As manhãs de Campamento
vinham ter comigo à cama,
com as rajadas de vento
da Serra de Guadarrama.
De Campamento me lembro
sete dias na semana.
Panorama friorento...
Nevoento panorama...
O suor do esquecimento
já aos poucos se derrama
sobre o rosto do Convento,
que me chama... Que me chama!...
Convento de Campamento,
pousada samaritana:
— por fora, vento; por dentro,
acalanto e acalento,
à tona de tão mau tempo...,
ao lume de tanta lama.
Foi-me palco de advento
e adro de muito drama.
Confiei-lhe o meu lamento.
Solfejou-me o seu hosana.
(O meu último rebento,
que a três «manos» — mais — se irmana,
é natural do Convento
de Campamento; e lá dentro
teve berço, colo e... mama).
Cobrou lá, chama e alento.
Lá, ganhou alento e chama,
como em qualquer sonolento
regaço de velha ama.
Lá lhe grangeei sustento;
e, grão a grão, grama a grama,
lá lhe meti boca dentro
a papa quotidiana.
(Era de escasso alimento
essa niña franciscana...)
Revejo-a, a todo o momento,
de xalinho e em pijama,
no xadrês do pavimento
do Convento, que a aclama
— mesmo se o seu turbulento
feitio de catavento
desponta por la mañana.
Lá «gatinhou» a contento...
Lá, colheu mimos... e fama.
Lá lhe modelou o tempo
seu perfil de filigrana.
Ai dias de Campamento,
cinzelados a cinzento...,
bordados de renda e rama...,
na cerca desse Convento
que, adentro de mim adentro,
se protege do relento
da Meseta castelhana!...
Ora absorto, ora atento
ao isento isolamento
que azuladamente o banha,
alevanta-se o Convento —
, ali, naquele epicentro
espiritual da Espanha...
— ...Alevanta-se o Convento;
e levita, paira, plana...
, como que a dar tempo ao tempo
e montanhas à montanha!...
Convento de Campamento,
minha tenda de campanha
entranhada serra dentro,
mas que a serra desentranha
num girassol de cimento —
— armado — por — quem — no — ama:
— Mete a proa a contravento,
e faz, como as naus do Gama,
guerra ao tempo
e à moirama!...
Ai tardes de alheamento...
Serões de noite serrana...
Ai tempo à prova de tempo,
no bento recolhimento
das faldas de Guadarrama!
Ai tardes de alheamento
— e manhãs de cinerama!...
De Campamento me lembro
sete dias na semana.
Persiana... Paramento...
Paramento e persiana...
O suor do esquecimento
já aos poucos se derrama
sobre o rosto do Convento
que me chama...
... Convento de Campamento,
templo de Marte e Diana,
a impôr ao firmamento —
com expressões de nirvana...
— seu recorte corpulento,
seu aspecto macilento,
sua fronte soberana...
Fonte: Blogue "Nova Frente" - post de 16Ago2009
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