quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Ode ao Corvo

Ó Senhor Mistério que comigo agora estás,
Levanta-te desta poltrona, amigo,
Nunca, jamais, te esqueças do que digo,
Oculte de minha mente meus sonhos infernais,
Nunca me faças padecer na dor, de ter
Aqui comigo, esses tormentos tais...

Olhes ao fundo da taça que te ofereço,
Bebas, pois este é o sangue dos imortais,
É chegada à hora de inundar a garganta e
Lubrificar estas cordas vocais
Para o canto do ilustre corvo de Poe...

És tu amigo, este pássaro que choras
Nos espaços dos meus umbrais
Pela musa Lenora que se foi...

Conheço a tua saudade esmagadora,
Já me perdi na vida de aventuras,
Fui ferido pela musa da Ternura,
Cantei somente uma vez e nada mais...

Olhes atentamente o retrato que te incomoda
Vês nele as minhas digitais?
Pois bem! Estimado companheiro,
Já amei o teu amor não amo mais...

Este coração que guardo no peito
Foi tomado por forças tais
De um escorpião de tamanho feito
Que me enlaçou de tal jeito
Fazendo-me um dos seus amores mortais...

Minha alma hoje clama a força
Ó ave feia e escura que aqui estás
Tu, somente tu criatura noturna,
Ouviste este canto desabafo declarante.
Costure neste bico a tua língua delirante
Para que tua voz nunca mais
Ouse explanar essas fraquezas fatais...

Entreguei-me a filha de Novembro,
Àquela bela cujos cachos negros
Enfatizei nos meus sonhos perfeitos
Deixando-me domar pelos desejos materiais...

Busquei estrelas num céu com gosto de mel,
Cobrir-me com o manto da paixão
Grafei o nome Talita neste coração
Simbolizando meus desejos sensacionais...

Fiz desta querida e novel musa
A deusa guardiã da Supremacia Imortal...

Ó pássaro das escuras
A lucidez está a me esperar...
Adeus senhor das plumas,
Espero ver-te nunca mais.


domingo, 21 de fevereiro de 2010

Alma Viva

Uma vida em segundos, como num filme de ação...
Uma vida que se arrasta, por anos de solidão...
Uma vida que emociona...como num filme de amor..
Uma vida desesperada, como uma cena de terror...

Quantas manhãs são floridas, num acordar estupendo...
Quantas manhãs são sofridas, num coração se perdendo...
Quantas manhãs são sentidas, são curtidas, são amores...
Quantas manhãs são sem vida, sem sentido, são rancores...

Quantas tardes que se passam, num caminhar, num crescer...
Quantas tardes de tristeza, num lamentar, num sofrer...
Quantas tardes são alegrias, de encontros, de calor..
Quantas tardes fracassadas, só escombros, só há dor...

Quantas noites de luar, de sorriso, no olhar...
Quantas noites na penumbra, sem ternura, só chorar...
Quantas noites de aconchego, que se vai, sem se notar...
Quantas noites sem dormir, vendo a vida se esgotar...

Fonte: Blogue "Recanto das Letras" - post de 20Fev2010 - Código do texto: T2096651

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Hino da Legião Portuguesa

Nós teremos que vencer...
Nada temos a temer
Da invasão comunista.
Já existe a Legião,
Ao vento solta o pendão,
Dá combate ao anarquista.
Não voltamos ao passado,
Acabou o revoltado,
Disso temos a certeza;
E mais tranquilos andamos
Porque todos confiamos
Na Legião Portuguesa.
Reparai no seu marchar,
Os braços a oscilar,
Elevando a mão ao peito.
Garbosos e aprumados,
São verdadeiros soldados da ordem e do respeito.
Ele é um soldado unido,
Quer na paz ou quer no perigo,
O seu lema é avançar.
Respeita o seu comandante,
Gritando sempre:
Avante!
Por SALAZAR! SALAZAR!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

EINSTEIN

Para falar com Deus na intimidade,
em tom familiar,sem reticências,
há que deixar de lado as excelências
e dialogar com naturalidade.

Sendo-nos dada a oportunidade
de ter acesso às suas audiências,
importa que nas nossas confidências
usemos da maior sinceridade.

Como o sábio judeu leu nas estrelas,
a mente do Arquitecto do Universo
é simples, se calhar, como são elas.

Dá-me, Senhor! o dom de me expressar
como se eu fosse apenas o reverso
da tua natureza... elementar!


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Se eu morrer de manhã

via As Causas da Júlia by juliacoutinho@gmail.com (Júlia Coutinho) on 2/4/10

Se eu morrer de manhã
Abre a janela devagar
E olha com rigor o dia que não tenho

Não me lamentes. Eu não me entristeço:
Ter tido a noite é mais do que mereço
Se nem conheço a noite de que venho.

Deixa entrar pela casa um pouco de ar
E um pedaço de céu
O único que sei.

Talvez um pássaro me estenda a asa
Que não saber voar
Foi sempre a minha lei.

Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que não tenho
E do mistério nada te direi.

Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
Pois não estar é da morte quanto sei.

Rosa Lobato de Faria
(20.4.1932 - 2.2.2010)

Soneto do Empreendedor: discípulo de si mesmo

via Insistimento by Marcos Rezende on 2/3/10

Acorda, arregala os olhos e já pensa em trabalho,
Sustentar-se somente já não é seu real sentido.
Pois mesmo cansado, se esforça e pisa no assoalho,
Carregando consigo o medo que tornou-se seu amigo.

Medita, toma café e se debruça na mesa de problemas,
Soluções, equações, somas e divisões.
Múltiplos da sua criatividade, criam seus teoremas,
Donos das suas idéias e das suas criações.

Sonhos, controvérsias e leituras desconexas.
Fazem dele não só um, mas o um.
Que não se dando por vencido, persegue a si mesmo como inimigo.

Dia após dia, noite após noite.
Discípulo e mestre se unem no mesmo ser.
Para retirar da terra com foice, aquilo que faz por merecer.

Marcos Rezende é consultor, coach, escritor e empreendedor da área de tecnologia e internet à frente da Noxion. Através do projeto Insistimento trabalha conscientizando pessoas sobre seus talentos inatos apoiando-as a buscarem na profissão e no empreendedorismo uma forma de servir ao mundo sendo a diferença que desejam para ele.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Numa paz podre / Parida na fuga e na cobardia

Numa paz podre
Parida na fuga e na cobardia
Num tempo sem volta
Apenas se espera sobreviver
Escondendo continuamente
A mágoa da paz podre
Que eles fizeram
Pensando apenas neles
Não pensando em nós
Esqueceram avós e netos
E os camaradas de armas
Ou por outro jeito
Em séculos e séculos
E em todos os continentes
Por eles e por nós
Viveram e tantos morreram
Com honra e glória.

Numa paz podre
Parida na fuga e na cobardia
Resta só a nostalgia
De um tempo de honra e de glória.

Não podemos continuar
A calar a revolta
Que nos queima e nos desonra.

Não deixemos
Que as ruas e as praças
Se encham de nomes vergonhosos
De gente que não merece ser desta Nação.

Não os cantemos
Não os queremos no Panteão
Mas também não os esqueçamos
Como se não tivessem existido

Matemo-los
Com todas as facas que temos
Façamos a eles
O que eles nos fizeram
Façamos nós,
Os que ainda estamos vivos
A justiça que os mortos merecem
De todos os continentes da Nação
Propositadamente desfeita
Por gente
Que esconde com a palavra “Liberdade”
Tamanha maldade e traição.

Rui Moio, elaborado a 07Dez2009 pelas 11h40 no restaurante Sabores do Mediterrâneo

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Jô Soares no Aniversário de Álvaro de Campos

Jô Soares no Aniversário de Álvaro de Campos

via MEMÓRIAS by Raimundo Narciso on 1/31/10
Jô Soares veio a Portugal e trouxe o seu espectáculo Remix em Pessoa.



ANIVERSÁRIO
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham de mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças,
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino.
O que fui – ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas)
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça,
com mais copos
O aparador com muitas coisas – doces, frutas, o resto na sombra debaixo
do alçado -,
As Tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje não faço anos.
Duro.
Somam-se-me os dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
[Álvaro de Campos]

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