No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada.
Uns por verem rir os outros
E outros sem ser por nada
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada...
No comboio descendente
Vinham todos à janela
Uns calados para os outros
E outros a dar-lhes trela
No comboio descendente
De Cruz Quebrada a Palmela...
No comboio descendente
Mas que grande reinação!
Uns dormnindo, outros com sono,
E outros nem sim nem não
No comboio descendente
De Palmela a Portimão
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
No comboio descendente
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Sinceridade
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
TENHO UMA SAUDADE TÃO BRABA
Voz imortal
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Tocando em Frente
Em homenagem e em memória de um jovem bonito - "Gabriel Buchmann".
Rui Moio
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Lembrança
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Meninos e Meninas
terça-feira, 18 de agosto de 2009
BALADA DE CAMPAMENTO
As pátrias doentes / Não prendem os poetas. Para quê?
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
MELECA (Lilian Maial)
Ela rola e ela dança,
Dá cambalhota risonha,
Pára num canto e descansa,
E nos faz passar vergonha.
Quando se mostra pro mundo,
Vem gargalhada no fundo,
Dessa cara de pamonha.
A vida tem desses lances:
Hora de rir e chorar.
Tem hora até pros romances,
Tem hora até pra estudar!
Mais chata é a hora do banho,
Se eu não tomar, eu apanho,
Depois, quem quer acabar?
Começa a lavar criança!
Lava o pé e a sobrancelha,
Lava o sovaco e a pança,
Lava bumbum e a orelha.
Não esquece da careca,
Lava o sapo e a perereca,
Assim mamãe aconselha.
Quando eu acabo e me seco,
Vou pingando pro meu quarto,
Mamãe quase tem um treco,
Dia desses tem um infarto,
Leva todo a roupa suja,
Me penteia de lambuja,
Seu beijinho eu não descarto.
E assim, limpo e cheiroso,
Parecendo uma boneca,
Vou pra rua até o almoço,
Brincar levado da breca.
Até virar gozação,
Da turma do quarteirão,
Por causa dessa meleca!
Volto sujo e fedorento,
Algo triste e aporrinhado,
Suado, nariz escorrendo,
Dos amigos, afastado.
Olham pra mim, dizem: - Eca!
Mas da gostosa meleca,
Não vou ficar separado!
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Vítor Duarte Marceneiro... Diz Janela da Vida de Carlos Conde
Vítor Duarte Marceneiro, diz o poema "Janela da Vida" da autoria de Carlos Conde, com fundo musical da Fado Viela de Alfredo Marceneiro. Foi gravado em 1994 no 1º aniversário da SIC.
Este poema foi feiro para o repertório de Alfredo Marceneiro em 1926, mas foi proibido pela censura.
"JANELA DA VIDA"
Letra de: Carlos Conde
Música: Marcha de Alfredo Marceneiro
Para ver quanta fé perdida
E quanta miséria sem par
Há neste orbe, atroz ruim
Pus-me à janela da vida
E alonguei o meu olhar
P´lo vasto Mundo sem fim.
Pus todo o meu sentimento
Na mágoa que não se aparta
Do que mais nos desconsola;
E assim a cada momento
Vi buçaes comendo à farta
E génios pedindo esmola!
Vi muitas vezes a razão
Por muitos posta de rastos
E a mentira em viva chama;
Até por triste irrisão
Vi nulidades nos astros
E vi ciências na lama!...
Vi dar aos ladrões valores
E sentimentos perdidos
Nas que passam por honradas
Vi cinismos vencedores
Muitos heróis esquecidos
E vaidades medalhadas
Vi no torpor mais imundo
Profundas crenças caindo
E maldições ascendendo
Tudo vi neste Mundo
Vi miseráveis subindo
Homens honrados descendo
Esse é rico, e não tem filhos
Que os filhos não dão prazer
A certa gente de bem
Aquele tem duros trilhos
Mas é capaz de morrer
P´los filhinhos que tem
Esta é rica em frases ledas
Diz-se a mais casta donzela
Mas a honra onde ela vai
Aquela não veste sedas
Mas os garotitos dela
São filhos do mesmo pai
Por isso afirmo com ciso
Que p´ra na vida ter sorte
Não basta a fé decidida
P´ra ser feliz é preciso
Ser canalha até à morte
Ou não pensar mais na vida.
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Viagem
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Bairro Social do Arco do Cego
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
NÃO SEI QUANTAS ALMAS TENHO
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu."
Sentires Sentidos contemplado com o Prémio "Blog de Ouro"
sábado, 8 de agosto de 2009
Maria José Praça - Poetisa
Lisboa é chão de rua
Hambanine Moçambique
Quando nos juntamos, rompemos o dique
Da saudade imensa que vem tanta vez
Trazer nostalgia, lembrar Moçambique;
Na escola aprendemos que era Português.
Como tal, nós o amamos,
Ali trabalhámos,
Lançámos raiz,
Na machamba ou na cidade,
Fomos na verdade
Quem fez o País.
Com que displicência somos "retornados"
Quais cartas dispersas d'humano baralho!
Com que ligeireza fomos 'spoliados
De teres e haveres fruto do trabalho.
Sem tempo de transição
P'rá livre opção,
Partir ou ficar?
Hoje no País dos coqueiros,
Estão estrangeiros
No nosso lugar.
Quem não viveu lá, é que não entende
Os fraternos laços entre afro e mulungo!
O mago feitiço que sempre nos prende,
Mesmo separados pelo mar jucundo.
Se recordar é viver,
Eu gosto de ter
Mil recordações
Do País a Oriente…
E da sua gente
Que cantou Camões.
Cocuanas, hambanine!
Esfanhanes, hambanine!
Às mamanas hambanine!
Aos mufanas, hambanine!
Viagem ao Sul
Esta beleza agonizante do Cuanhama
espraiando-se até à linha do horizonte
como um tapete estafado
que se desfaz sob os nossos pés
fala-me de guerras passadas e de reinos
já dos homens olvidados…
Morrem como a terra as tradições
numa infinita tristeza
numa apática indiferença
que magoa como uma lembrança triste.
Secam as cacimbas, as talas, o capim
só não secam as lágrimas.
Só não morre em mim esta pungente
faculdade de sofrer junto com a terra.
É por isso que eu gosto de cá vir
e é por isso que me custa vir aqui
e ver alvejar a carcassa daquele boi
que morreu o ano passado!
E os paus caídos nos eumbos poeirentos
e os gongueiros sem folhas nem frutos
secos, secos como os braços dos mutiátis…
É por isso que me custa vir aqui!
Sofro e compreendo
O Cuanhama que busca em vão a esperança
que o sol inclemente lhe arrancou
da terra que lentamente se recusa
aos nossos passos.
Aqui, na areia
Aqui, na areia
Aqui, na areia,
Sentada à beira do cais da minha baía
do cais simbólico, dos fardos,
das malas e da chuva
caindo em torrente
sobre o cais desmantelado,
caindo em ruínas
eu queria ver à volta de mim,
nesta hora morna do entardecer
no mormaço tropical
desta terra de África
à beira do cais a desfazer-se em ruínas,
abrigados por um toldo movediço
uma legião de cabecinhas pequenas,
à roda de mim,
num voo magistral em torno do mundo
desenhando na areia
a senda de todos os destinos
pintando na grande tela da vida
uma história bela
para os homens de todas as terras
ciciando em coro, canções melodiosas
numa toada universal
num cortejo gigante de humana poesia
na mais bela de todas as lições
HUMANIDADE.
Fonte: Blogue "O Lupango da Jinha" - post de 04Ago2009
Carta de Um Contratado
Eis de repente ...
Eis de repente ...
..... eis de repente
do Lépi a chuva densa
alturas de Nambunagongo
Silongo de Mandume
Chanas que pisei no leste
Maiombe de lendas infindáveis
O ar livre de poeiras dos escombros
Reabre sonhos escondidos na agonia
A velha da tchimanda
Dá o nome de David
E o da Miete
Aos meninos que encontrou
Na estrada
No Tchinguluma
Ouvem-se as abelhas zumbir
Em torno das cores perto do rio
Também viram no Mufupu
Jeremias a cobrir a casa
Com capim novo da chama
Lukau vinda do norte
Trouxe abacates no pano e ofereceu-os
Olhos brilhantes húmidos felizes
Disseram-me hoje
Há folhas verdes outra vez
Nos ramos da loncha da Emanha
Nas mangueiras do salundo
Vozes falam do milho a germinar
No Huma e na Cativa
Passaram os anos em que a morte
Venceu todas as batalhas
Finalmente agora pouco a pouco
Começa a vida a vencer a guerra
Fonte: Blogue "O Lupango da Jinha" - post de 02Ago2009
A vida é bela
Quero, um dia, dizer às pessoas que nada foi em vão...
Que o amor existe,
que vale a pena se doar às amizades e às pessoas,
que a vida é bela sim
e que eu sempre dei o melhor de mim...
e que valeu a pena.
Fonte: Blogue "O Lupango da Jinha" - post de 02Ago2009