segunda-feira, 26 de novembro de 2007

A IGREJA DE MUCABA

Igreja de Mucaba - bastião
de Portugal à beira do abismo
derradeiro reduto da Nação
num mar de banditismo.

Na fronteira altiva, imaculada,
ao alto, a cruz de Cristo. Bem cimeira
tremula, heróica, verde e encarnada,
da Pátria, a Bandeira.

A gente de Mucaba, ali reunida
aguarda decidida, audaz e estóica,
o momento cruel da arremetida
à sua vida heróica.
A hora má chegou. Hora sombria.

A noite cai; a névoa está cerrada.
Estrondos, gritos, ais, fuzilaria.
e um ulular satânico de orgia
da canalha alucinada.

A igreja é um fortim. Cada janela
é bastião de luta heróica e brava.
Em mar de fogo avulta a cidadela:
a Igreja de Mucaba.

Horas febris decorrem, lentamente,
em desespero enérgico, vibrante.
o cerco, cada vez mais envolvente,
instante após instante.
P-19 . No ar uma mensagem:
- "aqui fala Mucaba,
luta-se corpo a corpo, com coragem,
a munição acaba.
O socorro pedido, sem chegar.
Nestas horas febris, cruéis, incalmas,
vamos morrendo, aos poucos, devagar.
Irmãos de Portugal, mandai rezar,
encomendai a Deus as nossas almas!".

Calou-se a voz no éter lá distante.
a angústia em cada peito se desola;
Vibram de angústia os corações de Angola!
Angola inteira escutou
este apelo lancinante.
E nesse cruel instante
Angola inteira ajoelhou,
Angola inteira rezou.

Rezou pela Pátria amortalhada,
pelos homens de génio intemerato
que de alma forte e de arma engatilhada,
ao sol, à chuva, aos ventos da nortada
são vigias do mato.

Ó Povo Português! Ó alma forte,
que não vergas ao horror cruel e duro!
Sabes erguer mais alto do que a Morte
luminoso futuro!

Ergueste a Pátria amada ao apogeu
da Honra e da Glória.
Escreveste nos mármores da História
mais um feito mortal que te faltava,
mostrando ao mundo inteiro, à Terra e ao Céu
a Igreja de Mucaba.

Assim tombam Heróis!
Com a mesma impassível dignidade
em que vemos rolar astros e sóis
no infinito azul da eternidade.

Vibrou no éter uma voz distante:
"Mucaba heróica, eterna, resistia".

Angola inteira, Angola palpitante
chorava de alegria.
Mucaba é um padrão. Outros iguais
nascem por esses matos.

Com nobreza,
Angola vive as horas imortais
criadas pelos rijos Viriatos
da Raça Portuguesa.

A Igreja de Mucaba é reduto sagrado,
altivo Monumento Nacional:
Mansão de Heróis, de peito nobre e ousado,
dignos de Aljubarrota e de Salado!


[Poemas do Tempo Disperso, 1962]

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