domingo, 6 de março de 2011

Regresso

Nota Pessoal
Ernesto Lara Filho, o autor deste poema, no verso "Quando voltares" refere-se à sua irmã Alda Lara que se encontrava na Metrópole a estudar medicina.
Rui Moio

 Um dia,
Quando voltares, não mais encontrarás à tua espera
a nossa casinha de adobe
da rua principal.

Quando voltares
da Europa, irmã,
hás-de ver ainda
como a cidade mudou…

(Lembras-te das promessas
que fizemos?)

Quando voltares
Não mais encontrarás poesia no quintalão do Zé Guerra
agora transformado
atravessado
assassinado
por uma avenida transversal.

Quando voltares
só terás
Como o deixaste
O Mercado Municipal.

Não mais o Candeeiro
nem a velha lavadeira
O Frederico
esse agora é pintor
do Morais Pontes.

Nem as acácias rubras
hão-de florir
para ti
quando voltares.

“Lembras-te da palmeira
do quintal?
Foi abaixo com duas machadas
No tronco…”

Um dia
quando voltares
Não mais encontrarás
a Benguela que conhecestes
menina ainda
e que aprendeste a amar.

O velho João Correia?
Já morreu…

Quando voltares, afinal
não mais encontrarás à tua espera
a nossa casinha de adobe
da rua principal.

Ernesto Lara Filho, in Crónicas da Roda Gigante, págs 138 a 140.

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