quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Hino da Mocidade Portuguesa

Lá vamos cantando e rindo
Levados levados sim
Pela voz do som tremendo
Das tubas clamor sem fim

Lá vamos que o sonho é lindo
Torres e torres erguendo
Clarões, clareiras abrindo
Alva de luz imortal
Que roxas névoas despedaçam
Doiram os céus de Portugal

Querer querer e lá vamos
Tronco em flor estende os ramos
À mocidade que passa

Cale-se a voz que turbada
já de si mesmo, se espanta.
Cesse dos ventos, a infâmia
ante a clara madrugada,
em nossas almas nascida.

E por ti, ó Lusitânia,
corpo de Amor, Terra Santa.
Pátria, serás celebrada
e por nós, serás erguida.
Erguida ao alto da Vida.
Lá vamos, cantando e rindo

Canto de Natal

O nosso menino
Nasceu em Belém.
Nasceu tão-somente
Para querer bem.

Nasceu sobre as palhas
O nosso menino.
Mas a mãe já sabia
Que ele era divino.

Vem para sofrer
A morte na cruz,
O nosso menino.
Seu nome é Jesus

Por nós ele aceita
O humano destino :
Louvemos a glória
De Jesus menino.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

CAMISA VELHA

Mãe! Vesti uma camisa nova
da velha camisa que vestiu meu Pai
Dizem que a luta é ali na rua.
- Vou ou não vou?!
- Filho, vai!

Dizem para eu ter cautela,
que o inimigo é feroz e desumano
e que foi ele que matou meu Pai.
- Vou ou não vou?!
- Filho, vai!

Ameaçam de punhos fechados
ou empunham foices e martelos
e ai daquele que nas mãos lhes cai.
- Vou ou não vou?!
- Filho, vai!

Vai! Com a camisa velha
que antes de ti a vestiu teu Pai
e com ela vestida, se foi a combater
vai! Que as últimas palavras,
camisa vestida, foram para ti:
- Diz ao nosso filho que saiba morrer!

Partiu. Partiu e nunca mais voltou
Para estar presente na alvorada que nascia:
morreu por aquilo que lutou,
por que nascesse um novo dia!

O novo dia em que tu vestiste
a camisa nova que foi de teu Pai.
- Não tenhas medo.
A teu lado vai
a presença do exemplo
que te deu teu Pai:
-Meu filho! Veste essa camisa
e vai!

INSCRIÇÃO

Entre poemas sem mote
edificara casas e reinos
que oceanos e mares avisara
de longas navegações,
e entre essa gente outros versos armara
de remoto fogo santo
ardendo mais além de outra cabana;
entre perigos e terras
de esforçadas acções alguns poemas juntara,
e de tão secreta trama
armara de poesia o seu programa.

[Portuguesimentos]

GANDEMBEL, NATAL 68

Esta linguagem amara
do silêncio mordendo
o coração; o voo leve
da noite, e a navalha
da saudade cortando
a memória - como se
o parco murmúrio
do capim viesse comer
a atenção das armas;
ou como se o tempo
parado no abrigo,
por todos os lados
repartisse a lembrança
de nós próprios.
Mordemos o coração,
e vem o mover leve do silêncio
que nos vai colhendo;
murmuramos o SEU nome.

[O Corpo da Pátria - Antologia Poética da Guerra do Ultramar]

A IGREJA DE MUCABA

Igreja de Mucaba - bastião
de Portugal à beira do abismo
derradeiro reduto da Nação
num mar de banditismo.

Na fronteira altiva, imaculada,
ao alto, a cruz de Cristo. Bem cimeira
tremula, heróica, verde e encarnada,
da Pátria, a Bandeira.

A gente de Mucaba, ali reunida
aguarda decidida, audaz e estóica,
o momento cruel da arremetida
à sua vida heróica.
A hora má chegou. Hora sombria.

A noite cai; a névoa está cerrada.
Estrondos, gritos, ais, fuzilaria.
e um ulular satânico de orgia
da canalha alucinada.

A igreja é um fortim. Cada janela
é bastião de luta heróica e brava.
Em mar de fogo avulta a cidadela:
a Igreja de Mucaba.

Horas febris decorrem, lentamente,
em desespero enérgico, vibrante.
o cerco, cada vez mais envolvente,
instante após instante.
P-19 . No ar uma mensagem:
- "aqui fala Mucaba,
luta-se corpo a corpo, com coragem,
a munição acaba.
O socorro pedido, sem chegar.
Nestas horas febris, cruéis, incalmas,
vamos morrendo, aos poucos, devagar.
Irmãos de Portugal, mandai rezar,
encomendai a Deus as nossas almas!".

Calou-se a voz no éter lá distante.
a angústia em cada peito se desola;
Vibram de angústia os corações de Angola!
Angola inteira escutou
este apelo lancinante.
E nesse cruel instante
Angola inteira ajoelhou,
Angola inteira rezou.

Rezou pela Pátria amortalhada,
pelos homens de génio intemerato
que de alma forte e de arma engatilhada,
ao sol, à chuva, aos ventos da nortada
são vigias do mato.

Ó Povo Português! Ó alma forte,
que não vergas ao horror cruel e duro!
Sabes erguer mais alto do que a Morte
luminoso futuro!

Ergueste a Pátria amada ao apogeu
da Honra e da Glória.
Escreveste nos mármores da História
mais um feito mortal que te faltava,
mostrando ao mundo inteiro, à Terra e ao Céu
a Igreja de Mucaba.

Assim tombam Heróis!
Com a mesma impassível dignidade
em que vemos rolar astros e sóis
no infinito azul da eternidade.

Vibrou no éter uma voz distante:
"Mucaba heróica, eterna, resistia".

Angola inteira, Angola palpitante
chorava de alegria.
Mucaba é um padrão. Outros iguais
nascem por esses matos.

Com nobreza,
Angola vive as horas imortais
criadas pelos rijos Viriatos
da Raça Portuguesa.

A Igreja de Mucaba é reduto sagrado,
altivo Monumento Nacional:
Mansão de Heróis, de peito nobre e ousado,
dignos de Aljubarrota e de Salado!


[Poemas do Tempo Disperso, 1962]

Glosas

Eu comecei com jeitinho
A compor o ramalhete;
Primeiro foi com azeite
E depois foi com cuspinho.
No começo era estreitinho,
Custava o pincel a entrar...
Começa a dona a gritar:
"Não me parta a tigelinha",
Mas que coisa engraçadinha,
Fui uma noite pintar...

Comecei devagarinho...
Quando fui ao outro mundo
Meti o pincel ao fundo
E parti o canequinho.
Até mesmo o pincelinho
Veio de lá todo pintado,
Eu já estava desmaiado,
Perdendo as cores do rosto;
Mas pintei com muito gosto
Com um caneco emprestado.

Vem a mãe toda zangada:
"Tem que pagar-me a vasilha...
No caneco da minha filha
Não pinta você mais nada...
...Lá isto, a moça deitada,
Sem poder levantar-se,
Com tanta tinta a pingar
No lugar da rachadela!..."
"Diga lá, que desculpe ela,
Eu pintei sem reparar!"...

Pra que vejam que sou pintor
E meu pincel nunca deixo;
Pra que saibam que o Aleixo
Não é somente cantor...
Também pinto qualquer flor
E faço qualquer bordado;
Mas aqui o ano passado,
Perdi, de pintar, o tino...
Fui pintar, fiz um menino,
Pintei e fiquei pintado.

Fonte: In Sociedade Histórica da Independência de Portugal

Quadras

Fui polícia, fui soldado,
Estive fora da Nação,
vendo jogo, guardo gado,
Só me falta ser ladrão!...

Vejo a arte definida
na forma de escrever
o bem ou o mal que a vida
nos faz gozar ou sofrer

Traz-me num desassosego
o alívio à minha cruz
ando tal qual o morcego
ao deparar com a luz

Ó quem me dera, sozinho
e em quatro vezes somente
cantar ao mundo inteirinho
a mágoa de toda a gente

Desprezo o que eles preferem
porque quero ser sincero
e quero o que eles não querem
Por não quererem o que eu quero

Não sei o que de mim pensam
quando me vêem chorar
mas quero que se convençam
que a dor também faz cantar

Para que não te iludas
com amigos pensa nisto:
foi com um beijo que Judas
levou à Cruz Jesus Cristo

Negociando viveste
tens dinheiro e excelência
são coisas que recebeste
a troco da consciência

****
Sou humilde, sou modesto;
Mas, entre gente ilustrada,
Talvez me digam que eu presto,
Porque não presto p’ra nada.

Eu não tenho vistas largas,
Nem grande sabedoria,
Mas dão-me as horas amargas
Lições de filosofia.

Tu não tens valor nenhum,
Andas debaixo dos pés,
Até que apareça algum
Doutor que diga quem és.

À guerra não ligues meia,
Porque alguns grandes da terra,
Vendo a guerra em terra alheia,
Não querem que acabe a guerra.

Depois de tanta desordem,
Depois de tam dura prova,
Deve vir a nova ordem,
Se vier a ordem nova.

Eu não sei porque razão
Certos homens, a meu ver,
Quanto mais pequenos são
Maiores querem parecer.

Vemos gente bem vestida,
No aspecto desassombrada;
São tudo ilusões da vida,
Tudo é miséria dourada.

Os novos que se envaidecem
P’lo muito que querem ser
São frutos bons que apodrecem
Mal começam a nascer.

Fonte: in Sociedade Histórica da Independência de Portugal

DISCURSO

O homem não nasce livre,
Torna-se livre, é diferente.

Abandoná-lo à sua sorte,
É um crime, - não convém.

O Estado, a Escola, a Família,
São necessários à vida
Do que souber ser alguém.

Não partir da liberdade,
Mas caminhar para ela.

Só assim o homem de hoje
Pode vir a merecê-la.

[Baionetas da Morte]

LEGENDA

Óh Pátria mil vezes Santa,
- Meu Portugal, minha terra,
Onde vivo e onde nasci!

Na tua História me perco,
E nela tudo aprendi.

Mesmo que fosses pequena
E eu te visse pobre ou nua,
- Ninguém ama a sua Pátria por ser grande,
Mas sim por ser sua!

[Baionetas da Morte]

PROCISSÃO - Procissão em Honra do Senhor Jesus das Necessidades

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a Procissão.

Mesmo na frente, marchando a compasso,
De fardas novas, vem o solidó.
Quando o regente lhe acena com o braço,
Logo o trombone faz popó, popó.

Olha os bombeiros, tão bem alinhados!
Que se houver fogo vai tudo num fole.
Trazem ao ombro brilhantes machados,
E os capacetes rebrilham ao sol.

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Olha os irmãos da nossa confraria!
Muito solenes nas opas vermelhas!
Ninguém supôs que nesta aldeia havia
Tantos bigodes e tais sobrancelhas!

E que bonitos que vão os anjinhos!
Com que cuidado os vestiram em casa!
Um deles leva a coroa de espinhos.
E o mais pequeno perdeu uma asa!

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a Procissão.

Pelas janelas, as mães e as filhas,
As colchas ricas, formando troféu.
E os lindos rostos, por trás das mantilhas,
Parecem anjos que vieram do Céu!

Com o calor, o Prior aflito.
E o povo ajoelha ao passar o andor.
Não há na aldeia nada mais bonito
Que estes passeios de Nosso Senhor!

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Já passou a Procissão.

Fonte: In Sociedade Histórica da Independência de Portugal
http://form.ship.pt/

Nota Pessoal
Imaginem este poema declamado pelo João Villaret...
Rui Moio

Je ne regrette rien de Edith Piaf

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Um dia (com voz de José Ramos)



Fonte: Blogue Random Precision - post de Luís Rodrigues de 21Nov2007

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

A Cigarra e a Formiga





Tendo a cigarra, em cantigas,
Folgado todo o verão,
Achou-se em penúria extrema,
Na tormentosa estação.
Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
Foi valer-se da formiga,
Que morava perto dela.

– Amiga – diz a cigarra–
Prometo, à fé de animal,
Pagar-vos, antes de Agosto,
Os juros e o principal.

A formiga nunca empresta,
Nunca dá; por isso, junta.

– No verão, em que lidavas?
– À pedinte, ela pergunta.

Responde a outra: – Eu cantava
Noite e dia, a toda a hora.

– Oh! Bravo! – torna a formiga
– Cantavas? Pois dança agora!

La Fontaine (1621-1695)

domingo, 18 de novembro de 2007

Partindo-se

Senhora, partem tão tristes
Meus olhos, por vós, meu bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.


Tão tristes, tão saudosos,
Tão doentes da partida,
Tão cansados, tão chorosos,
Da morte mais desejosos
Cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes os tristes,
Tão fora de esperar bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Angola é Nossa

Angola é nossa
Angola é nossa, Angola é nossa
Angola é nossa

Ó povo heróico Português
Num esforço estoico outra vez
Tens de lutar, vencer, esmagar
A vil traição
P'ra triunfar
Valor te dá o teres razão

Angola é nossa gritarei
É carne, é sangue da nossa grei
Sem hesitar, p'ra defender
É pelejar até vencer

Aos invasores
Castigar com destemor
Ancestral
Deter, destroçar
Vencer, escorraçar
E gritar

Angola é nossa,
Angola é nossa, é nossa
É nossa
Angola é Portugaaaaal!

Cerca de um mês após os primeiros embarques de tropas para Angola a emissora Nacional (EN) emitia «Angola é Nossa», interpretada pelo Coro e Orquestra da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (F.N.A.T.)

sábado, 3 de novembro de 2007

De tarde

Naquele piquenique de burguesas
Houve uma coisa simplesmente bela
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da marenda
O ramalhete rubro das papoulas!

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