida de cada hora...
Será isto uma ilusão?)
Oh! Minha mãe, minha mãe...
Lembras-te?
Uma noite, altas horas,
Acordei sobressaltada.
Era um choro à janela
Era o uivo dos chacais
E do vento, misturados.
Lá fui descalça, chorando,
Correndo apavorada,
Em busca dos braços teus,
Que dissipavam as sombras,
O vento, as trevas, os lobos,
Os duendes encantados.
Agora, embora o medo me volte,
Noite a noite, à porfia,
Sem entender a razão,
Levanto-me a horas mortas,
Descalça, apavorada,
Sem encontrar tua mão.
(Chove dentro de mim.
Pressinto-te em meu redor,
A flutuar,
E tenho de fugir,
Saltar o muro,
E correr, correr, sem nunca olhar para trás,
Como fera acossada,
P'ra não te ver, minha mãe,
Com cravos, lírios e rosas,
Dormindo, sem amargura,
Com velas acesas
A rebrilharem nos teus olhos
Na boca cerrada, mas firme
Como se a vida não te tivesse vencido,
Como se tudo valesse a pena
Os risos, as dores,
Os espinhos, as flores.
Para onde irias? Por onde?
( Ah! Sei, enfim, Que brilhas numa estrela:
Na maior, na mais bela: na minha estrela,)
...................
A lua apareceu.
Um raio de luar aquece-me o coração.
Estarei a sonhar?
Por um caminho d'ouro,
Entre nuvens cor de rosa,
Apareces, radiosa.
Ondas de luz, chuva d'estrelas,
Embriagam-me os olhos,
Há pétalas de flores desfolhadas,
Há perfumes, e hinos, cantos de anjos e arcanjos.
Vens de leve, devagar, a estender-me os braços
Feliz e sem idade,
Sem sombra d'alguma saudade
Nos teus olhos deslumbrados.
Tomas-me a mão e partimos,
Entre nuvens de arminho
Plumas de neve.
Sou novamente menina
A galopar, galopar,
No meu cavalo de pau, no meu cavalo de sol.
Sou novamente um anjo!
Um anjo de belas asas,
Pesadas, mal pintadas,
Mas que me fazem cantar,
Porque as perdi, procurei
E voltei a encontrar.
E corro, toco na lua,
Pego com geito em estrelas,
Que se desfazem em pó,
Em nuvens de ouro e de luz.
E lá vou subindo, galopando,
No meu cavalo de fogo, rumo ao sol,
Entre grinaldas de flores,
O coração a palpitar,
De rosas brancas nas mãos.
.............................
Onde estou?
Aqui, onde não estou,
À espera dum amanhã,
A recordar ,
Num tempo sem horas, sem fim,
Num sonho feito de dor,
Que eu não quero sonhar,
Num sono de fumo e esperança,
De que não quero acordar.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Let America be America Again

"Let America be America Again"
Let America be America again.
Let it be the dream it used to be.
Let it be the pioneer on the plain
Seeking a home where he himself is free.
(America never was America to me.)
Let America be the dream the dreamers dreamed-

-Let it be that great strong land of love
Where never kings connive nor tyrants scheme
That any man be crushed by one above.
(It never was America to me.)
O, let my land be a land where Liberty
Is crowned with no false patriotic wreath,
But opportunity is real, and life is free,
Equality is in the air we breathe.
(There's never been equality for me,
Nor freedom in this "homeland of the free.")
Say, who are you that mumbles in the dark?
And who are you that draws your veil across the stars?
I am the poor white, fooled and pushed apart,
I am the Negro bearing slavery's scars.
I am the red man driven from the land,
I am the immigrant clutching the hope I seek-

-And finding only the same old stupid plan
Of dog eat dog, of mighty crush the weak.
I am the young man, full of strength and hope,
Tangled in that ancient endless chain
Of profit, power, gain, of grab the land!
Of grab the gold!
Of grab the ways of satisfying need!
Of work the men!
Of take the pay!
Of owning everything for one's own greed!
I am the farmer, bondsman to the soil.
I am the worker sold to the machine.
I am the Negro, servant to you all.
I am the people, humble, hungry, mean-

-Hungry yet today despite the dream.
Beaten yet today-

-O, Pioneers!I am the man who never got ahead,
The poorest worker bartered through the years.
Yet I'm the one who dreamt our basic dream
In the Old World while still a serf of kings,
Who dreamt a dream so strong, so brave, so true,
That even yet its mighty daring sings
In every brick and stone, in every furrow turned
That's made America the land it has become.
O, I'm the man who sailed those early seas
In search of what I meant to be my home--
For I'm the one who left dark Ireland's shore,
And Poland's plain, and England's grassy lea,
And torn from Black Africa's strand
I came
To build a "homeland of the free.
"The free?Who said the free?
Not me?Surely not me?
The millions on relief today?
The millions shot down when we strike?
The millions who have nothing for our pay?
For all the dreams we've dreamed
And all the songs we've sung
And all the hopes we've held
And all the flags we've hung,
The millions who have nothing for our pay

--Except the dream that's almost dead today.
O, let America be America again-

-The land that never has been yet-

-And yet must be--the land where every man is free.
The land that's mine--the poor man's,
Indian's, Negro's, ME-

-Who made America,
Whose sweat and blood, whose faith and pain,
Whose hand at the foundry, whose plow in the rain
,Must bring back our mighty dream again.
Sure, call me any ugly name you choose-

-The steel of freedom does not stain.
From those who live like leeches on the people's lives,
We must take back our land again,America!
O, yes,I say it plain,
America never was America to me,
And yet I swear this oath-

-America will be!
Out of the rack and ruin of our gangster death,
The rape and rot of graft, and stealth, and lies,
We, the people, must redeem
The land, the mines, the plants, the rivers.
The mountains and the endless plain--
All, all the stretch of these great green states-

-And make America again!

Fonte: "O Futuro Presente" - post de 06Nov2008

Tiempo de recorrer caminos

I
Vamos, amor, a recorrer caminos,
el tiempo rompe afuera sus relojes.
Todo es propicio para iniciar el viaje.
Ven, no temas.
Tuyo es el día y mía es la noche.
Tenemos junto a nosotros a los hijos, la cosecha mayor.
Y mi corazón, jamás ha sentido como ahora este llamado.
Vamos, amor, sube hasta las escaleras del sueño.
Desciende luz primera sobre las flores del verano.
Camina sobre las antiguas palabras, esas que guardo
entre los libros, siempre a la espera del poema
que no logró terminar. Camina, amor, sobre nubes
y ciudades. Para nosotros no hay horizonte. Todo es cielo
o mar. El fuego que llevamos dentro.

II
Vamos. Nos espera la tarde y sus vientos amarillos.
Es nuestro el canto. Y en torno de las cosas, la luz se ha vuelto
pajarera. Todo es terso como hoja recién lavada por la lluvia.
Tengo en mis manos las llaves de la infancia.
Oigo al padre que viene por el largo corredor.
Los hermanos corren por el patio,
sueltos venados de una fábula casi perdida en la memoria.
Madre no está. Nunca estuvo, excepto aquella noche
en que tuve fiebre y caí en cama y llegó el médico del pueblo
y me devolvieron a la vida los rezos de un viejo pastor.
Esa vez si vi a madre entre los cristales de un sueño.
Nunca hablé de ello a nadie. Madre estuvo junto a mí
y se hizo el milagro de todos los días. Tomé a los pájaros,
a los árboles y a los ríos.
Basta de recordar. Aún es tiempo de recorrer caminos.

III
Vamos, amor. La vida es nuestra. Aprendamos un poco
de la hormiga. Sintamos la terquedad del viento.
Somos ala, corazón de la nieve, lluvia que lava
el ojo entristecido. Vamos, sandalia,
tuyos son los pasos. Camina. Deja tus huellas
en bosque, ciudades como viejos museos, trenes,
buses, hoteles, calles y bulevares. En todo sitio
siembra tu amor, roba privilegios al tiempo, destrúyete
en ti mismo. Has prevalecer tus lámparas de asombro.
Sueña, amor, sueña.
Y al vivir así, intensa, di al caminante
“aún es tiempo de recorrer caminos”.

Fonte: Blogue "Poemas del Alma"

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Nocturno

Padre Nuestro, que estás en los cielos,
¡por qué te has olvidado de mí!
Te acordaste del fruto en febrero,
al llagarse su pulpa rubí.
¡Llevo abierto también mi costado,
y no quieres mirar hacia mí!

Te acordaste del negro racimo,
y lo diste al lagar carmesí;
y aventaste las hojas del álamo,
con tu aliento, en el aire sutil.
¡Y en el ancho lagar de la muerte
aun no quieres mi pecho oprimir!

Caminando vi abrir las violetas;
el falerno del viento bebí,
y he bajado, amarillos, mis párpados,
por no ver más enero ni abril.

Y he apretado la boca, anegada
de la estrofa que no he de exprimir.
¡Has herido la nube de otoño
y quieres volverte hacia mí!

Me vendió el que besó mi mejilla;
me negó por la túnica ruin.
Yo en mis versos el rostro con sangre,
como Tú sobre el paño, le di,
y en mi noche del Huerto, me han sido
Juan cobarde y el Ángel hostil.

Ha venido el cansancio infinito
a clavarse en mis ojos, al fin:
el cansancio del día que muere
y el del alba que debe venir;
¡el cansancio del cielo de estaño
y el cansancio del cielo de añil!

Ahora suelto la mártir sandalia
y las trenzas pidiendo dormir.
Y perdida en la noche, levanto
el clamor aprendido deTi:
¡Padre Nuestro, que estás en los cielos,
por qué te has olvidado de mí!

Fonte: Blogue "Poemas del Alma"

terça-feira, 4 de novembro de 2008

A morte é a curva da estrada

A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.

CANCIONEIRO
Fonte: Blogue "O Futuro Presente" - Post de 01Dez2005

Táctica y estrategia

Mi táctica es
mirarte
aprender como sos
quererte como sos

mi táctica es
hablarte
y escucharte
construir con palabras
un puente indestructible

mi táctica es
quedarme en tu recuerdo
no sé cómo ni sé
con qué pretexto
pero quedarme en vos

mi táctica es
ser franco
y saber que sos franca
y que no nos vendamos
simulacros
para que entre los dos
no haya telón
ni abismos

mi estrategia es
en cambio
más profunda y más
simple

mi estrategia es
que un día cualquiera
no sé cómo ni sé
con qué pretexto
por fin me necesites.

Fonte: Blogue "Poemas del Alma"

domingo, 2 de novembro de 2008

As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


Fonte: Blogue "Meu Universo em Prosa" post de 31Out2008

Fado Peniche

Por teu livre pensamento
Foram-te longe encerrar.
Tão longe que o meu lamento
Não te consegue alcançar.
E apenas ouves o vento
E apenas ouves o mar.

Levaram-te, a meio da noite:
A treva tudo cobria.
Foi de noite, numa noite
De todas a mais sombria.
Foi de noite, foi de noite,
E nunca mais se fez dia.

Ai! Dessa noite o veneno
Persiste em me envenenar.
Oiço apenas o silêncio
Que ficou em teu lugar.
E ao menos ouves o vento
E ao menos ouves o mar

Cantado por Amália Rodrigues

Fonte: Blogue Caminhos da Memória - post de 02Nov2008

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Contratados

Ah! Caravanas que passais
De homens cansados,
Esfaimados,
Cantando vergados
Ao peso da saudade,
Bandeira branca a tremular ao vento...
Caravanas de homens de pés descalços
Sangrando por tortuosos caminhos...
Como eu vos amo a todos, todos!
Oh mulheres de ancar largas, bamboleantes,
Com filhos ranhosos e famintos
Que vindes em algazarra acenardes adeus,
E gritais, gritais, palavras, impropérios,
Cobrindo o choro dos que partem...
Oh mães velhinhas, doloridas,
Que chorais por não poderdes partir
A dizerdes adeus,
Um adeus distante
A quem não esperais tornar a ver...
Ah! As caravanas, as caravanas!
Caravanas de homens esperançosos
De corpos quebrados
Que vêm de longe e se perdem à distância...

E só o mundo irado,
A fome, o cansaço.
E lá longe, a casa, as terras, as noites luarentas,
O brilho ardente das fogueiras...
E vão nas caravanas, coração pulsando,
E a esperança, sempre a esperança,
Num sonho de riqueza.
E voltam de novo, famintos,
Das terras do fim do mundo.
Voltam à terra onde andaram em pequeninos,
Com o choro dos filhos nus
Esfaimados, a pedir pão.
Deixem, homens, deixem que o tempo
Marque o trilho das caravanas em que ides partir.
Dia a dia, hora a hora,
Ele se rasgará mais brilhante,
Sem que o bafo dum vento quente
Murche as flores da tua esperança.
Partireis, triunfantes,
À demanda, à conquista,
Des terras dum novo mundo.

A Sombra de um Salgueiro

Fugi das chaminés.
do fumo, que era um denso nevoeiro.
e procurei, na beira dum regato.
a sombra de um salgueiro.

O silêncio, era música do céu;
o ar parado, absorto,
mas na água tranquila
vogava um peixe morto.

Fernanda de Castro, «Urgente» (1989)
Fonte: Blogue Fernanda de Castro

A don Miguel de Unamuno

Este donquijotesco
don Miguel de Unamuno, fuerte vasco,
lleva el arnés grotesco
y el irrisorio casco
del buen manchego. Don Miguel camina,
jinete de quimérica montura,
metiendo espuela de oro a su locura,
sin miedo de la lengua que malsina.

A un pueblo de arrieros,
lechuzos y tahúres y logreros
dicta lecciones de Caballería.
Y el alma desalmada de su raza,
que bajo el golpe de su férrea maza
aún durme, puede que despierte un día.

Quiere enseñar el ceño de la duda,
antes de que cabalgue, el caballero;
cual nuevo Hamlet, a mirar desnuda
cerca del corazón la hoja de acero.

Tiene el aliento de una estirpe fuerte
que soñó más allá de sus hogares,
y que el oro buscó tras de los mares.
Él señala la gloria tras la muerte.
Quiere ser fundador, y dice: Creo;
Dios y adelante el ánima española...
Y es tan bueno y mejor que fue Loyola:
sabe a Jesús y escupe al fariseo.

Fonte: Poemas del Alma

domingo, 26 de outubro de 2008

Mensagem

«Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço de terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer,
ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a hora!»

Fonte: Blogue: "Dragoscópio" - post de 05Out2008

domingo, 19 de outubro de 2008

Sossega, coração! Não desesperes!

Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

2-8-1933

Fonte: Blogue: Lupango da Jinha - post de 24Set2008

Certeza

De tudo, ficaram três coisas:
A certeza de que estamos sempre começando...
A certeza de que precisamos continuar...
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar...

Portanto devemos:
Fazer da interrupção um caminho novo...
Da queda um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro...

Blogue Lupango da Jinha - post de 22Set2008

sábado, 18 de outubro de 2008

Buganvílias Entrelaçadas

Tenho amigos
que viajam comigo no tempo
e são uma parte de mim,
às vezes lêem o livro que leio,
cantam a música que ouço,
estão no silêncio que trago
- um silêncio em que os sinto,
gémeos neste sonho comum
de “crescermos” para este mundo,
que começa em cada um de nós…

Às vezes
transformam-se em aves
que vêm pousar a meu lado,
para eu brincar com o tempo
e fazer das distâncias um nada
e da saudade
um espaço com flores…

Depois, fica-me a sensação
de nunca estar só
neste silêncio do tempo,
que preencho com o “perfume” da vida
que existe em cada um
e com a “música” que me enche
da certeza de ESTARMOS VIVOS
Para além das palavras…

Arminda Branca M.V. Pinto - 12-04-2008
Fonte: Blogue: Brancamar - post de 20Set2008

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Claudicante

Trémulo, claudicante,
no seu fraque de bom corte,
de olho lacrimejante,
lamentando a sua sorte,
seguia o infeliz noivo
cumprindo o sacrifício
de receber na igreja,
avantajada maquia
- servida numa bandeja –
que a velha noiva trazia.

Lá ía a filosofar:
“vou juntar aos meus trint’anos
os setenta e cinco dela.
que pouco pode durar.
E a vida há-de ser bela
com dinheiro pr’a gastar,
com todo o Mundo pr’a ver
e miúdas pr’a conquistar”.

E assim chegou à Igreja.
Postou-se junto ao altar
debaixo d'olhares d'inveja
de muitos dos circunstantes
esperando que a noiva chegasse
dentro de poucos instantes.
Esperou, esperou e desesperou
vendo os minutos passar
e da noiva nem a sombra.
Eis que da porta de entrada
vem um certo burburinho,
e a figura desesperada
de um solitário padrinho,
pois que não trazia a noiva.
O pobre vinha sozinho
trazendo a triste notícia:
“A velha noiva pisgou-se
com um moço de vinte anos”.
Por algum tempo pensou-se
que seriam grandes os danos.
com o “copo de água” pago,
com a cerveja a aquecer,
os rissóis a arrefecer,
os doces a derreter,
e os convivas esfomeados
com os dentes a ranger.

Foi então que o noivo deu
prova de sabedoria.
Erguendo os braços ao Céu,
diz: "obrigado Senhor
pela lição que me deste
não me deixando vender".
Deitou o fraque pr'o chão,
e, aliviado o coração,
abandonou a igreja
e seguido p'la comitiva.
lançou~se sobre a cerveja,
os doces e os rissóis
e comeram sem parança
os pratos de caracóis.
De todos,o mais contente
era o eis infeliz noivo
que, pobre mas conformado
fez honras ao beberete.
É, como diz o ditado:
"Pobrete, mas alegrete!"

Fonte: Blogue "Roxa Zenaider" - Post de 06Out2008

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

TEMPO PERDIDO

Sinto raiva só de pensar
Em todo esse tempo perdido,
Nesse oco, esquivo tempo,
Nesse tempo não vivido
Porque o tempo eras tu.
Tempo que nada levou
Porque nele nada valia.
Eras tu a noite e o dia
E como eras tempo te foste
Deixando só amargura.
E porque o tempo tem pó
E é vago tempo sòmente
Não me doi o ficar só.
Tenho raiva unicamente
De ter perdido esse tempo.

Fonte: Blogue "A Minha Sanzala" -post de 05Out2008

Herdei uns olhos claros, sem pecado

Herdei uns olhos claros, sem pecado,
toda uma tradição, todo um passado,
de inocência, de amor e de perdão.
Um desejo de paz, de vida calma,
uma alma capaz de só ser alma,
E um doloroso, humano coração.

Fonte: Blogue: Fernanda de Castro

Primeira Hora

"Lisboa, Cais das Colunas (1940-50)", foto de João Martins

O ano desfolhou-se, dia a dia,
como uma flor cortada, um girassol,
e dia a dia a sua voz calou-se
como velha cansada melodia
de velho rouxinol.

Ontem, à meia-noite, a minha rua
abriu de par em par as portas, as janelas,
e deitou fora o lixo, as coisas velhas:
cacos, farrapos, latas e panelas.

Era a Primeira Hora
do ano que chegava.
- E eu? - pensei - Que posso deitar fora?
Que poderemos todos deitar fora?

Ai, Senhor, tanta coisa!
Nem cacos, nem farrapos,
nem latas velhas nem trapos
mas tanta dor,
Senhor,
mal empregada!
Tantos gestos errados,
as pequenas traições,
os pequenos pecados.
As calúnias subtis,
as flores venenosas
da alma envenenada,
e a cicatriz
da culpa inconfessada,
e as palavras que ferem como gumes
de afiadas adagas.

Ressentimentos, azedumes
que Te fazem sangrar as Cinco Chagas.
As larvas dos ciúmes
e as cobras rastejantes
dos pensamentos impuros.
Egoísmos sem fim
e os altos muros
das torres de marfim.
Descrença,
indiferença,
despeitos recalcados,
amassados com ódio, com rancor,
e o amargo sabor
da solidão.

Ah, Senhor, nesta hora de perdão,
nesta Primeira Hora,
quantas coisas podemos deitar fora!

Fernanda de Castro, In "70 anos de Poesia",
Fund. Eng. António de Almeida, 1989, p. 311/2.

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