Ó Senhor Mistério que comigo agora estás,
Levanta-te desta poltrona, amigo,
Nunca, jamais, te esqueças do que digo,
Oculte de minha mente meus sonhos infernais,
Nunca me faças padecer na dor, de ter
Aqui comigo, esses tormentos tais...
Olhes ao fundo da taça que te ofereço,
Bebas, pois este é o sangue dos imortais,
É chegada à hora de inundar a garganta e
Lubrificar estas cordas vocais
Para o canto do ilustre corvo de Poe...
És tu amigo, este pássaro que choras
Nos espaços dos meus umbrais
Pela musa Lenora que se foi...
Conheço a tua saudade esmagadora,
Já me perdi na vida de aventuras,
Fui ferido pela musa da Ternura,
Cantei somente uma vez e nada mais...
Olhes atentamente o retrato que te incomoda
Vês nele as minhas digitais?
Pois bem! Estimado companheiro,
Já amei o teu amor não amo mais...
Este coração que guardo no peito
Foi tomado por forças tais
De um escorpião de tamanho feito
Que me enlaçou de tal jeito
Fazendo-me um dos seus amores mortais...
Minha alma hoje clama a força
Ó ave feia e escura que aqui estás
Tu, somente tu criatura noturna,
Ouviste este canto desabafo declarante.
Costure neste bico a tua língua delirante
Para que tua voz nunca mais
Ouse explanar essas fraquezas fatais...
Entreguei-me a filha de Novembro,
Àquela bela cujos cachos negros
Enfatizei nos meus sonhos perfeitos
Deixando-me domar pelos desejos materiais...
Busquei estrelas num céu com gosto de mel,
Cobrir-me com o manto da paixão
Grafei o nome Talita neste coração
Simbolizando meus desejos sensacionais...
Fiz desta querida e novel musa
A deusa guardiã da Supremacia Imortal...
Ó pássaro das escuras
A lucidez está a me esperar...
Adeus senhor das plumas,
Espero ver-te nunca mais.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Ode ao Corvo
domingo, 21 de fevereiro de 2010
Alma Viva
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Hino da Legião Portuguesa
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
EINSTEIN
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Se eu morrer de manhã
Se eu morrer de manhã
Abre a janela devagar
E olha com rigor o dia que não tenho
Não me lamentes. Eu não me entristeço:
Ter tido a noite é mais do que mereço
Se nem conheço a noite de que venho.
Deixa entrar pela casa um pouco de ar
E um pedaço de céu
O único que sei.
Talvez um pássaro me estenda a asa
Que não saber voar
Foi sempre a minha lei.
Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que não tenho
E do mistério nada te direi.
Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
Pois não estar é da morte quanto sei.
Rosa Lobato de Faria
(20.4.1932 - 2.2.2010)
Soneto do Empreendedor: discípulo de si mesmo
Acorda, arregala os olhos e já pensa em trabalho,
Sustentar-se somente já não é seu real sentido.
Pois mesmo cansado, se esforça e pisa no assoalho,
Carregando consigo o medo que tornou-se seu amigo.
Medita, toma café e se debruça na mesa de problemas,
Soluções, equações, somas e divisões.
Múltiplos da sua criatividade, criam seus teoremas,
Donos das suas idéias e das suas criações.
Sonhos, controvérsias e leituras desconexas.
Fazem dele não só um, mas o um.
Que não se dando por vencido, persegue a si mesmo como inimigo.
Dia após dia, noite após noite.
Discípulo e mestre se unem no mesmo ser.
Para retirar da terra com foice, aquilo que faz por merecer.
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Marcos Rezende é consultor, coach, escritor e empreendedor da área de tecnologia e internet à frente da Noxion. Através do projeto Insistimento trabalha conscientizando pessoas sobre seus talentos inatos apoiando-as a buscarem na profissão e no empreendedorismo uma forma de servir ao mundo sendo a diferença que desejam para ele.
domingo, 7 de fevereiro de 2010
Numa paz podre / Parida na fuga e na cobardia
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Jô Soares no Aniversário de Álvaro de Campos
Jô Soares no Aniversário de Álvaro de Campos
ANIVERSÁRIO
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham de mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças,
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino.
O que fui – ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas)
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça,
com mais copos
O aparador com muitas coisas – doces, frutas, o resto na sombra debaixo
do alçado -,
As Tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje não faço anos.
Duro.
Somam-se-me os dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
[Álvaro de Campos]