quarta-feira, 26 de agosto de 2009

TENHO UMA SAUDADE TÃO BRABA

Tenho uma saudade tão braba
Da ilha onde já não moro,
Que em velho só bebo a baba
Do pouco pranto que choro.

Os meus parentes, com dó,
Bem que me querem levar,
Mas talvez que nem meu pó
Mereça a Deus lá ficar.

Enfim, só Nosso Senhor
Há-de decidir se posso
Morrer lá com esta dor,
A meio de um Padre Nosso.

Quando se diz «Seja feita»
Eu sentirei na garganta
A mão da Morte, direita
A este peito, que ainda canta.

In: "Caderno de Caligraphia e outros Poemas a Marga",livro inédito de Vitorino Nemésio (1901-1978), com edição de Luiz Fagundes Duarte, Lisboa: IN-CM, 2003

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