quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

PONHO A MESA DE AZEVINHO

Neste mosto de Natal
Com luzes sem tal e qual
Como as que guardo da infância
Rasgo o poema num galho
Que desdobro na memória
À lareira da lembrança

É feito das minhas ondas
Que se derretem no olhar
Entre presépios desfeitos
E sinos a badalar

E na toalha de linho
D'uma avó que já não tenho
Celebro a pauta da vida
Em canto sem ter tamanho

É Hino aberto ao pulsar
D'uma Estrela sem Belém
Vai no regato do sangue
P'ró musgo da minha Mãe

Ponho a mesa d'azevinho
Com palhas de fios de lã
Com chaminés de poemas
Soltos em grãos de romã

E em jantar onde me sento
Com olhos de ver em mim
Trilho saudades do tempo
Em ceia de mar sem fim

Nozes,passas,figos secos
Licores-doces,doces-vinhos
Rabanadas,filhós,sonhos
Cantilenas de carinhos

Sapatinhos, botas,socas
Mais um madeiro a queimar
O frio da Missa do Galo
E a neve deste gelar

E no cruzar do caminho
Num alpendre sem ter nome
Um Cristo a dormir sozinho
Em Natal que foge a monte...

Maria José Praça (N.126080 da SPA)

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