quinta-feira, 16 de março de 2017

A uma africana

nos teus olhos pestanudos
eu vejo um mar de desejos,
nos lábios, talvez carnudos,
um labyrinto de beijos.

a tua boca mimosa
é um cofre de coral
onde tu guardas vaidosa,
dentes brancos sem rival.

as ternas modulações
do teu olhar pausado,
dão-me às vezes tentações
de me matar a teu lado.

se fallas não sei que mago
som me attrahe e fascina;
parece, ao longe, n'um lago,
ouvir-se uma cavatina.

eu tenho um certo receio
de bem encarar de frente
o teu olhar, todo cheio
d'um fogo surprehendente.

as tuas faces para mim, -
- d'um moreno provocante,
são as rosas d'um jardim
de perfume estonteante.

na curva pronunciada
do teu collo admirável
poisa às vezes, confiada,
minha vista insaciável!

não sei que graça infinita,
que mystérios nelle vejo;
quem me dera ter a dita
d'hai matar um desejo.

n'um revolto desalinho
teus cabellos ondeados
parecem o fofo ninho
de dois pombinhos amados.

se teu conjuncto contemplo
sinto uma doce vertigem
julgo-me dentro d'um templo
adorando a santa virgem!

será feliz quem tu queiras
o que teu amor inflame;
gentil filha das palmeiras,
ngu xála, ngâna, ngui'âme (1)

(1)"Deixo-vos, Senhora, retiro-me"

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