sexta-feira, 26 de março de 2010

Nambuangongo em Maio

Então cheguei
E eram casas
de madeira, roupa
secando sua lama
no arame em volta /

uma igreja deserta / os cães
que vinham farejar meus pés
impregnados ainda
de Luanda, mar

(mas conta, conta até ao fim:)
eram homens nas casas
e fora delas e em volta
por dentro do arame, outros
que vinham vindo e vindo
da solidão

com cigarros ardendo /
eis-me então cercado
diante das casas e em volta
descobria agora
os sinais efémeros:
lama, roupa,

enquanto tais e outras
tremendas bocas me instruíam
sobre tanto mistério
e eram (repete:) casas,
(repete:) morros, cães,
a cachorrinha Quibala
que me lambia mordia quase

e em volta: esse cheiro
das latrinas ao ar
cercando a igreja branca
(das quais?) da qual
pude salvar um verso
escrito no primeiro dia

»além dos nomes o sopro da manhã».

Fernando Assis Pacheco, in Catalabanza Quilolo e Volta, Coimbra, 1976, págs, 17 e 18

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