sábado, 27 de outubro de 2007

Cara al Sol




"Cara al sol con la camisa nueva
que tú bordaste en rojo ayer,
me hallará la muerte si me lleva
y no te vuelvo a ver.

Formaré junto a mis compañeros
que hacen guardia sobre los luceros,
impasible el ademán,
y están presentes en nuestro afán.

Si te dicen que caí,
me fui al puesto que tengo allí.

Volverán banderas victoriosas
al paso alegre de la paz
y traerán prendidas cinco rosas:
las flechas de mi haz.

Volverá a reír la primavera,
que por cielo, tierra y mar se espera.

Arriba escuadras a vencer
que en España empieza a amanecer."

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Dez de Junho

"Os homens que caíram em combate,
E que o poder político ignora,
Verão, um dia, ser chegada a hora
De os sinos os saudarem a rebate.
Os nomes que os mais novos desconhecem,
Calados, por vergonha ou cobardia,
Serão, por fim, cantados algum dia,
Co' as honras e respeito que merecem.

Será o "Dez de Junho" restaurado
Em festa, que honrará toda a Nação,
Lembrada, com orgulho, do passado.

Cantar-se-á então, por todo o lado,
Num misto de saudade e gratidão,
O Homem que morreu por ser soldado."

Fonte: In Blogue Orgulhosamente Só

sábado, 6 de outubro de 2007

A História Lusa

As goesas despertam
Os fundos subterrâneos
Imersos naquele sonho antigo
Do eixo da história lusa.

As goesas sugerem
Rendas verdes dos tamarineiros,
Nos doze cruzeiros da via sacra.

Os gestos das goesas
Lembram movimentos de coqueiros,
Ondulando velas latinas
Nos contornos secos do vento.

O mistério e o feitiço,
Que flutuam no meu olhar,
Tornaram cativas as armas
De Albuquerques, de Castros e de Gamas.

Os labirintos da história
Navegam a enxurrada das monções,
Chegam ás margens do Índico
Fermentam ainda a expansão.

Sê tu

Nas asas da Samotrácia,
Sobe a maré alta
E corta todos os ares
Em todas as direcções.
Se te procurares
Encontrar-te-ás.
Na forma autêntica
Da coexistência
No vector do futuro.
O passado não é o teu tempo,
O presente esse também não.
Segura o amanhã,
Faz dele um aqui e agora.
Sê tu...
E não todos e nenhum.

Mensageiro gentil

Mensageiro gentil
Tão cedo partes
Desta Roma do Oriente.

Sete mil léguas de mar,
Sete mil léguas de tormentas,
Sete mil léguas de recados
Que nunca mais serão chegados.

Mensageiro gentil,
Na histórica Diu,
Suspende o olhar
Para além do mar.
Na estrela cadente
Meu pensamento
Vai procurar.

Escuta, sou seu

Se ouvires o eco
Responder aos teus pensamentos,
Não perguntes quem é,
Escura, sou eu.

Nas noites cálidas,
Quando ouvires o silêncio,
Escuta, serei eu a dizer-te...

Quando o sibilar das balas
Rasgarem o ar,
Repara, eu estou contigo.

Quando na floresta
Sentires as sombras da noite,
O rastejar das serpentes,
Os estalidos das folhas secas,
O piar das aves nocturnas,
Repara, eu estou contigo.

Oh! Precisarei eternidades
Para vestir as galas
E bordar os sonhos
O dia do teu regresso.

Agora, só posso dizer
Estás lá em qualquer parte
E eu sinto-te.

Eu espero-te

Sei que não virás,
Sei que nada dirás,
Mas eu espero-te.

Sei que passaste
Antes de eu chegar,
Mas eu espero-te.

Sei que outros antes de mim
Te esperaram
E não te encontraram,
Mas eu espero-te.

E tu não virás,
E algo de mim terá partido,
Mas eu espero-te.

Sou mulher

Ao redor do Sol,
A terra deu muitas voltas.
Pus-me ao leme da barca.
Não sou timoneira, mas sou mulher.

Há tormenta, há escolhos,
Controversos são so ventos,
Conseguirei amainá-los
Não sou timoneira, mas sou mulher.

Sopram ventos do Oriente
Dão tréguas os do Ocidente
Não tartadarei a acalmá-los
Não sou timoneira, mas sou mulher.

Será fantasia de Prometeu?
Ou de Nero uma loucura?
Apagarei o fogo da barca
Não sou timoneira, mas sou mulher.

Serão cheias? Será dilúvio?
Há que salvar a barca
Pus-me ao leme
Não sou timoneira, mas sou mulher.

Recados ao Sul

Enfuna as velas timoneiro,
E leva as minhas proas,
As mais belas da minha fantasia.
Engalona a minha frota,
Que é tempo de partir,
Norte acima até ás brumas,
Às brumas das decisões,
Com esperanças em popa,
Leva as velas bordadas
Com segredos do vento
E murmúrios de meresia.
O leme já porfia
Em suster o fio de ariana
Nos labirintos da vida.

Entrega recados do Sul,
Nas margens do Douro,
E no abandono da âncora
Segura minha coragem de continuar.

Mãos plenas de ser

Mãos que tocam.
Mãos que vêem.
Mãos que pensam.
Mãos que decidem.
Mãos que cortam.
Mãos que exterminam.
Mãos que falam.
Mãos que observam.
Mãos que prendem.
Mãos que afagam.
Mãos que enxugam.
Lagrimas secas fugidias.
Mãos que semeiam
Flores no ar
Mãos plenas de ser.

Esperar

Quantas! Quantas horas lentas!
Passadas, vividas, perdidas,
Agarradas a uma esperança
Que continuam a esperar
A possiblidade duma partida
Esperada, adiada, arrastada.

Ali a equilibrar
Todo o peso dum dia,
Um dia de vazios,
Magoados, dilacerados
Na esprança de esperar
A possibilidade duma partida
Que não acaba de chegar.

Ao lado do asfalto,
Mesmo ali no empedrado,
No meio da multidão.
Na solidão das horas que passam,
Vi a vida passar
Num drama de esperar
De mais um dia que passa.

Desencontro com a vida

Numa só bonina perdi jardins,
Numa só centelha perdi sóis,
Num instante perdi o mundo,
Não encontrei nada errado,
Cheguei tarde? Cheguei cedo? Não sei,
Talvez me tenha desencontrado da vida.

Aqui, além, outrora,
Chego tarde,
Hoje, ontem, e sabe-se lá
Se amanhã também
Chegarei tarde.
Não encontrei nada errado,
Estava tudo certo,
Cheguei tarde? Cheguei cedo? Não sei,
Talvez me tenha desencontrado da vida.

Projectos de ser

Sete poemas
Sete dúvidas
Sete apostas
Na poesia.

Sete ceetezas
Sete esferas
Sete buracos
Nos céus.

Sete sentidos
Sete signos
Sete metáforas
Em mim.

Minha angústia
È não ser livre
Quando escolho
E sigo.

Minha rosa-dos-ventos
Indica paragens distantes,,
Minhas naus estão pesadas.
Serão projectos de ser?
Desejos de completude?
Pesa muito a liberdade
E o destino de ser livre
Minha morte não será ponto final.

As origens

Não sou do Norte,
Não sou do Sul,
Minhas raízes
Pu-las ao vento.

Eu sou do país
Para onde as caravelas
Partiram e não voltaram.
Para trás deixaram,
No cais, nuas as colunas
A olhar para o céu.

À luz da Lua desgrenhada,
As caravelas suas proas
Foram mergulhar
Nas ondas de ternura
De rainhas da noite.

O começo

O ventre da minha mãe
Houvera já arredondado
Por três vezes,
E dentro dele
Despontavam sóis,
Que iluminavam
A sua existência.

Depois em grito exangue,
Ardendo na tormenta,
Esvaziava a maré
Até à preguiça das autoras.

Mas para trás
Já ficava
O entusiasmo do querer.
Para diante,
Seria apenas
O estoicismo do dever.

E nestas marés baixas
Dos sonhos a partirem,
Deu à praia,
Despida de ternunra,
Esvaziada de carinho,
Mais uma existência.
A partir daí
A viver a vida

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