quinta-feira, 10 de junho de 2010

António Manuel Couto Viana (1923-2010)

Nota
António Manuel Couto Viana, um homem que comecei a admirar pela sua poesia patriótica e nacionalista quando eu tinha apenas uns 14 ou 15 anos. Após o 25 de Abril de 1974 admirei-o ainda mais por se manter integro e coerente perante todas as campanhas que lhe moveram para o silenciarem.
Há menos de três anos tive o privilégio e a suprema honra de o conhecer pessoalmente. Então, apercebi-me da sua grande humanidade e simplicidade. De admirador, tornei-me amigo e amigo para sempre.

O que resta da nossa nação acaba de perder um dos maiores vultos nacionais de todos os tempos. A nossa Pátria está muito mais pobre com a perda deste homem de letras e de virtudes. Perdeu-se também um homem que, nestes tempos de cobardia e negação da Pátria, se manteve como um homem de "H" grande.
Obrigado meu poeta e meu mestre.
Rui Moio

via Comunidades - RTP by Irene Maria F. Blayer on 6/9/10

"O escritor António Manuel Couto Viana morreu esta tarde aos 87 anos no Hospital de Santa Maria, em Lisboa."(via Público 8-6-2010).



As nossas condolências à família de António Manuel Couto Viana.


Este é um momento de forte emoção, e em homenagem a este grande poeta, escritor, dramaturgo, ensaísta, encenador e tradutor, deixamos o leitor com estes links do Público, e da Associação Portuguesa de Poetas (http://appoetas.blogs.sapo.pt/) onde se destaca referência à sua obra.
Da sua poesia saliento e transcrevo aqui este poema que António Manuel Couto Viana dedicou ao seu querido Amigo, Eduíno de Jesus. É natural que os seus amigos se sintam com os mesmos sentimentos de quem está de luto.

Ilha de São Miguel
Para Eduíno de Jesus

António Manuel Couto Viana


Vejo os romeiros da Semana Santa
Atravessando os campos plo sol-posto:
O cajado na mão; ao ombro, a manta,
E a fé em cada rosto.

Na alba do domingo, assisto
(Ainda luzem estrelas)
À missa cantada ao Senhor Santo Cristo,
Entre a pompa dos oiros, flores e velas.

À porta do Convento da Esperança,
Rezo ao banco de Antero.
A sua alma, em paz, ali descansa,
Depois do tiro do desespero.

E a paisagem bucólica,
Com lagoas de névoas e frescuras,
Melancólica,
Escorre das alturas.

Até onde o olhar se perde,
Vacas pretas e brancas
Mancham o pasto verde,
De úberes túmidos, de pesadas ancas.

Tão alvas e tão azuis, nas bermas das estradas,
As hortenses floriram os fuzis liberais,
Por serem dessas cores as bandeiras ousadas
Que iriam invadir as areias e os cais.

Enfeitam-na, também, as rosas do Japão
(Vai-lhe bem o cetim!).
E respira da boca do extinto vulcão
Hálitos de jardim.

Nas Furnas,
Arde o coração da terra.
E, das caldeiras soturnas,
Um fumo sobe, ondula e erra.

Fui ao Nordeste, um dia,
Comer cracas, beber vinho de cheiro,
Enquanto a Ilha bebia
Nevoeiro.
E porque não beber chá
(Chá chinês da Gorreana):
O Oriente que dá
Delicadeza à flora açoriana?

Beber, na estufa, até, um sumo de ananaz,
Como um sol ruivo, acre e tropical
Que ao severo da Ilha satisfaz
a sede sensual.

No sabor das bananas, que novos exotismos!
Verdes, se verdes, depois, doiradas,
Frente a espessuras, prados, abismos,
Fontes, levadas...

Ilha a emergir da espuma,
Sê sinal de salvação:
Traz-me, perdido na bruma,
El-Rei Dom Sebastião.

(20.2.08)

António Manuel Couto Viana "Sobre Eduíno de Jesus". Eduíno de Jesus: A ca(u)sa dos Açores em Lisboa - homenagem de amigos e admiradores. Eds. Onésimo T. Almeida e Leonor Simas-Almeida. Terceira: IAC, 2009. 32-33.

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