via PoeMaconge by noreply@blogger.com (José Jorge Frade) on 7/18/08
Da parte donde a noite vem morrendocom Sines se avizinha; mas o rio
que do interior alentejano vai rompendo
enche a mulola onde o Vice-Rei teve frio
quando a tipóia real se ia perdendo
no tabaibal imenso do vasto senhorio.
O Baronete lembra-se já das arenosas
terras do Namibe, tão saudosas.
Pelo chão escondido a tipóia real
aos solavancos ia andando na terra dura
tão áspera eram as picadas, por sinal
bem próprias para tudo o que é aventura.
Envoltos todos na poeira fina do areal
anseiam já, esfomeados, pela mansão segura
onde o banquete com manjares desusados
apresenta chincúio, bacalhau e patos estufados.
O grão-Duque do Lubango determina
com palavras altas de Louvor
que um antigo macongino se destina
a ocupar um alto cargo de pendor:
Ministro Plenipotenciário será a sina
de quem até hoje foi Itinerante Embaixador.
Parido no Deixa-o-Resto por Decreto-Lei
espera-o a Fama e a Glória na nossa Grei.
Levantando-se D. Canduzeiro meneando
três vezes a cabeça branca e descontente,
a voz pesada aos poucos engrossando
vai chegando até nós solenemente.
E disse ao Secúlo de aspecto venerando
antes preferir ser Embaixador da plebeia gente
do que contentar o Vice-Rei com o ofício novo,
ser ministro de nobres e não do povo.
Lançando a mão de uma caixa que continha
suspiros de neve da D. Alexandra Portela
o Plenipotenciário Ministro como convinha
distribui os doces pelos nobres que amá-lo
passaram, porque na memória o gesto se retinha.
E as cornucópias do Gavino, ao recordá-lo
D. Saraiva d'Oliveira falou de sua fama
na Huíla, o Grão-Sobado que se proclama.
Também foi vista imagem acesa
de Moçâmedes, a flor d'areia se apartando
no corpo levando a Welwitchia presa
qual polvo verde da secura triunfando.
O namibeano deserto ia com firmeza
do corpo fresco do Planalto s'encostando
oferecendo sua fauna rica e diferente
num alambamento enorme ao Poente.
A Torres Vedras proclamou o Soberano
Mulemba Frondosa de copa rara
onde se refresca o sedento humano
e se banha na água doce e clara
aquele que veio do sertão africano.
Ali, onde o divino néctar molhara
num Oásis gargantas mil
dois meses iam para além d'Abril.
Vou cantando o Povo que se admira
por ter vencido a guerra que o assolou.
Mesmo em terra estranha as forças tira
do corpo que longos caminhos calcorreou
Neste ano que cem cacimbos o Lubango atira
ao Destino que duramente o marcou,
o Povo acalenta a dor nos maconginos braços
fortes na tradição dos chicoronhos Paços.
Vai de vira, ó vira, ó vira, ó vira
mas que grande e belo compinchão
que bem comporta e longe atira
na garganta seca o meu quinhão!
Primeiro camarada, ó vira, ó vira,
ó que calor, que gostosa sensação,
e o Baronete do Namibe compõe na lira
a canção que a Grã-Duquesa lhe pedira.
E agora, de nomes probos e de usança
novos e vários são os habitantes:
o Barão das Mornas o copo já avança
para o líquido de vapores estonteantes
e o "Príncipe dos Trovadores" lança
no pergaminho palavras ressonantes.
E a manhã foi nascendo sem cor
pois desmaiada estava já a poética flor.
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