quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Claudicante

Trémulo, claudicante,
no seu fraque de bom corte,
de olho lacrimejante,
lamentando a sua sorte,
seguia o infeliz noivo
cumprindo o sacrifício
de receber na igreja,
avantajada maquia
- servida numa bandeja –
que a velha noiva trazia.

Lá ía a filosofar:
“vou juntar aos meus trint’anos
os setenta e cinco dela.
que pouco pode durar.
E a vida há-de ser bela
com dinheiro pr’a gastar,
com todo o Mundo pr’a ver
e miúdas pr’a conquistar”.

E assim chegou à Igreja.
Postou-se junto ao altar
debaixo d'olhares d'inveja
de muitos dos circunstantes
esperando que a noiva chegasse
dentro de poucos instantes.
Esperou, esperou e desesperou
vendo os minutos passar
e da noiva nem a sombra.
Eis que da porta de entrada
vem um certo burburinho,
e a figura desesperada
de um solitário padrinho,
pois que não trazia a noiva.
O pobre vinha sozinho
trazendo a triste notícia:
“A velha noiva pisgou-se
com um moço de vinte anos”.
Por algum tempo pensou-se
que seriam grandes os danos.
com o “copo de água” pago,
com a cerveja a aquecer,
os rissóis a arrefecer,
os doces a derreter,
e os convivas esfomeados
com os dentes a ranger.

Foi então que o noivo deu
prova de sabedoria.
Erguendo os braços ao Céu,
diz: "obrigado Senhor
pela lição que me deste
não me deixando vender".
Deitou o fraque pr'o chão,
e, aliviado o coração,
abandonou a igreja
e seguido p'la comitiva.
lançou~se sobre a cerveja,
os doces e os rissóis
e comeram sem parança
os pratos de caracóis.
De todos,o mais contente
era o eis infeliz noivo
que, pobre mas conformado
fez honras ao beberete.
É, como diz o ditado:
"Pobrete, mas alegrete!"

Fonte: Blogue "Roxa Zenaider" - Post de 06Out2008

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