sexta-feira, 18 de julho de 2008

Trovas do Exílio - VII

via PoeMaconge by noreply@blogger.com (José Jorge Frade) on 7/18/08
Já se viam chegados todos à terra
que procurada já por tantos fora
porque duas Ceias já encerra
na sua história vencedora.
Ora, hoje já se vê com que guerra
irão comer a caldeirada de albacora
o macongino que chegado tem adiante
churrasco, arroz-doce e vinho abundante.

E, como a gente vinha a desejar
que o Soba d'Aveiro que ali s'assentava
fizesse o seu discurso a falar
como o Jonas que ali não estava,
fez-se silêncio para aquele começar
a palestra original que só ele ousava.
Todos como que acordados se sentiram
voando nos espaços donde fugiram.

Com a vista turva já olha a planura
das austrais terras que não se compadecem
de longe terem ficado na espessura
dos matos de mutiáte que reverdecem.
Assim se vê o huilano, que a ternura
tinge os gestos que ali permanecem,
perdido na franja da saudade ardente
espargida com vinho entre tanta gente.

O Plenipotenciário Ministro enfurecido
por Baco exigiu que se fizesse julgamento
ao bárbaro que ali se encontrava atrevido
porque não sendo do Reino, com alento
se assentava na mesa onde ceva com alarido
o macongino povo de tanto merecimento.
O Vice-Rei porque a capa negra não levou
o bárbaro Faustino no nosso seio aceitou.

Das muitas histórias que se contaram
à volta da grande mesa em ferradura
que no Deixa-o-Resto concertaram,
destacou D. Canduzeiro a certa altura
a dos churrascos que bem desossaram
num baile da Mapunda. A fartura
de ossos era tal que um cão esfomeado
em baixo da mesa foi logo colocado.

Depois da inesperada tempestade,
nocturna coca-cola que o milagre atento
veio transmudar em vínica qualidade,
a Grã-Duquesa discursou o atrevimento
da Morganda que na negra escuridade
quis envolver o seu real talento:
no Reino de Maconge sempre aconteceu
beber ela o que o Vice-Rei bebeu!

E como foi um corajoso acto
pediu por isso a Grã-Duquesa
que o poeta do Reino de facto
ali declamasse com arte e beleza
em honra de quem vindo do mato
ousara desafiar a realeza.
Em mufia cantou logo o trovador
sendo o Duque do Chaungo o tradutor.

Chegado era o momento prometido
em que o Grão-Duque já aguardava
que o Campino, à sua voz submetido,
se ouvisse como bem se esperava.
Sobre o trono se elevou comprido
e por cima de nós bem declamava
o ribatejano que ganhara fama
perdendo-a agora o bravo cuanhama.

Logo que a última sílaba do "Campino"
deixou de se ouvir na noite alta
e do touro ribatejano o trágico sino
deixou de tinir e se pôs em falta,
lançou-se o trovador como um felino
para o meio do salão onde estava a malta.
Saltou e dançou como um pastor muíla
em homenagem às gentes da Huíla.

Da terra africana lhe respondiam
as lembranças que na alma lhe moravam,
que sempre nos seus olhos traziam
quando de sua terra se apartavam.
Naquela noite que os canculas se ouviam
os gestos ritmados celebravam
as chanas onde os bois às centenas
eram pássaros de coloridas penas.

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