Teus olhos entristecem.
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem…
Nao me ouves, e prossigo.
Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez…
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que es.
Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.
Continuo a falar.
Continuas ouvindo
O que estas a pensar,
Já quase não sorrindo.
Até que neste ocioso
Sumir da tarde fútil,
Se esfolha silencioso
O teu sorriso inutil.
Fernando Pessoa - Cancioneiro
Fonte: Blogue "31 da Armada" - post de 13Jun2008
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