domingo, 20 de julho de 2008

Macongíadas - Canto Primeiro

I
Os feios e galãs assinalados
Que em macongino reino agora existem,
Nunca deixam de andar apaixonados
E apesar das tampadas não desistem
De as asas arrastarem excitados,
Pois conseguem aquilo em que persistem,
Entre as moças bonitas alcançaram
Novas façanhas que todos espantaram.

II
Não são só as conquistas amorosas,
Que aos corações vão dando a alegria,
(Se o mundo é para eles um mar de rosas
E aquelas são o pão de cada dia)
Mas também as serenatas maviosas
Dessa gente de heróica valentia.
Tudo direi de forma bem sucinta,
Se me chegar papel, engenho e tinta.

III
Cessem de americanos as ideias
De terem as mulheres mais bonitinhas,
Temos, é certo, algumas muito feias
Mas muitas outras belas e girinhas,
Tão lindas como rosas ou sereias,
Peixões bem superiores às francesinhas
Pois Maconge, apesar de pouca idade,
Andou em graça mais que em fealdade.

IV
Queria cantar em versos sonorosos
Os feitos magistrais dos maconginos,
Os feitos de efeitos estrondosos,
Dum povo de valentes paladinos,
Este povo de homens temerosos,
Espertos, sabedores e muito finos
Que lançaram no outro e neste mundo
Os traços dum civismo bem profundo.

V
Mas para resolver esta maçada
De que D.Caio-o Rei- me incumbiu,
Invoco as musas pois está já esgotada
A veia que outrora distinguiu
Camões, Bocage e toda a mais "cambada"
De poetas que na terra já se viu,
Se por elas conseguir ser atendido
Satisfarei do Rei o seu pedido.

VI
Dai-nos pois uma fúria inimitável
E não a dum piano escangalhado,
Mas sim a dum trombone formidável
Como aquele do Parreira, surdo ousado,
A vossa acção será então louvável
E Maconge p'los outros aclamado.
Que se lance e se cante na cidade
Actos de tão grande temeridade.

VII
Vós sois,ilustre Rei, o descendente
Da família dos Césares chamada;
Não da Roma que havia antigamente
Mas sim da dos Silveiras cá formada.
Tendes palácios onde mesmo em frente,
Com vossa permissão nunca negada
Em pelota se banha o vil gentio
Nas águas do Mapunda, enorme rio.

VIII
Como sois um estudante exemplar
Da cabulice amigo dedicado,
Os mestres resolveram premiar
O aluno mais antigo e calejado,
É só esta a razão a lamentar
Porque já foste muita vez "chumbado",
Mas não vos importeis, de não ser urso,
Pois cadeira a cadeira, faz-se um curso!

IX
E a vós, maconginos, companheiros
Das célebres paródias da noite alta,
Vós que nas aulas éreis os "primeiros"
Vós que toda a semana dáveis falta,
A vós que éreis espertos e matreiros,
Melhores dentre os melhores de toda a malta
Vos dedicamos est'obra para lerem
P'ra não mais de Maconge se esquecererem.

X
Já pela rua vão os estudantes
Em grupos conversando mui contentes,
E uns nas boas notas confiantes
Não sentem da raposa já os dentes,
Outros há que dos grupos vão distantes
Por causa das más notas dos seus "lentes",
Triste fim o deste ano de canseiras
Que nós passámos todo em brincadeiras!

XI
As "feras" no liceu vão reunir,
Na mão a muito suja caderneta
Todos vão preparados para abrir,
E p'ra mandar a malta p'ro maneta.
Alguns começam já por se sorrir
E trocam impressões. Mas a sineta
Ordena que comece a reunião,
E p'ra mesa calados todos vão.

XII
Lá estava o reitor alto e corcorvado
Ao peso da "bicanca" mui comprida;
E também o Mendonça já sentado
A pança tendo ao alto muito erguida.
O Miranda de pé estava apoiado
Naquelas suas pernas de torcida.
Enfim, lá estavam todos os algozes
Que nos fazm sofrer dores tão atrozes.

XIII
Mas já dum canto eleva a voz pausada
Aqueles de todos mais esclarecido.
E co'uma calma já bastante usada
Diz o pedante muito convencido:
"Benevolência, não demasiada
Pois o estudante fica aborrecido"
Este conselho assim tão indecente
Faz com que chumbe quase toda a gente.

XIV
E depois de tão bem aconselhados
Começam nossos mestres a ditar
As notas que nos deixam mui zangados
Quando na pauta as vamos encontrar.
Rompem a série os novos esfaimados
Do Mirandinha que nos quere chumbar,
Mas tendo em dois períodos boas notas
Bem longe estamos de ir consertar botas.

XV
Agora o Paiva Júnior que é bondoso
Começa a ditar notas mui honrosas
Mas vem logo o Mendonça pavoroso
E...oh! desdita! Cita-as vergonhosas.
Ao pensar nisto fico bem choroso
Por ver que nem com cábulas manhosas
Conseguimos pôr fim ao nosso estudo,
E junto à pauta eu fico quedo e mudo.

XVI
Da matança porém o fim chegou,
Na pauta escreve agora o bom Vieira
As notas que a mestrança já ditou.
A Juliana tem por companheira
Na obra que o reitor lhe fixou.
As notas lá as põe numa fileira
Em frente a cada nome e sem engano,
Não pode haver trabalho mais insano!

XVII
Agora é o bom Tavares que vem surgindo
A mui funesta pasta sobraçando,
E na parede a põe com gesto lindo!
E junto à dita e para ela olhando,
Alguns dos estudantes vão sorrindo,
Porém vão-se outros já bem lamentando,
Uma vez mais os hão assim gatado
E o pranto que os desfaz, todo é baldado.

XVIII
Alguns crónicos já no reprovar
Por se verem passados se admiram.
Todos, os parabéns lhes vêm dar
Espantados e felizes do que viram,
Satisfeitos começam a cantar
Mas na secretaria as "feras" miram,
Pois se p'ro ano se não agarrarem
É mais certo chumbados eles ficarem.

XIX
Dos crónicos alguns vou nomear
P'ra que o leitor os possa conhecer.
Por alcunhas e nomes vou tratar
Os cábulas famosos, a saber:
O Rita que o Liceu há-de chorar,
O César com a "checa" de temer
O Mesquita também que todo ufano
O nobre nome tem de Marques Mano.

XX
"Jambone e o seu Bucéfalo" afamado,
O Trino do Armada bom amigo,
O Homero, o eterno reprovado,
Como o Jaime dos livros inimigo.
Marques Pires, o Pedante perfumado,
Tal qual o Lucas e o Petrónio antigo.
É preferível contudo aqui ficar
Para eu em mim próprio não falar.

XXI
Vamos agora à malta estudiosa.
Ao tentar as alcunhas mencionar
(Daquela estudantada mui briosa)
Ante meus olhos passam a saltar
As notas que a tornaram tão famosa.
Exemplo bem difícil de imitar,
Mas Mendonça terrível, Lucas forte,
De todos é o chumbo a triste sorte.

XXII
No cimo desta lista tão honrosa
O de Alves Fernandes aparece.
A seguir, o da Zélia orgulhosa
Das notas que apanha o que merece.
Depois o de pessoa estudiosa,
João da Esquina, nome que não esquece.
Osvaldo, aluno muito esclarecido
E dono dum "penante" conhecido.

XXIII
Barão da Baviera, o perseguido,
Depois o jovem duque de Belmonte,
Segue-se o Rei, nos versos conhecido
Pois bebeu já da Beócica Fonte.
De outro o nome vem, que foi vencido,
P'lo Mendonça, que dá chumbos a monte.
E em seguida os menos importantes
Da dita lista de bons estudantes.

XXIV
Como os alunos são já conhecidos
Os seus feitos passemos a narrar.
Falemos dos hérois desconhecidos
Daqueles que não farto de cantar.
Se estes terminar e forem lidos
Verão que feitos são de admirar.
E cantarei p'ra que saiam da lama,
Espalhando pelo mundo muita fama.

XXV
A fala dum aluno mau estudante
Antes porém eu quero descrever;
Eis que indo em boas notas confiante
Sem medo a pauta fúnebre foi ver.
Em Inglês gatado. Era o Brilhante.
Pois claro, outro não podia ser.
Então a maldição tirou do peito,
Maldição que caiu no tal sujeito.

XXVI
Oh! glória de chumbar,oh! triste sorte,
Assim atiças tu do ódio a chama.
Tu, Bicancas tirano de má morte
Que só em gatar criaste fama,
Levarás no nariz um soco forte
Tão forte que parar irás à cama,
Agravado também terás um calo,
Além de coisas mais em que não falo.

(*)(cf. Primeira Edição, de 1959, Agosto, nas Festas da II Confraternização da Antiga Malta do Liceu. Autorizadas a circular, por Sua Majestade Severíssima, D. Caio Júlio Cesar da Silveira.)
Marcadores: 1959, CÉSAR PAULO DA SILVA, RUI FERREIRA COELHO

Fonte: Blogue "PoeMaconge"

Sem comentários:

Related Posts with Thumbnails