Fui polícia, fui soldado,
Estive fora da Nação,
vendo jogo, guardo gado,
Só me falta ser ladrão!...
Vejo a arte definida
na forma de escrever
o bem ou o mal que a vida
nos faz gozar ou sofrer
Traz-me num desassosego
o alívio à minha cruz
ando tal qual o morcego
ao deparar com a luz
Ó quem me dera, sozinho
e em quatro vezes somente
cantar ao mundo inteirinho
a mágoa de toda a gente
Desprezo o que eles preferem
porque quero ser sincero
e quero o que eles não querem
Por não quererem o que eu quero
Não sei o que de mim pensam
quando me vêem chorar
mas quero que se convençam
que a dor também faz cantar
Para que não te iludas
com amigos pensa nisto:
foi com um beijo que Judas
levou à Cruz Jesus Cristo
Negociando viveste
tens dinheiro e excelência
são coisas que recebeste
a troco da consciência
****
Sou humilde, sou modesto;
Mas, entre gente ilustrada,
Talvez me digam que eu presto,
Porque não presto p’ra nada.
Eu não tenho vistas largas,
Nem grande sabedoria,
Mas dão-me as horas amargas
Lições de filosofia.
Tu não tens valor nenhum,
Andas debaixo dos pés,
Até que apareça algum
Doutor que diga quem és.
À guerra não ligues meia,
Porque alguns grandes da terra,
Vendo a guerra em terra alheia,
Não querem que acabe a guerra.
Depois de tanta desordem,
Depois de tam dura prova,
Deve vir a nova ordem,
Se vier a ordem nova.
Eu não sei porque razão
Certos homens, a meu ver,
Quanto mais pequenos são
Maiores querem parecer.
Vemos gente bem vestida,
No aspecto desassombrada;
São tudo ilusões da vida,
Tudo é miséria dourada.
Os novos que se envaidecem
P’lo muito que querem ser
São frutos bons que apodrecem
Mal começam a nascer.
Fonte: in Sociedade Histórica da Independência de Portugal
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
Quadras
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