quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Sá da Bandeira

Retouçando louça nas espaladas da Chela
Sá da Bandeira tem
Policormias, fulgências, feitios e transparências
De um pratinho de Louça
De Rouen.

Mal ainda o sol aflora no horizonte, já ela -
Nas faces da manhã - a frescura do clima
No sangue de luz - uma alegria vermelha e sonora
Que a terra óptima produz - já ela
Pela voz argentina dos regatos e das levadas
Canta a cavatina da Fertilidade
Que lhe ensina a fonte
Da Senhora do Monte!...

Cidade académica! Cidade que marca
Nos passaarinhos da criançada
Que a caminho da Escola
As ruas jubila
Nos passos firmes dos jovens do Liceu
O ritomo inicial da marcha em crescendo
Do progresso da Huíla! Do progresso de Angola!
Em, Sá da Bandeira,
Maravilho-me do estupendo manifestar dos elementos:
- as chuvas torrenciais, o estrondo do trovão,
a fogagem poética do vento
voando a tua saia azul - do azul do céu...
e pondo ao léu as rendas-nuvens da tua combinação...

Amo, Sá da Bandeira,
Os cormos miniaturais
Da tua paisagem:
- o felpo verde-pompa da capa cinzewnta
que assenta na lomba fria dos teus morros, e alfombra
o entre-casario devoluto
dos teus bairros...
O abandono humilde e hirsuto
dos teus eucaliptais...
As devesas... as tuas hortas... os teus pomares...
E o reposteiro simpático de trepadeiras
Espreguiçando-se em flores nas tranqueiras
E escondenbdo a intimidade ciosa dos teus lares...
Adoro a graça mansamente provinciana
E apaixonante
Dos grupos de tuas moças
Passeando em torno do jardim municipal
A bondade envolvente e amorosa dos teus crepúsculos
E sob o olhar cansado e vigilante
Do senhor Câmara Leme...

Amo-te, enfim, na harmonia pictórico-sinfónica
Das tuas louçanias
Fulgências
Sonidos
E Transparências
De um...
pratinho de louça
de Rouen...

Viriato da Cruz - (1 de Novembro de 1951, Jornal de Angola , ano I, nº. 6, 27.5.1954).
Fonte: "Angola - Viriato da Cruz - o Homem e o Mito" de Edmundo Rocha, Francisco Soares e Moisés Fernandes

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