Quero escrever-me de homens
quero calçar-me de terra
quero ser
a estrada marinha
que prossegue do último caminho
e quando ficar sem mim
não terei escrito
senão por vós
irmãos de um sonho
por vós
que não sereis derrotados
deixo-vos
a paciência dos rios
a idade dos livros que não se desfolham
mas não lego
mapa nem bússula
porque andei sempre
sobre meus pés
e doeu-me às vezes viver
hei-de inventar
um verso que vos faça justiça
por ora
basta-me o arco-íris
em que vos sonho
basta-me saber que morreis demasiado
por viverdes de menos
mas que permaneceis sem preço
companheiros
Mia Couto - Janeiro de 1984
Fonte: Blogue "A Matéria do Tempo" - post de 18Jun2006
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