domingo, 12 de outubro de 2008

Não fui, na infância, como os outros
e nunca vi como outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar de fonte igual à deles;
e era outra a origem da tristeza,
e era outro o canto, que acordava
o coração para a alegria.

Tudo o que amei, amei sozinho.
Assim, na minha infância, na alba
da tormentosa vida, ergueu-se,
no bem, no mal, de cada abismo,
a encadear-me, o meu mistério.

Veio dos rios, veio da fonte,
da rubra escarpa da montanha,
do sol, que todo me envolvia
em outonais clarões dourados;
e dos relâmpagos vermelhos
que o céu inteiro incendiavam;
e do trovão, da tempestade,
daquela nuvem que se alteava,
só, no amplo azul do céu puríssimo,
como um demônio, ante meus olhos.

Fonte: Blogue "Lupango da Jinha" - post de 01Out08

1 comentário:

Kalaari disse...

Magnífico poema! Se a solidão na vida de cada um de nós já é triste, o quanto doerá na infância! Constituirá ela uma sombra, ou antes, umas algemas que irão deixar
marcas indeléveis?
mk

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