Não é Deus
E, entretanto,
Não é Homem...
Não é Deus,
Pois nasceu
Como nasce
O Homem
Natural:
- Sem véu
Providencial
E protector,
Longe dos Céus,
Face a face
Com a peste
Moral
E com a dor...
Não é Homem
Também,
Que as angústias
Incessantes,
O desencanto
Enganador,
A saudade
E, sobretudo,
O desamor
Da Humanidade,
Que em
Tão
Rudo
Quebranto
No coração
Do Homem
Transparece
E se contêm,
Como aos seus
Semelhantes
Não o consomem...
Não os conhece
Nem
Os tem...
Enquanto
Vive,
No declive
Desta descida
Sua subida
E desprendida
Vida
Exemplar,
Vive
Da prece
E para a prece;
No encanto
E para o encanto
De rezar...
Cria
Assim,
Dia a dia,
Num contínuo
Improviso,
- Em que a Alma, cega
Pela Luz que entrevê,
Renuncia,
E se entrega,
E se extasia,
Longe da humana
E profana
Refrega,
Do Pecado
Que cresce
Em tétrica
Maré
Cria
Assim
E constrói
Deslumbrado,
Supremo herói
Da Fé,
Num sorriso
De g1ória santa,
O seu destino
Divino;
O seu próprio
Paraíso
Sem
Fim...
Como quem
Planta
E rega
Um místico
Jardim.
Ambiente
Transcendente
De infinita
E bendita
Felicidade
Interior,
Onde, no anseio
Redentor
De que anda cheio,
Palpita
Enternecidamente
O amor
De toda a gente;
E, acima
Do amor
Do próximo,
Que o sublima
Entre os crentes
Ardentes
E os míseros
Ateus,
Bem superior
A todo o amor,
O Amor de Deus!
Eis o Santo:
- Num facho espiritual
De beatitudes,
À g1ória
Incorpórea
Se junta
A graça infinda,
Virtude entre
Virtudes,
Em que há
Tanto
De humano
Reconforto
Como de sobrenatural
Amanhecer. . .
Sente,
Pensa,
Vive ainda
Nessa claridade
Imensa,
Mas já
Fora
Do seu ser...
Vive em sonho
Todo o ano,
Sonho risonho
Pela ternura
Que a Alma invade,
Alegre e pura;
Mas está,
Entretanto
Na crença
Que liberta
Do prazer,
Sempre
Morto
Por morrer...
Agora
Certa
Pergunta
Se faz mister:
SÃO JOÃO DE DEUS
Não
Quis
Ser
Santo,
Foi-o:
Trouxe
A Alma
A esvoaçar,
Sem
Lar
Nem
Pátria,
Doce,
Calma,
Feliz...
No dever
De apartar
O trigo
E o joio;
De só viver
«Será
Santo
Quem quer?»
Por bem,
Para abrigo,
Amparo
E apoio
Dos
Que não
Têm,
Seu
Claro
E puro
Espírito
Sempre em
Graça,
Luz
Acesa
Num escuro
De breu,
Muito além
Desta
Matéria,
Baça
E molesta,
Resplandeceu
Mendigo,
Bom
Amigo
Da pobreza,
Casou-se
Com
A miséria:
Nessa
Mística,
Etérea
Boda,
Mal
Começa
A promessa
Nupcial,
Qual
Se fosse
Coluna
Em
Fogo
Da Fortuna,
Que a Fé
Ergueu;
E como
Quem
- Num assomo,
Num hino -–
Ao esplendor
Do Amor
Divino
Descerra
o véu...
Logo
Espalha
Sozinho,
Espalha...
Espalha...
Mão
Que não
Falha,
Té
À última
Migalha,
Pelo caminho
Da Terra,
Toda
A riqueza
Do céu!
[S. João de Deus na Poesia Portuguesa]
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