Saltita catuitui, saltita,
esvoaça catuitui, esvoaça;
diz-me aí do alto o que se passa,
segue-a, e sê a minha vista.
Descortina-lhe livres caminhos,
dá-lhe rumo sem presentir
que de mim foi enamorado pedir,
como de teu cuidado são os ninhos.
Leva-a em tuas asas, se preciso for,
delicada e cuidadosa não te ferirá,
não lhe digas quem sempre a amará,
Nem que do sol e da lua, se preciso for,
luz de mil anos que sejam guardarei
para que na Noite dos Tempos seja seu Astro Rei.
04-06-2005
Fonte: Blogue "A Poesia de Valério Guerra", post de 04Jun2005.
sexta-feira, 31 de março de 2017
Catuitui
quinta-feira, 30 de março de 2017
Il «Pater Noster» Orazione di Giesù Cristo
Padre, che stai nel ciel, santificato
perché sia il nome tuo, venga oramai
il regno tuo; che in terra sia osservato
il tuo voler, sì come in ciel fatto hai.
E ’l cibo all’alma ed al corpo pregiato
danne oggi; e ci perdona obblighi e guai,
come noi perdoniamo agli altri ancora.
Né ci tentar; ma d’ogni mal siam fuora.
Fonte: in Poesie de Tommaso Campanella, Pág. 108
quarta-feira, 29 de março de 2017
Dantes (En los tiempos antiguos)
Os vendedores
De fruta
Cereais
Plantas e peixe
Estendiam a mercadoria
Nas tendas
Do mercado
E depois iam
Visitar-se uns aos outros
E cumprimentar-se
Desejando
Mutuamente
Um bom negócio.
Uns e outros
Não tinham
O mesmo culto,
Mas sabiam
Que existir
Depende sempre dum contrato.
Agora
Aos sábados
Têm as costas voltadas
Uns para os outros
Nos olhos
Lê-se-lhes a desconfiança e
A uni-los,
Circulam entre eles
Os cães
Vadios.
Fonte: ALBERTO PIMENTA, ANTOLOGIA DE POEMAS AQUI E LÁ ESCARBADOS
terça-feira, 28 de março de 2017
Vêm agora
Vêm agora
Empoleirados em camiões.
O único contacto
Com a terra
É quando saltam
Para a pisar.
Têm um coração
Que deve ser cego,
Por isso amparam-se
A uma espingarda,
Como os cegos
A uma bengala.
Caminham dos pés à cabeça
Carregando com a morte:
São muitos
Os que tropeçam já
Num sulco de terra.
Esses
Não tornarão a ver
O disco da aurora.
Outros se seguirão,
Um a um.
Esta
É a palavra
Dum coração que vê.
in Marthiya de Abdel Hamid Segundo Alberto Pimenta, 2005
Fonte: ALBERTO PIMENTA, ANTOLOGIA DE POEMAS AQUI E LÁ ESCARBADOS
segunda-feira, 27 de março de 2017
Elegia
já nada é o que era
e provavelmente nunca mais o será
e mesmo que o fosse
algo me diz que já não seria o que era
porque o que era
era o que era por ser o que era
do que eu me lembro muito bem
embora eu então não fosse o que agora sou
mas o que agora sou
ou estou a ser
é deixar de ser o que sou
porque eu sou deixando de ser
deixar de ser é a minha maneira de ser
sou a cada instante
o que já não sou
e o mesmo se deve passar com tudo o que é
motivo por que não admira que assim seja
quer dizer
que nada seja o que era
e se assim é
ou já não é
seja ou não seja
Alberto Pimenta, in 'Ascensão de Dez Gostos à Boca'
Fonte. Blogue "Citador"
domingo, 26 de março de 2017
Aquela negra
aquela negra, de enxada em punho,
lutando pela minha fome;
aquela preta que jorra suores na minha sede;
e que vai de lenha à cabeça
porque o frio me consome;
aquela negra pobre, sem nada,
que vende os panos para me vestir,
que chora nas ruas o meu nome,
aquela negra é minha mãe
Jorge Macedo (1941-2009)
Fonte. Blogue "Angola: os poetas", post de 31Jan2009
sábado, 25 de março de 2017
Colar de missangas
naquela rua da praça…
foi ali que a encontrei
e conheci
e gostei
de a ver passar
com a quinda na cabeça…
não notei as cores dos panos,
não notei o que levava
para vender.
só reparei
e gostei
do seu colar de missangas.
soube depois
que era recordação
dum homem com quem vivera…
um dia
- quantos já passados –
estava ela na baía
quando o guerreiro,
fogueiro
ou marinheiro
de cabotagem,
apareceu por ali.
encontrou-a
convidou-a,
ela foi
e ofereceu-lhe o colar.
depois seguiu a viagem
e a vida seguiu também.
meses passados
nasceu-lhe o filho.
gostou,
ficou contente.
Depois
morreu-lhe o filho.
chorou,
enlouqueceu de repente.
e agora
todas as manhãs
quem quiser a vê passar
a caminho da quitanda
com a quinda na cabeça.
e conta os dias
passados á espera do filho,
pelas missangas
rubras, da cor das pitangas,
que vai pondo,
dia a dia,
no fio do seu colar.
ontem
quando a vi passar
o colar
tinha dez voltas…
Fonte. Blogue "Angola: os poetas", post de 17Dez2010
sexta-feira, 24 de março de 2017
Queixa
toda a noite te esperei.
quando cheguei
não estava ainda luar.
e fiquei
a esperar
que viesses
como tinhas prometido.
toda a noite te esperei
e afinal não apareceste.
fiquei esperando,
esperando,
e as horas foram caindo,
uma a uma
como gotas de cacimbo.
entretanto,
surgiu detrás da igreja
o disco em prata,
da lua.
debaixo da cajadeira,
junto à valeta da rua
e sob a luz que me encanta,
vi nascer a madrugada
da cor da semana santa
vi como a noite fugia
e como raiava o dia.
…toda a noite te esperei
E afinal não apareceste…
Fonte: Blogue "Angola: os poetas", post de 06Jul2009.
quinta-feira, 23 de março de 2017
Kalahári
Flor pálida dos trópicos, ó flor
de chama, com pétalas de lume...
flor gentil do jardim dum grande amor,
que tem o clima estranho do ciúme!
tens a beleza dos desertos quentes
e a tristeza anémica do sul,
filha do kalahári,
miragem do deserto
de areias de oiro,
reflectindo
o céu azul
enamorado de ti...
deserto e céu enamorados
e perseguindo
teu corpo de sonho, a despertar!
filha do kalahári,
que tentação a tua...
és linda e triste,
como à noite a branca lua!
ó rainha do deserto,
que sepulta um morto mar,
talvez tu sejas de perto
a sombra de quem morreu,
a alma de quem sofreu,
há mil anos, nesse mar,
e o milagre do amor,
quebrando o túmulo das águas,
fizesse ressuscitar!
Fonte: Blogue "Angola: os poetas, post de 04Abr2014.
quarta-feira, 22 de março de 2017
A Maior Tortura
Na vida, para mim, não há deleite.
Ando a chorar convulsa noite e dia ...
E não tenho uma sombra fugidia
Onde poise a cabeça, onde me deite!
E nem flor de lilás tenho que enfeite
A minha atroz, imensa nostalgia! ...
A minha pobre Mãe tão branca e fria
Deu-me a beber a Mágoa no seu leite!
Poeta, eu sou um cardo desprezado,
A urze que se pisa sob os pés.
Sou, como tu, um riso desgraçado!
Mas a minha tortura inda é maior:
Não ser poeta assim como tu és
Para gritar num verso a minha Dor! ...
(Dedicado a um grande poeta)
Fonte: Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas", in Citador
terça-feira, 21 de março de 2017
Pior Velhice
Sou velha e triste. Nunca o alvorecer
Dum riso são andou na minha boca!
Gritando que me acudam em voz rouca,
Eu, náufraga da Vida, ando a morrer!
A Vida, que ao nascer, enfeita e touca
De alvas rosas a fronte de uma mulher,
Na minha fronte mística de louca
Martírios só poisou a emurchecer!
E dizem que sou nova... A mocidade
Estará só, então, na nossa idade,
Ou está em nós e em nosso peito mora?!
Tenho a pior velhice, a que é mais triste,
Aquela onde nem sequer existe
Lembrança de ter sido nova... outrora...
Fonte: Blogue "Livros e Palavras", post de 17Ago2012.
segunda-feira, 20 de março de 2017
Às Mães de Portugal
Poema escrito em homenagem aos soldados portugueses que lutaram em França durante a Primeira Guerra Mundial.
Fonte: livro "Mãe", edição 101 noites, Pág. 61-62.
domingo, 19 de março de 2017
Dia do Pai
"hoje senti saudades de ti ... pai ...Fonte: BATALHÃO DE ARTILHARIA 1914 - Tite, Guiné/Bissau, post "Dia do Pai" de 19Mar2010.
saudades de te ter , de te abraçar,hoje senti saudades de ti ...saudades de te ver sorrir ...saudades da tua face e teus olhos...hoje senti saudade de te olhar...saudades da tua voz...mas senti saudades de te ouvir falar,(de te ouvir tocar guitarra portuguesa...)hoje senti saudades de ti ...de te ver a trabalhar,de te ouvir rir, pena não te ver envelhecer ...ver-te chegar a casa, era uma casa cheia...hoje olhei-me ao espelho, pensei em ti...no verde de meus olhos vi saudade,vi-te dentro do meu olhar, fiquei ali...e fiquei nos meus olhos à vontade ...pedi então a Deus p'ra adormecerque pudesse ver-te, ainda que a sonharnão pude dormir, pai ,não pude... que a saudadefoi mais forte do que eu, pôs-me chorar..."
sábado, 18 de março de 2017
Campo de merendas
E cantares de passarinhos
E mesas com bancos de madeira tosca
Em sala de jantar do campo
Sombreada e boa
Fogão a carvão
cozinha de antigamente
Neste lugar distante
Tudo é novo
Há desconhecido
e há diferente
Alguém prepara o petisco
Outro põe a mesa
Em talheres de ocasião
Uns e outros vivem o lugar
em permanente comunhão
Rede de índio
Esticada ao alto
Em soneca balouçante
devagar se escoa o tempo
No calor da tarde
Música de grilos
Acompanha o batuque das verdes folhas
em acordes batidos pelo vento
Anoitece
Mais tarde a Lua nasce a leste
Brilham as estrelas
e bem ao alto
vai passando o carrocel celeste
Ao serão
Canta o ruído da bicharada
E o murmurar da fonte próxima
e há temor
e cresce a adrenalina
Por um dia
Este é o meu quarto
Com paredes de vento
Soalho de folhas secas
Telhado verde de folhagem vária
Sem sobressalto desfruto
neste templo da natura
um concerto de emoções e música
de toda uma noite
Gozo um diálogo incessante
de eu para outros "eus"
que nascem dentro de mim
e que sinto que também são meus
sexta-feira, 17 de março de 2017
CHUVA QUE CAI DE MANSINHO
CORREM AS ÁGUAS PELA ESTRADA
CHUVA QUE CAI DE MANSINHO
SÄO PASSOS QUE PASSAM, CAMARADA
JUNTO A PORTA DO MEU NINHO
DOR QUE SENTE A ALMA, DEVAGARINHO
MELANCÓLICA SE ABRE A LUA
REFLECTE COMO ESPELHO EM MINHA RUA
A IMAGEM SUBTIL DA MINHA AMADA.
TRISTE PELA LONGURA DISTANTE
TROPEL DA GUERRA QUE ME INCENDEIA
SÓ ME SINTO, NESTE INSTANTE
TÄO PERTO E TÄO LONGE DE TI, ADORADA
DA ALEGRIA VEM A DOR QUE DESPREZADA
IGNORO, COMO VAGABUNDO ANDANTE
BUSCA COISA BOA, AMOR GALANTE
VIDA QUE ALIMENTA ESTA CANDEIA.
11/DEZ/1973
quinta-feira, 16 de março de 2017
A uma africana
eu vejo um mar de desejos,
nos lábios, talvez carnudos,
um labyrinto de beijos.
a tua boca mimosa
é um cofre de coral
onde tu guardas vaidosa,
dentes brancos sem rival.
as ternas modulações
do teu olhar pausado,
dão-me às vezes tentações
de me matar a teu lado.
se fallas não sei que mago
som me attrahe e fascina;
parece, ao longe, n'um lago,
ouvir-se uma cavatina.
eu tenho um certo receio
de bem encarar de frente
o teu olhar, todo cheio
d'um fogo surprehendente.
as tuas faces para mim, -
- d'um moreno provocante,
são as rosas d'um jardim
de perfume estonteante.
na curva pronunciada
do teu collo admirável
poisa às vezes, confiada,
minha vista insaciável!
não sei que graça infinita,
que mystérios nelle vejo;
quem me dera ter a dita
d'hai matar um desejo.
n'um revolto desalinho
teus cabellos ondeados
parecem o fofo ninho
de dois pombinhos amados.
se teu conjuncto contemplo
sinto uma doce vertigem
julgo-me dentro d'um templo
adorando a santa virgem!
será feliz quem tu queiras
o que teu amor inflame;
gentil filha das palmeiras,
ngu xála, ngâna, ngui'âme (1)
(1)"Deixo-vos, Senhora, retiro-me"
quarta-feira, 15 de março de 2017
IRENE NO CÉU
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
- Licença, meu branco!
E São Pedro Bonacheirão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.
Fonte: Blogue "José Maria Alves, post de 17Ago2013.
terça-feira, 14 de março de 2017
O analfabeto Político
O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
Nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe o custo da vida,
O preço do feijão, do peixe, da farinha,
Do aluguel, do sapato, do remédio
E nem dos impostos que paga.
Depende das decisões políticas.
O analfabeto político
É tão burro que se orgulha
E estufa o peito dizendo
Que odeia política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
Nasce a prostituta, o menor abandonado,
E o pior de todos os bandidos,
Que é o político vigarista,
Pilantra, corrupto e lacaio
Das empresas nacionais e multinacionais.
Fonte: Grupo do Yahoo "Observatório Sociológico" - post de 16Out2008
ObservatorioSociologico@yahoogrupos.com.br
segunda-feira, 13 de março de 2017
Sábado nos Musseques
Os musseques são bairros humildes
de gente humilde
e logo ali se confunde com a própria vida
transformada em desespero
em esperança e em mística ansiedade
no significado das coisas
e dos seres
acesa em vez de candeeiros
de iluminação pública
que pobreza e luar
casam bem
sentida nos barulhos
e no cheiro a bebidas alcoólicas
espalhadas no ar
com gritos de dor e alegria
misturados em estranha orquestração
no homem fardado
alcançando outro homem
que domina e leva aos pontapés
e depois de ter feito escorrer sangue
enche o peito de satisfação
por ter maltratado um homem
onde o casse-tête derrubou o homem
darão voltas
saltarão muros
pisarão espinhos
pés descalços se cortarão
sobre cacos de garrafas
quebradas por crianças inocentes
e cada mulher
suspirará de alívio
quando o seu homem entrar em casa
Ansiedade
nos soldados que se divertem
emboscados à sombra de cajueiros
à espera de incautos transeuntes
ais de dor
lancinam ouvidos
ferem corações tímidos
e afastam-se passos
em correia angustiante
e depois dos risos da matula
desenfreada
só silêncio mistério lágrimas e ódio
e carnes laceradas
pelas fivelas dos cinturões
nos que passam
à procura do prazer fácil
escondido em recanto escuro
violando uma criança
e a criança
só tarde
clamará contra o destino
na contenda da taberna
escandalosamente
velha dívida de cem mil réis
entre os murmúrios
da numerosa assistência
nas mulheres
abandonaram os homens
para ouvir
a vizinha aos gritos
ralhando contra a pobreza do marido
choros histéricos
ruídos de cadeiras caídas
respirações ofegantes
tilintar doloroso
de louça de ferro esmaltado
e a multidão invade a casa
os desavindos expulsam-na
e depois vem a reconciliação
com risinhos de prazer
nos alto-falantes do cinema
de bocas escancaradas
a gritar swing
ao pé das bilheteiras
enquanto um carrocel
arrasta em turbilhões de sonho
luzinhas vermelhas verdes azuis
e também
a troco de dois mil e quinhentos
namorados e crianças
nos batuques saudosos
dos kiocos contratados
o fundo de todo o ruído
A derrubar o sussuro
Da ânsia tumultante
na humilde criança
que foge amedrontada do polícia
de serviço
no som da viola
acompanhado uma voz
que canta sambas indefinidos
deliciosamente preguiçosos
pejando o ar
do desejo de romper em pranto
possa o grito de saudade
que a multidão tem dos dias não vividos
dos dias de liberdade
e a noite
bebe-lhes os anseios de vida
Ansiedade
nos bêbedos caídos nas ruas
alta noite
nas mãos aos gritos
à procura de filhos desaparecidos
que consulta o kimbanda
para conservar o emprego
que pede drogas ao feiticeiro
para conservar o marido
que pergunta ao advinho
se a filhinha se salvará
da pneumonia
na cubata
de velhas latas esburacadas
compaixão
as nossas senhoras
nas famílias rezando
bêbedos urinam na rua
encostadas à parede
afastando-se depois
a ridicularizar as vezes
que perceberam
através das persianas das janelas
dançada à luz do acetileno
ou do candeeiro Petromax
em sala pintada de azul
cheia de pó
e do cheiro a suor dos corpos
e de maneios de ancas
e de contactos de sexos
nos que riem e nos que choram
e nos que respiram sem compreender
nas salas de dança
regurgitantes de gente
onde daí a instantes
o namorado repreende a noiva
insultos são atirados para o ar
enchendo o recinto de questões
que extravasam para a rua
acudindo polícias aos assobios
no esqueleto de pau a pique
ameaçadoramente inclinado
a sustentar pesado tecto de zinco
e nos quintais
semeados de dejectos e maus cheiros
nas mobílias sujas de gordura
nos lençóis esburacados
e nas camas sem colchão
nos que descobrem multidões passivas
esperando a hora
ferve o desejo de fazer o esforço supremo
para que o Homem
e a esperança
não mais se torne
em lamentos da multidão
faz desabrochar mais vontades
nos olhares ansiosos dos que passam
nos musseques
com mística ansiedade
vai desfraldando heróicas bandeiras
nas almas escravizadas.
domingo, 12 de março de 2017
Coqueiro
Ali, na rua do Carmo um coqueiro ficou abandonado quando destruiram a casa velha a que deu sombra. E onde um par enamorado teve sonhos de Amor, nesse pedaço de Luanda antiga agora modernizada. E o coqueiro ligado à terra, tombado na direcção da Rua da Pedreira, como filho nos maternos braços ali ficou. Talvez para saudar alguém que muito sofreu e amou... Mas tudo acaba e o tempo tudo anda a destruir, - porque tudo é passageiro, quando se vive a mentir. Ó pincelada verde na cidade, ruina e gótica coluna de marmore verde... Morre, coqueiro morre, Antes que os homens, tão maus, cometam a crueldade de te expulsar e matar. Morre de pura saudade... E perdoa, mas sofre como um homem, coqueiro das verdes palmas, porque tudo, afinal, na vida, é triste quando se matam almas...
sábado, 11 de março de 2017
HINO DA EICAP
Quantas saudades eu sinto
sexta-feira, 10 de março de 2017
Namibe
Grande é o Namibe
Aquém e além Cunene
Vida em murmúrio a passar.
Grande é o Namibe
e a alma-poeta
uma grande Welwitschia Mirabilis
macho e fêmea
cio em flor
no deserto vida teimosa a rasgar.
Fonte: "Gente do meu tempo" - post de 28Abr2008
quinta-feira, 9 de março de 2017
Liberdade! Por Fernando Pessoa
Ai que prazer
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira.
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original,
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa…
Livros são papeis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quando é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca…
Muito se pode dizer acerca deste poema de Fernando Pessoa, mas para mim a ideia principal é chegar a um estado de liberdade através das coisas simples da vida… mas isso é simplesmente cada vez mais impossível nos dias que correm!
Fonte: via Salpicos by Pedro Correia Santos on 8/19/08
quarta-feira, 8 de março de 2017
E desde então, sou porque tu és
E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos...
Fonte: Blogue "AMORE" - post de 16Jan2009
terça-feira, 7 de março de 2017
As Bolas de Sabão
As Bolas de Sabão
As bolas de sabão que esta criança
Se entretém a largar de uma palhinha
São translucidamente uma filosofia toda.
Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,
Amigas dos olhos como as cousas,
São aquilo que são
Com uma precisão redondinha e aérea,
E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,
Pretende que elas são mais do que parecem ser.
Algumas mal se vêem no ar lúcido.
São como a brisa que passa e mal toca nas flores
E que só sabemos que passa
Porque qualquer cousa se aligeira em nós
E aceita tudo mais nitidamente.
Fonte: via O Lupango da Jinha em 23/02/09
segunda-feira, 6 de março de 2017
Vou de comboio...
Vou
Mecanizado e duro como sou
Neste dia,
E mesmo assim tu vens, tu me visitas!
Tu ranges nestes ferros e palpitas
Dentro de mim, Poesia!
Vão homens a meu lado distraídos
Da sua condição de almas penadas;
Vão outros à janela, diluídos
Nas paisagens passadas...
E porque hei-de ter eu nos meus sentidos
As tuas formas brancas e aladas?
Os campos, imprecisos, nos meus olhos,
Vão de braços abertos às montanhas;
O mar protesta contra não sei quê;
E eu, movido por ti, por tuas manhas,
A sonhar um painel que se não vê!
Porque me tocas? Porque me destinas
Este cilício vivo de cantar?
Porque hei-de eu padecer e ter matinas
Sem sequer acordar?
Porque há-de a tua voz chamar a estrela
Onde descansa e dorme a minha lira?
Que razão te dei eu
Para que a um gesto teu
A harmonia me fira?
Poeta sou e a ti me escravizei,
Incapaz de fugir ao meu destino.
Mas, se todo me dei,
Porque não há-de haver na tua lei
O lugar do menino
Que a fazer versos e a crescer fiquei?
Tanto me apetecia agora ser
Alguém que não cantasse nem sentisse!
Alguém que visse padecer,
E não visse...
Alguém que fosse pelo dia fora
Neutro como um rapaz
Que come e bebe a cada hora
Sem saber o que faz...
Alguém que não tivesse sentimentos,
Pressentimentos,
E coisas de escrever e de exprimir...
Alguém que se deitasse
No banco mais comprido que vagasse,
E pudesse dormir...
Mas eu sei que não posso.
Sei que sou todo vosso,
Ritmos, imagens, emoções!
Sei que serve quem ama,
E que eu jurei amor à minha dama,
À mágica senhora das paixões.
Musa bela, terrível e sagrada,
Imaculada Deusa do condão:
Aqui vou de longada;
Mas aqui estou, e aqui serás louvada,
Se aqui mesmo me obriga a tua mão!
Miguel Torga
Fonte: Blogue "Ar da Guarda", post de 16Out2009.
domingo, 5 de março de 2017
Marcha do Centenário (da cidade de Moçâmedes - 4 de Agosto de 1949)
«No dia 04 de Agosto de 1949, dia do Centenário da Cidade de Moçâmedes, por toda a cidade se ouvia, transmitidos através dos microfones montados sobre uma carrinha do Radio Clube, que a percorria de lés a lés, esta bonita canção:»
Marcha do Centenário
I
Assim toda engalanada
Digo orgulhosa ao mar
Olha para mim
Como vou bela ao passar
II
Quero viver minha festa
Quero rir, quero folgar
O Mar imponente
Grita a toda a gente
Vai Moçâmedes a passar
III
Sou há um século nascida
Velhice inda não senti
Tive horas de glória
Enchi minha história
De rosas que então teci
IV
As minas lindas Miragens
Todos vão admirar
Sorrindo ao céu
Sinto o mundo meu
Quando ouço assim cantar
REFRÃO
Num areal doirado
Pelo sol beijado
Há já cem anos nasceu
Moçâmedes gentil
Bela e juvenil
Pertinho do mar cresceu
Hoje, embandeirada
Princesa encantada
Do Namibe o seu senhor
Sente mar confiante
Dizer radiante
Ai que linda vais amor.
Fonte: Blogue "Gente do meu Tempo" in parte do post de 20Mar2010
sábado, 4 de março de 2017
Vidas inacabadas
Morrem soldados na flor da idade
Morrem mães que ainda não o foram
Morrem bébés que ainda não nasceram
Morrem operários a trabalhar
Morrem heróis e santos
Morrem adolescentes
Morrem condutores em acidentes loucos
Morrem velhos cheios de sabedoria
e com histórias para contar
Morrem doutores, psicólogos
dentistas, sacerdotes
enfermeiros, médicos, agricultores...
E tantos
com tanta coisa para dar
Morrem homens bons e de sabedoria
alguns com vidas ainda por começar
outros
com vidas por acabar.
Poucos
ou mesmo nenhuns
Com vidas já acabadas!!!
Rui Moio
31Ma2007
Concebido na Unidade dos Cuidados Intensivos do Hospital de Santa Marta em Lisboa alguns dias antes de uma operação urgente ao coração.
sexta-feira, 3 de março de 2017
" Hace-me lo que queiras "
Mi Hijo
Hace-me lo que queiras
Soy tuya, toda tuya
Beija-me, abraça-me toda
Aperta-me contra mim
Quero que sintas os meus peitos arquejando
meus lábios humedecidos
Vem, vem para o pé de mim
dá-me um abraço
conta-me uma das tuas histórias
Dá-me o que tens de melhor,
o teu carinho
Passa-me as mãos pelas cochas
Sente o arfar da minha vulva
passa a mão devagarinho
Sente o húmido dos partes escondidas
Vem, mi Hijo vien
Hace-me lo que queiras
Soy tuya, toda tuya
Vien, te quiero mucho
queda-te cerca de mi.
Hace-me lo que queiras
Soy tuya, toda tuya
Rui Moio, redigido a 10 de Novembro de 1998.
palavras 118
quinta-feira, 2 de março de 2017
25. MY YOUNG LIFE
Now, I remember
my young life
when I was a child
At some years ago
there was the war
in my Country
Many men dead
their bodies start there
on my Birth Land
But now, come at my mind
the names of my friends
which they met the dead
theyare always in my head
and for that
I will can never forget them.
The End
Rui Moio
25th May 1970
quarta-feira, 1 de março de 2017
Cara al Sol
Cara al sol com la camisa nueva
Que tu bordaste rojo ayer
Me hallará la muerte si me lleva
Y no te vuelvo a ver
Formaré junto a los compañeros
Que hacen guardia sobre los luceros
Impassible el ademán
Y están presentes en nuestro afán
Si te dicen que caí,
Me fui al puesto que tengo ali
Volveran banderas victoriosas
Al paso alegre de la paz
Y traran prendidas cinco rosas
Las flechas de mi haz
Volverá reir la Primavera
Que por cielo, tierra y mar se esperán
Arriba esquadras a vencer
Que en España pienza amanecer
Fonte: Falangista Campense - post de 21Set2008