segunda-feira, 7 de março de 2011

O Senhor Administrador


Balalaika amarela com bolsos largos,
Mangas compridas abotoadas,
Calção curto ou calça de perna longa,
Boné claro com emblema da Nação,
Cinturão largo e verde, fivela grande.
Botas pretas da tropa antiga
Sempre engraxadas
Sem grama de pó ou lama das picadas.

Atende sempre quem o procura.
Fazedor de estradas e de pontes de madeira
É médico, é enfermeiro,
É sacerdote, é correio,
É professor de leituras, de agricultura,
É juiz de makas
Conde, Marquês de um território
Que é metade do Puto,
Cabeça da Pátria-Sonho
Que a todos irmana.

Com um misto de realeza
Como um soba grande
Em pose de Império
Vai todo de amarelo
O Senhor Administrador.

Rui Moio, realizado a 25Fev2011 no Moby Caffé, em Odivelas

domingo, 6 de março de 2011

"A Estrela da Manhã" de Manuel Bandeira e "O Agente da Passiva" de Ernesto Lara Filho

A estrela da manhã (de Manuel Bandeira)


Eu quero a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã?
Meus amigos, meus inimigos
Procurem a estrela da manhã.

Ela desapareceu, ia nua.
Desapareceu com quem?
Procurem por toda a parte.

O agente da passiva (de Ernesto Lara Filho)

Eu quero o agente da passiva
Onde está o agente da Passiva?
Meus amigos, meus inimigos
Procurem o agente da passiva.

Ele desapareceu, ia nu
Desapareceu com quem?
Procurem por toda a parte.


Ernesto Lara Filho, in Crónicas da Roda Gigante, pág. 60.

Regresso

Nota Pessoal
Ernesto Lara Filho, o autor deste poema, no verso "Quando voltares" refere-se à sua irmã Alda Lara que se encontrava na Metrópole a estudar medicina.
Rui Moio

 Um dia,
Quando voltares, não mais encontrarás à tua espera
a nossa casinha de adobe
da rua principal.

Quando voltares
da Europa, irmã,
hás-de ver ainda
como a cidade mudou…

(Lembras-te das promessas
que fizemos?)

Quando voltares
Não mais encontrarás poesia no quintalão do Zé Guerra
agora transformado
atravessado
assassinado
por uma avenida transversal.

Quando voltares
só terás
Como o deixaste
O Mercado Municipal.

Não mais o Candeeiro
nem a velha lavadeira
O Frederico
esse agora é pintor
do Morais Pontes.

Nem as acácias rubras
hão-de florir
para ti
quando voltares.

“Lembras-te da palmeira
do quintal?
Foi abaixo com duas machadas
No tronco…”

Um dia
quando voltares
Não mais encontrarás
a Benguela que conhecestes
menina ainda
e que aprendeste a amar.

O velho João Correia?
Já morreu…

Quando voltares, afinal
não mais encontrarás à tua espera
a nossa casinha de adobe
da rua principal.

Ernesto Lara Filho, in Crónicas da Roda Gigante, págs 138 a 140.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Carta de Um Contratado de António Jacinto (declamação de José Ramos)

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